Não há bazucas grátis

  • 14-05-2021

Não aprendemos nada com aquilo que nos aconteceu desde a chegada da Pandemia. Às juras de amor eterno ao Serviço Nacional de Saúde, preparara-se agora, na obscuridade de um documento entregue em Bruxelas, mais uma machadada num dos pilares da nossa Democracia. A Troika está de volta, agora disfarçada de Plano de Recuperação e Resiliência. Não há almoços grátis, nem bazucas. Bruxelas faz a transferência dos milhões se colocarmos em prática um plano de reformas na Saúde. Nada de novo. O irónico aqui é ver o Governo socialista, com pés de lã, a apresentar na Europa aquilo que não teve coragem de comunicar aos portugueses e que tanto criticou noutros tempos.

 

António Costa prometeu que não haveria austeridade. É uma questão de semântica. Concentrar urgências em Lisboa e Porto e entregar ao Ministério das Finanças carta branca para avaliar as reformas faz lembrar o guião de um filme antigo que todos vimos e não gostámos. Não é preciso recuar muito no tempo. Depois de tudo aquilo que vivemos no último ano e meio, o melhor que o Governo português encontrou para olhar para o futuro da Saúde é recuperar soluções antigas, gastas e engavetadas.

 

A pandemia colocou a nu as fragilidades de um sistema com fortes assimetrias regionais e demasiado refém da luz verde do Ministério das Finanças. Ora, a solução passa, pelos vistos, por um modelo de acentua essas assimetrias regionais, deixando mais portugueses distantes do acesso a determinados cuidados de saúde. A verdade é que não há recuperação no nosso sector sem a resiliência dos profissionais. E sobre uma política de incentivos e valorização dos recursos humanos, nem uma palavra.

 

A pandemia mostrou-nos que o maior capital que temos são as pessoas. É sobre elas que deve recair parte do investimento que temos de fazer. Mais importante do que o “onde cortar”, é urgente estarmos de acordo sobre o “onde e como investir”. A reforma que o Governo apresenta no PRR passa por maior rigor na avaliação dos administradores hospitalares. Concordo. Ainda assim, dou uma pequena ajuda aos nossos governantes. Antes de serem rigorosos na avaliação, sejam inovadores na nomeação. Se continuarmos a escolher as pessoas em função do cartão do partido, a probabilidade da avaliação ser medíocre é enorme. Fica a sugestão.

https://www.sabado.pt/opiniao/detalhe/nao-ha-bazucas-gratis

 

 

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