As escusas e a gestão

  • 07-06-2022

Um em cada dez enfermeiros que trabalha para o Serviço Nacional de Saúde já pediu escusa de responsabilidade. O que é que isto quer dizer? É simples e assustador. Mais de 5.500 enfermeiros querem acautelar a eventual responsabilidade disciplinar, civil ou mesmo criminal face ao elevado número de doentes que têm a se cargo.

 

O cenário não é novo, mas a dimensão começa a adquirir contornos preocupantes. Há cada vez mais enfermeiros com medo de não serem capazes de prestar os cuidados de saúde que consideram adequados. De novembro até hoje, o número de pedidos de escusas mais do que quadruplicou.

 

Estamos perante uma bola de neve que ameaça avolumar-se. O Governo continua a não ter uma forma de incentivar a fixação dos enfermeiros no SNS. A solução continua a ser a precariedade de contratos de quatro meses e a ausência de uma carreira digna e justa.

 

Temos um problema grave de contratação de enfermeiros que não se resolve com medidas avulsas, mas temos também deficiências bastante delicadas na gestão hospitalar e na autonomia, ou falta dela, dessa mesma gestão. É preciso dar liberdade aos conselhos de administração para gerirem as suas realidades, sem o olhar omnipresente e castrador do Estado central. O problema é que para confiarmos na gestão, é urgente premiar o mérito e a excelência, e isso só é possível se deixarmos de fazer nomeações com base na cor do cartão do partido.

 

Gerir um serviço de saúde não é a mesma coisa que gerir um supermercado, uma câmara ou uma outra qualquer repartição pública. Muitos dos problemas com os quais os enfermeiros se deparam diariamente resultam do caos administrativo que se vive em muitas realidades hospitalares.

 

Quero com isto dizer que há dois trabalhos a fazer para travar, se ainda formos a tempo, esta sangria de pedidos de escusa. Um tem de ser feito ao nível do Ministério da Saúde, de forma direta, aprovando uma política clara de fixação e contratação de profissionais. A outro nível, e também sob a tutela do Governo, é urgente alterar as regras do jogo em relação às administrações dos serviços de saúde. Temos de ter os melhores na gestão, para sermos mais eficientes e capazes de construir um ambiente onde todos queiram trabalhar.

 

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