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06-07-2021
Sem foco
Estamos todos cansados, cidadãos e profissionais de saúde. Esta montanha russa em que se transformou a pandemia está a esgotar-nos e a fazer certos responsáveis perderem o foco, para não dizer o tino e o bom-senso.
Um ano depois de tudo ter começado, os erros de hoje soam às derrapagens dos primeiros dias. Parece que não aprendemos nada. Sucedem-se as mensagens contraditórias. A verdade de hoje é mentira amanhã. Os cidadãos olham para tudo o que se está a passar com cada vez mais desconfiança. A ideia que passa é a de total desnorte em toda a cadeia de comando, se é que isso ainda existe. Num dia, decretam-se limitações à circulação, no dia seguinte, apela-se à ida em massa para Sevilha. Abre-se o Porto aos ingleses e fecha-se a porta dos restaurantes ao fim-de-semana, da parte da tarde, sim, porque o vírus de manhã dorme e desperta depois do almoço. Ninguém entende, talvez porque, na realidade, ninguém sabe a quantas andamos.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa escolheram o pior tema possível para justificar a separação. Que o casamento era de conveniência já todos tínhamos percebido, mas escusavam de utilizar o tema da pandemia para colocar o divórcio à vista de todos. Tem sido penoso assistir, na praça pública, ao esgrimir de argumentos e dúvidas entre as principais figuras do Estado. Salva-se, em parte, o processo de vacinação. Se mais não tem sido feito é porque não há vacinas para aumentar o ritmo da vacinação.
Há uma regra de ouro da comunicação que parece estar a escapar aos responsáveis políticos: se não sabes o que dizer, não digas nada. O silêncio é de ouro em certos momentos, sobretudo de crise. Vivemos todos muito melhor no silêncio do que no constante ruido de contradições, muitas delas fruto de opiniões que nada têm de científico. O bom-senso pede serenidade numa altura em que há muitas dúvidas por esclarecer. As respostas têm de vir da comunidade científica. Até lá, usar máscara, cumprir o distanciamento social, testar e vacinar.
https://www.sabado.pt/autores/detalhe/ana-rita-cavaco
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