Neste não, só no próximo Orçamento de Estado

  • 26-10-2021

 

Estou muito mais descansada: Vem aí o CEO para o Serviço Nacional de Saúde e os médicos vão ter a oportunidade de se decidir pela dedicação plena. Parece que o Governo descobriu, finalmente, como reabilitar um SNS preso por arames. Ironia pura. Numa altura em que deveríamos estar a discutir o reforço considerável do orçamento para a Saúde e a valorização dos recursos humanos, andamos a propagandear medidas para agradar a grupos específicos.

 

A discussão em torno da dedicação plena dos médicos está enviesada. Na realidade, do que se trata é de um aumento de 40% no salário de uma classe profissional em troca de lugares de chefia no sector privado. A verdade é que tudo o resto pode continuar a ser feito: consultas, urgências, cirurgias, etc. Feitas as contas, dos 220 milhões de euros que a ministra da Saúde destinou para a valorização dos recursos humanos, 200 ficam nas mãos de uma única classe profissional. Não é apenas injusto, é imoral depois do que todos passámos nos últimos dois anos. Os enfermeiros estão cansados desta discriminação e tremenda falta de respeito. Confesso-me profundamente revoltada. Imagino também a profunda desilusão e angústia dos Assistentes Operacionais que têm salários de verdadeira miséria.

 

O Governo também entende, pelos vistos, que as mais variadas estruturas que existem na Saúde não são capazes de colocar a máquina a funcionar com eficiência. Até aqui, não me parece que o Executivo esteja a ver mal o filme. O pior é que esse diagnóstico não se resolve com a criação de mais uma estrutura executiva assente na figura de um CEO. O caminho passa por valorizar o mérito, premiar as boas práticas, destacar quem apresenta resultados ao nível da gestão. Não é preciso criar mais cadeiras para sentar os gestores com o cartão do partido. Foi assim desde sempre. Quem insiste nas mesmas soluções não pode esperar resultados diferentes. Basta que deixem de nomear os do costume que não têm lugar em mais lado nenhum e é preciso dar-lhes um emprego.

 

Enquanto nos acenam com estas medidas, ninguém se lembra que o aumento do orçamento da saúde é três vezes inferior ao que vamos injetar na TAP, que um enfermeiro ganha num mês aquilo que um médico tarefeiro recebe num dia. O Ministério da Saúde escreveu aos Sindicatos de Enfermeiros que este OE não comporta nada para as suas reivindicações, só no próximo. O sistema permanece centrado nos hospitais e não nos cuidados de saúde primários, nem nas pessoas e continuamos a financiar o SNS em função da quantidade de atos prestados e não da qualidade ou resultado dos mesmos.

 

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