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04-01-2022
O desnorte
A Linha Saúde 24 deixa milhares de pessoas sem resposta. As urgências dos hospitais enchem-se de gente com sintomas ligeiros, colocando em risco a assistência a doentes graves. A Direcção-Geral da Saúde muda as normas da noite para o dia, diz uma coisa hoje e outra amanhã. Os doentes não covid ficam, outra vez, sem assistência. Os enfermeiros pedem escusa de responsabilidade e sucedem-se as demissões nas direções hospitalares.
O retrato da Saúde em Portugal é angustiante. Não é apenas falta de estratégia. Falta liderança, capacidade de antecipação e coragem. Este Governo escolheu fazer do famoso “Dia da Libertação” o seu outdoor eleitoral e os resultados estão à vista. Em vez de manterem o foco nas pessoas, os responsáveis políticos transformaram a gestão de pandemia em propaganda. Não basta desdobrarem-se em entrevistas, diretos e fotografias. É preciso agir com sentido global perante um Sistema de Saúde frágil, à espera de reformas urgentes e com profissionais de saúde constantemente desrespeitados.
O primeiro-ministro avisa que “a guerra ainda não acabou”. Tem razão. É pena é que o seu exército tenha saído do campo de batalha. Desativaram os centros de vacinação antes do tempo, não acautelaram a Linha de Saúde 24, mantiveram procedimentos impossíveis de cumprir perante a escalada de casos, deixaram milhares de pessoas sem saber o que fazer perante um teste positivo, não reforçaram a tempo e horas o pessoal necessário para acompanhar as cadeias de contágio, expuseram as urgências ao caos em pleno inverno e, pasme-se, voltaram a obrigar os doentes não covid a ir para fim da fila.
Os problemas conjunturais trazidos pela Omicrom voltaram a mostrar as consequências de 6 anos de sucessivos esquecimentos e adiamentos no sector da Saúde. Não é possível continuar a correr atrás do prejuízo. Os centros de saúde estão sufocados por trabalho burocrático e os hospitais presos por arames. A sobrevivência do SNS continua a ser garantida pela resiliência e altruísmo dos seus profissionais. Até quando?
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