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16-08-2022
A Sérgio o que é de Sérgio
Pela calada de um agosto seco, onde os incêndios marcam a agenda, o Governo – que até já tem direito a um diretor de comunicação - acreditou que somos todos parolos. Pior. Tratou-nos como se fossemos um bando de acéfalos, pouco exigentes, habituados ao jogo do vale tudo. Enganou-se.
A contratação de Sérgio Figueiredo, ex-diretor de comunicação da TVI, não passou despercebida. É tudo demasiado vergonhoso e atentatório da saúde de um País democrático para passar pelos pingos da chuva. Medina decidiu contratar, a preço de ministro, o homem que lhe garantiu emprego e espaço mediático na TVI e que, mesmo perante sucessivas polémicas, lhe permitiu que fosse escapando ao escrutínio jornalístico.
A ida de Sérgio Figueiredo para o Governo só surpreende pelo descaramento e falta de vergonha. Os mais atentos e conhecedores do percurso do jornalista e, em tempos, homem forte do clã EDP, facilmente identificam a proximidade ao PS. Aliás, num momento em que o Governo decidiu lançar uma campanha contra a Ordem dos Enfermeiros, Sérgio Figueiredo esteve na primeira linha, ao permitir que uma reportagem fosse para o ar sem direito a contraditório, atentando contra o meu bom nome e da instituição que dirijo. Sérgio Figueiredo está a ser julgado por isso.
Escrevo sobre este tema, mais de uma semana depois da notícia ter sido conhecida, precisamente porque revolta-me a ideia do esquecimento. Não consigo conviver bem com a certeza de que a polémica dura meia-dúzia de dias e, depois, como que por magia ou indiferença social, dissipa-se na espuma dos dias. Não há consequências. Ninguém se exalta para além do hoje, enquanto o amanhã nasce mergulhado na crescente descredibilização da classe política e jornalística.
Alguns dos indignados de hoje são os mesmos que ignoraram as denúncias de Ana Leal e da sua equipa de investigação. A jornalista alertou para as limitações que Sérgio Figueiredo impunha à liberdade de investigar e informar. Os sinais estavam lá, mas ninguém quis ver, porque o respeitinho a quem tem poder é muito bonito e, no País do assobio para o lado, poucos são os que ser querem incomodar com estas coisas das Liberdades. (Parece que ninguém na TVI aprendeu nada com o que aconteceu no tempo de José Sócrates).
O valor de mercado de Sérgio Figueiredo é inegável. É deste tipo de homens que o poder gosta. Há quem diga que não tem currículo para o novo cargo, mas eu discordo. Para o jeito que dá, o homem tem competência que sobra e está francamente mal pago.
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