Primeiro a Ciência

  • 17-08-2021

Em matéria de Saúde Pública, ziguezaguear é proibido. A 30 de Julho, depois de António Costa ter anunciado a meta de vacinar mais de 500 mil crianças entre os 12 e os 17 anos, a DGS decidiu não recomendar a vacinação a todos os jovens entre os 12 e os 15 anos. Justificação? Há efeitos secundários por estudar. Ora, o que a ciência ainda não descobriu, não pode a política revelar.
No dia seguinte, o Presidente da República veio dizer que a DGS não tinha dito aquilo que, afinal, tinha dito. Marcelo sublinhou que a decisão era dos pais. Ora, o que a ciência não revela, não são os pais que descobrem. Nem os pais, nem o Presidente. Rapidamente o debate saiu da esfera da ciência para a conversa da política, como se isso fosse aceitável horas depois da autoridade de saúde ter sublinhado que precisava de mais estudos, mais evidências, mais garantias de segurança. Porque é disto que estamos a falar. Dados científicos não são sensações empíricas e não podem ser condicionados por qualquer tipo de agenda.
Sou, desde a primeira hora, uma entusiasta do processo de vacinação em curso. Assumi, também desde cedo, que só a vacina poderia ajudar-nos a virar a página. É a isso que estamos a assistir, devagar, com cautela e sempre baseados na evidência que a ciência vai revelando. É este o caminho e é dele que não nos podemos desviar. É preciso perceber, preto no branco, sem qualquer tipo de dúvidas, a que estudos teve a DGS acesso para mudar de posição em menos de 15 dias. A posição oficial remete-nos para os efeitos reportados em jovens vacinados nos Estados Unidos e na União Europeia, mas esses números já eram conhecidos antes da DGS ter sublinhado que não tinha informação suficiente.
No que diz respeito aos estudos que temos, destacam-se os da Pzifer e da Moderna, que abrangeram cerca de 5 mil jovens, e os trabalhos que foram feitos em Israel e nos Estados Unidos à população com menos de 30 anos, e que nos deram os tais dados preocupantes sobre os efeitos secundários. É este o cenário que serviu de base à primeira decisão da DGS e que justifica a cautela. A pressa é inimiga do bem. Estamos a trabalhar ainda em terreno pouco sólido. Nos últimos 15 dias, entre o bitaite político e os dados científicos, fomos, felizmente, ouvindo quem pedisse paciência. É esse também o apelo que faço. Vamos deixar a ciência trabalhar e revelar os dados que pode revelar, a seu tempo. 
Se não formos capazes de comunicar este processo com clareza, baseado em dados claros, estamos a criar um ruído desnecessário que mina a credibilidade da vacina. 

 

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