Um Governo para o PS

29-03-2022
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O novo Governo está aí, aparentemente renovado, mas a cheirar a antigo. Isto porque António Costa esqueceu-se de um pequeno detalhe, os Governos não nascem para servir os partidos, mas o País. O pecado não é novo, de facto, mas nesta equipa executiva nem houve a tentativa de disfarçar. Foi pegar no palanque do último congresso do PS e plantá-lo na mesa do Conselho de Ministros, assim mesmo, sem qualquer pudor.

No próximo Governo de Portugal discute-se a liderança do PS. Estão lá todos, os mais sociais-democratas e os amigos da extrema-esquerda. Ao contrário do que se diz por aí, a equipa não é mais política do que técnica. É, isso sim, mais aparelhista e fiel.

Para as Finanças, Costa quebrou a tradição dos independentes, ou quase independentes, escolhendo o amigo em que os lisboetas deixaram de confiar para gerir a Câmara de Lisboa. Neste ponto, o primeiro-ministro não tem dúvidas, o povo não sabe o que perde, dirá. Os tempos não estão de feição para arriscar nas finanças públicas e é na definição de prioridades que se vai jogar o próximo Orçamento do Estado. Ao ministro das Finanças pede-se independência e distanciamento da máquina partidária, em vez de alguém que parece sempre disponível para dizer “sim” ao chefe. Não questiono a competência técnica de Fernando Media, mas duvido da sua autonomia.

Na Saúde, a recondução de Marta Temido é uma oportunidade perdida para mudar de rumo. Os tempos que aí vêm pediam uma ministra mais dialogante, com capacidade reformista para mudar, por exemplo, o modelo de financiamento do Serviço Nacional de Saúde, enfrentar com coragem e sem preconceitos ideológicos o combate às listas de espera, assim como criar mecanismos de incentivo reais e justos para os recursos humanos do sector. Costa escolheu mais do mesmo, sinalizado de forma clara – para quem ainda tinha dúvidas-, de que não pretende colocar a Saúde entre as suas prioridades políticas.

Marta Temido foi, ao longo dos últimos anos, sempre forte com os mais vulneráveis que comandava, mas nunca conseguiu impor-se na mesa do Conselho de Ministros. Ser amiga de António Costa e ter peso político são coisas diferentes. Veja-se o exemplo da TAP. Pedro Nuno Santos nunca abriu mão das suas exigências e Marta Temido enfiou a viola no saco, contribuindo para fazer disparar o número de enfermeiros emigrados.

Os próximos tempos exigem um parlamento atuante e uma sociedade civil atenta. Os primeiros sinais da maioria já cheiram a mofo. Vem aí mais do mesmo.

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