Um alerta global

  • 08-06-2021

Já não é apenas um grito local de sindicatos ou avisos de uma Ordem Profissional. O alerta agora é global e surge da própria Organização Mundial da Saúde (OMS). São precisos mais 6 milhões de enfermeiros e é urgente travar a fuga destes profissionais para os países mais ricos.

 

Os dados já estavam lançados, mas a Covid-19 deixou o jogo completamente exposto. A falta de enfermeiros é uma realidade perigosa, sobretudo em países como Portugal, cujos profissionais altamente qualificados são atraídos pelas melhores condições propostas pelos países vizinhos. Estou há mais de quatros anos a avisar para esta dura realidade. Aqueles que me ignoraram, sob a desculpa de que este era um tema sindical, podem agora corar de vergonha. Não são palpites, são factos.

Os dados surgiram na última reunião da Assembleia Mundial da Saúde. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyseus, apelou aos países para investirem nos profissionais de saúde, dos quais quase metade são enfermeiros. “São pessoas incríveis que fazem trabalhos incríveis e em circunstâncias incríveis”, resumiu. Foi este o tom do discurso de abertura e que funciona como o tal grito de alerta global. Países como Portugal não podem continuar a assobiar para o lado. O director-geral da OMS foi ainda mais longe, assumindo que globalmente os profissionais de saúde “carecem de proteção, equipamentos, formação, salário digno e condições de trabalho seguras”.

 

Não existe um panorama de um futuro mais justo, saudável e solidário sem investimento nos recursos humanos da Saúde. Em Portugal, passada a zona brava da tempestade, parece que já ninguém quer discutir o futuro do SNS. À boa maneira portuguesa, só nos lembramos de Santa Bárbara em dia de trovoada.  Não podemos ter medo de levar este debate até ao fim, até porque a Pandemia fez muitos enfermeiros abandonarem a profissão, esgotados, ou serem atraídos pelas melhores condições lá fora. Quanto estamos dispostos a pagar pela Saúde? Como vamos pagar? Através de que modelo? Quais são as prioridades? Não podemos voltar a meter a cabeça na areia. Este é o debate da nossa geração, aqui e noutros cantos do mundo.

 

Se nada for feito, o Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN) avisa que podemos assistir a um êxodo em massa. Uma realidade que faria disparar a escassez global de 6 milhões para cerca de 13 milhões de enfermeiros em todo o mundo. Deixar um País exposto a este fenómeno não é apenas incompetência, é uma enorme responsabilidade. 

 

https://www.sabado.pt/opiniao/detalhe/um-alerta-global

 

 

 

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