Pisar o risco

  • 14-09-2021

Os números colocam a nu as evidências. Só não vê quem não quer. Quase oito mil enfermeiros foram infetados com covid-19 desde o início da pandemia. Para termos noção da dimensão destes dados é preciso ter em consideração que representam mais de 10% dos enfermeiros registados na Ordem.

Não são estes números, só por si, que justificam a necessidade de avançarmos para a aprovação de um subsídio de risco, mas a verdade é que reforçam essa urgência. As infeções por covid-19 vieram recordar o historial de exposição dos enfermeiros a um conjunto alargado de doenças infecto contagiosas. Soma-se a isso o desgaste do trabalho por turnos, o stress e a falta de profissionais. Um cenário que justifica a aprovação, de uma vez por todas e sem hesitações, de um subsídio de risco estável, mensal, duradouro e digno, à semelhança daquilo que acontece com as forças de segurança.

No caso dos enfermeiros, a exposição ao risco não é uma situação conjuntural. Daí não ser possível resolver com prémios pontuais, decididos ao sabor das vontades momentâneas desde ou daquele Governo. Assim sendo, que o dinheiro da bazuca europeia que vem para a Saúde sirva, entre outras coisas, para proteger os recursos humanos e dotá-los de meios para enfrentar o dia-a-dia, estas e outras pandemias.

Enquanto analisamos o risco associado ao covid-19 parece que corre a ideia de que já vencemos esta pandemia. Tenho dúvidas. Os números de casos e mortes diárias apelam à cautela coletiva. Nesse sentido, devíamos aproveitar os centros de vacinação para iniciar e concluir, de forma rápida, segura e confortável, o processo de vacinação da gripe sazonal.

As estruturas que estão montadas constituem uma oportunidade única para pouparmos milhares de pessoas, na maioria idosos, à chuva, ao frio e aos contextos difíceis de muitos centros de saúde. Manter os centros de vacinação abertos por mais um mês, ou menos, significaria um pequeno esforço por um bem maior. Chegados aqui, não custa muito fazer mais um sacrifício em nome dos mais velhos e dos doentes crónicos.

Estarmos à altura do momento significa continuar ao lado dos mais vulneráveis. Estou certa que os enfermeiros concordam comigo e não se importam que lhes peçam mais este esforço. A Portugal dizemos sempre: Presente. 

 

 

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