Christina Feist-Heilmeier

“Toda enfermeira foi atraída para a enfermagem por causa do desejo de cuidar, servir ou ajudar.”

 

É com muito orgulho que exerço das mais belas profissões – a Enfermagem! Ser enfermeira é sem dúvida ter um olhar atento ao outro, estar disponível para escutar, trocar um olhar de coragem, sentir a necessidade do outro como nossa e ajudá-lo a superá-la! Arreigada deste espírito surgiu a vontade imensa de exercer tão nobre trabalho junto de uma população com necessidades bem disparas, do continente europeu, desafiando-me a mim mesma. Ousei, por isso, partir em busca de novas experiências, mas, sobretudo, motivada para partilhar um pouco do que sou e sei, desejosa de completar a minha bagagem de conhecimentos e emoções, numa missão na Costa do Marfim, em 2014.

 

Chegar a Marandallah foi sem dúvida uma surpresa imensa… foi uma mistura de emoções… foi certificar a minha coragem e valentia! Entrar no “dispensaire” (algo equivalente a um pequeno centro de saúde, com maternidade integrada) e, ver a quase completa ausência de recursos materiais, a higiene deficitária das instalações, a língua francesa e dialetos que de todo dominava… ui… levou-me a questionar “que posso eu fazer aqui?!” Seria tão mais fácil desistir e voltar a Portugal, mas a certeza, de uma força interior, dizia-me que o meu contributo poderia ser fundamental junto daqueles profissionais e daquele povo! E nem o pico de Ébola me fez fugir desta missão!

 

 

As campanhas de vacinação e a colaboração em partos foram pilares fundamentais que me fizeram ter a certeza que poderia ajudar aquele povo e fazer a diferença! Foi precisamente, no âmbito de um parto, que tive a mais bela experiência da minha vida! Um recém-nascido dado como óbito (em casa de uma parteira da aldeia, sem qualquer recurso a materiais que pudessem ajudar na reanimação) foi por mim reanimado apenas com massagem cardíaca e recurso a uma pipeta que tentei utilizar como ambu. O que pode ser melhor do que dar a vida a ser humano?! Creio não existir milagre mais bonito do que este!

 

As campanhas de vacinação foram outra grande lição. Curioso estarmos a viver agora uma pandemia e comparar. Cá, não nos faltam recursos materiais, mas ainda assim achamos sempre insuficiente porque, naturalmente, exigimos outros padrões de qualidade que não se podem exigir em África de imediato. Não obstante, com o pouco que tem, aquele povo faz verdadeiros milagres!  

 

 

A missão na Costa de Marfim, despertou-me para realidades desconhecidas por muitos, trouxe-me uma bagagem de conhecimentos notáveis para atuar em questões de âmbito de saúde pública, ensinou-me como a capacidade de improviso é valiosa, encheu-me o coração de emoções tão positivas… e, sobretudo, despertou-me para a essência da vida!

 

Foi de tal modo uma experiência tão enriquecedora que ousei partilhá-la num livro, dando a conhecer cada momento que experienciei. Assim nasceu “Para lá do olhar…”! Um livro em forma de diário, publicado pela Edita, onde é possível encontrar detalhadamente estas e outras experiências, bem como peripécias, que certamente roubarão ao leitor muitos sorrisos!

 

Não deixem de experienciar esta viagem até Marandallah. Esse pode ser um primeiro passo para que cada um dê o seu contributo para um mundo melhor. Em Marandallah também se CUIDA, também se é ENFERMEIRO!

 

Filipa Cartaxo