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02-03-2021
Proibido voltar a falhar

Proibido voltar a falhar
O pior que nos podia acontecer seria, na Páscoa, cometer o mesmo erro que cometemos no Natal. É por isso que antes de falar de desconfinamento, é preciso olhar para o nível de esforço em que ainda está o Sistema Nacional de Saúde.
O ritmo de diminuição do novos casos diários não é proporcional à redução do número de internados em enfermaria e unidades de cuidados intensivos. Isto é, vai demorar ainda algum tempo para que se sinta um alívio evidente nos serviços e, por consequência, na pressão a que estão sujeitos os profissionais de saúde. É preciso esperar por esse alívio porque é urgente dar resposta aos doentes não covid. É essencial fazer baixar a pressão para baixar a guarda. Não vale a pena saltar etapas.
É óbvio que nenhum País pode viver meses a fio em confinamento, nem transformar o Estado de Emergência no estado natural das coisas. As pessoas não aguentam e a economia também não. E que ninguém se iluda: a economia são também as pessoas. A verdade é que os profissionais de saúde, à beira do esgotamento, não aguentariam uma quarta vaga com igual violência. Nem eles nem o sistema. É também por eles que temos de ter cuidados redobrados na hora de desconfinar.
Agora, mais do que nunca, é preciso provar que aprendemos alguma coisa com tudo isto. Já passou um ano. Não são admissíveis mais erros e faltas de planeamento. O País terá de conhecer com detalhe o plano para desconfinar, desta vez sem medidas contraditórias, assente numa comunicação clara e, de preferência, através de uma única voz. Insistir em mensagens erráticas e conflituantes entre si, outra vez, seria um erro que nos sairia demasiado caro. É preciso critério e é necessário que as pessoas conheçam esses mesmos critérios.
Ao contrário do que possa parecer, ainda temos um longo caminho para trilhar até à tão desejada imunidade de grupo. O plano de vacinação está sujeito a alguns factores externos que não somos capazes de controlar. Vaticinar que chegamos à dita imunidade no início de Agosto, ou noutra data qualquer, nesta altura, é pura especulação. É preciso insistir na testagem em massa e garantir que não se perdem as cadeias de transmissão, porque naquilo que depende de nós temos sempre a opção de não falhar. Estamos proibidos que isso aconteça outra vez.
Leia a opinião quinzenal da Bastonária, Ana Rita Cavaco, na revista Sábado. Artigo exclusivo, agora às segundas-feiras, de duas em duas semanas, no site da Sábado:
https://www.sabado.pt/opiniao/detalhe/proibido-voltar-a-falhar
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