Pela força não há argumentos

  • 20-07-2021

Custa-me sempre constatar que vivemos num País que anda a reboque, que não rasga o seu próprio caminho, que espera os ecos vindos de fora para responder. É assim em quase tudo. Somos tendencialmente passivos e reactivos.

Emmanuel Macron anunciou que a vacinação contra a covid-19 vai passar a ser obrigatória para profissionais de saúde que trabalham com pessoas frágeis, em hospitais e lares. O assunto passou para a ordem do dia em Portugal e tornou-se redundante, reduzido a uma dicotomia radical que não acrescenta grande coisa ao actual momento em que vivemos. Vacinação obrigatória, sim ou não? Será este o tempo para uma pergunta deste género quando ainda temos tanto trabalho para fazer? Não.

Muito antes de avançarmos para obrigatoriedades e imposições que a legislação não permite, é preciso perceber que as pessoas só aceitam como obrigatórias coisas nas quais confiam e sobre as quais estão na posse da informação que consideram necessária. É por aqui mesmo que temos de começar: mostrar que as vacinas são seguras e que todos os dias salvam vidas em todo o mundo. Os números são claros e devem ser explicados. Com a actual taxa de vacinação, se há coisa que podemos concluir, sem especulações, é que a vacina quebra as cadeias de transmissão e reduz drasticamente o risco de doença grave e, por consequência, a morte. Do mesmo modo, os mesmos números mostram que os efeitos secundários das vacinas são residuais face ao número de doses administradas. Podemos discutir tudo o resto, menos isto. São factos.

É por isso que me recuso a entrar na discussão sobre a obrigatoriedade da vacina, ainda para mais destinada a um grupo profissional específico. Os combates de saúde pública devem ser feitos pela sensibilização e não pela força. Num momento de cansaço geral como aquele em que vivemos, a imposição é meio caminho andado para a rejeição e revolta.

Se há País que conhece a força da sensibilização na área da saúde, é Portugal. Basta recordar que mais de 90% dos portugueses adere ao Plano Nacional de Vacinação. Por outro lado, o nível de confiança nos enfermeiros, os principais agentes desse processo, está também a níveis consideráveis. Ora, não vale a pena inventarmos a roda nem entrar em radicalismos precipitados. A solução passa por aproveitar o trabalho feito pelos enfermeiros no terreno e informar, sensibilizar, fazer, confiar e tranquilizar. É por aqui o caminho.

 

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