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15-03-2022
Sem respeito e sem vergonha
Não é só falta de respeito, mas de vergonha. O Governo, pela mão da ministra da Saúde, decidiu excluir os enfermeiros de qualquer distinção e reconhecimento concedidos no âmbito da resposta à pandemia de Covid-19. É difícil de acreditar? Sim, mas é sobretudo impossível de aceitar de tão injusta que é esta atitude.
Numa lista, devidamente publicada em Diário da República, de 25 personalidades e organismos distinguidos e medalhados - despacho nº3055/2022 de 7 de Março-, não aparece o nome de um enfermeiro. Como se isto não fosse só por si estranho, para não escrever outra coisa, na lista de entidades e organismos reconhecidos pelo trabalho desenvolvido na estratégia de vacinação, também se ignora o papel dos enfermeiros e da sua ordem profissional.
Para não ser juíza em causa própria, recordo as declarações do Almirante Gouveia e Melo, o homem que chegou para servir o País e não este ou qualquer governo, partido ou fação. Em horário nobre, na SIC, Gouveia e Melo deixou um obrigado público. “Não posso deixar de agradecer a todos os profissionais de saúde... principalmente durante a vacinação nos últimos oito meses, foram incansáveis. Sábados, domingos, horas extra. Destes profissionais, não posso deixar de realçar os Enfermeiros. Fantásticos! Nós devemos muito a essa classe”. Pelos vistos, o Governo e o Ministério da Saúde não pensam o mesmo.
Não me apetecia muito fazer juízos de valor sobre a intenção política deste desprezo, mas não posso deixar passar em claro a tremenda injustiça e falta de respeito pela classe que tenho orgulho em representar. Às sucessivas promessas não cumpridas por este Governo junta-se, ao longo dos últimos anos, uma clara tentativa de travar a batalha que começámos pela valorização e dignificação do papel dos enfermeiros. Tenho uma má notícia: não vou desistir desta luta até ao último dia do meu mandado, indiferente às medalhas e às distinções que servem sobretudo para pagar favores ou afagar egos.
Os enfermeiros estão de consciência tranquila por tudo o fazem diariamente, antes, durante e depois da pandemia. Estivesse assim também quem nos governa.
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