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24-05-2022
Tocam as sirenes

Os dias que vivemos são particularmente desafiantes. O mundo corre a passos largos para uma crise alimentar, a reboque da instabilidade geopolítica. Disparam os preços, recuam as economias, perdemos poder de compra e confiança. E por cá? Os efeitos de tudo isto começam a ser evidentes, mas não desapareceram os problemas que, agora perante a conjuntura mundial, parecem antigos. Falo da Saúde, pois claro.
No encerramento do VI Congresso dos Enfermeiros, o Presidente da República referiu-se à “memória curta” de cidadãos e agentes políticos para justificar redefinição de prioridades. Não poderia estar mais de acordo com as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, às quais a realidade cobre de razão. Não é por não abrirem telejornais que as notícias sobre a Saúde não são preocupantes. Na realidade, os novos casos de covid-19 estão a colocar, mais uma vez, uma grande pressão sobre os hospitais, forçando a abertura de mais enfermarias e deixando em casa centenas de profissionais de saúde.
Perante este cenário, o Governo entende que voltar ao uso de máscaras e aos testes gratuitos seria um recuo. Errado. Está na hora de tentar travar esta onda para não haver necessidade de voltar a cancelar cirurgias, por exemplo. Aliás, os dados a que tive acesso mostram uma realidade preocupante no diz respeito à oncologia. No IPO de Lisboa, estão a ser operados doentes cuja cirurgia deveria ter sido realizada em agosto de 2021, perante o desgosto e impotência de profissionais de saúde. Penso que não é necessário entrar em detalhes para que se perceba quais as implicações práticas destes atrasos. A isto, junta-se ainda a chegada de doentes oncológicos aos quais o Centro Hospitalar do Algarve não consegue dar resposta.
Fica então claro que não pode ser agenda mediática a definir a ação política. O mundo corre apesar da televisão e das redes sociais. Há vidas e mortes que não enchem capas de jornais e que, ainda assim, merecem a nossa atenção. O pior que nos pode acontecer, numa altura de sobressalto mundial, é fecharmos os olhos à realidade que temos próxima. Que ninguém se esqueça do que vivemos nos últimos dois anos e do preço que pagámos por termos vacilado em momentos chave. Não podemos cometer o mesmo erro.
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