Acompanhamento do Exercício Profissional

Delapidação irresponsável no Bloco Operatório do HDES

  • 24-01-2019

No âmbito das competências próprias de acompanhamento do exercício profissional, a Secção Regional da Região Autónoma dos Açores da Ordem dos Enfermeiros realizou ontem, 23 de janeiro, uma visita de acompanhamento do exercício profissional ao Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada EPER, designadamente aos Serviços Bloco Operatório e Cirurgia 3 (Cirurgia Geral).

 

Luís Furtado, Presidente do Conselho Diretivo Regional (CDR), à margem da visita, qualificou como absolutamente desastrosa a prestação do Conselho de Administração naquilo que foi a gestão de recursos humanos no Bloco Operatório, salientando que “apesar dos inúmeros e sucessivos apelos da gestão daquele Serviço, advertindo para a eminente rutura, para necessidades de renovação da equipa e de resposta a necessidades estruturais, entre 2013 e 2016, a Direção de Enfermagem retirou do Bloco Operatório um total de 8 enfermeiros, sem a respetiva reposição". Para o Presidente do CDR, esta “delapidação irresponsável", aliada a outras decisões do Conselho de Administração com incidência sobre os recursos humanos daquele hospital “levaram ao adensamento das necessidades em enfermeiros no Bloco Operatório e culminaram com o sucessivo encerramento de salas operatórias no ano de 2018."

 

Apesar de para o ano 2019 estarem previstas 6 admissões, Luís Furtado alerta para o facto de os períodos de integração necessariamente longos, "fazerem com que estes profissionais só se encontrem efetivamente disponíveis ao longo de 2020."

 

“Também não posso deixar de fazer notar a minha grande preocupação com a sobrecarga registada em todos os grupos profissionais afetos ao Bloco Operatório e que decorre do programa de produção adicional. Sem prejuízo de se constituir como um regime voluntário, não é incomum estes profissionais realizarem uma jornada de trabalho de 8 horas no Bloco Operatório – produção regular – seguidas de mais 6 a 8 horas em produção adicional”, afirma Luís Furtado. Para o Dirigente da Ordem dos Enfermeiros nos Açores, “as administrações também têm a responsabilidade de zelar para que os serviços promovam a sua atividade dentro de parâmetros aceitáveis de segurança”. Contudo, acredita que tal “não lhes convém, uma vez que é precisamente a atividade decorrente do programa de produção adicional que vem camuflar o desastre em que se tornou o funcionamento do Bloco Operatório daquele hospital, pela absoluta incapacidade da Administração como um todo, mas, de forma muito particular, a Direção de Enfermagem que, volvidas praticamente duas comissões de serviço, continua a não compreender o funcionamento e as necessidades do Bloco Operatório", acusa o Presidente do CDR.

 

“A desmotivação, a desagregação e a falta de direção atingiram o seu zénite nos últimos seis anos". Para Luís Furtado, “a completa ausência de objetivos claros, a deficiente comunicação com a organização, a ausência de orientação estratégica e de compromisso na resolução dos problemas, empurrando-os com a barriga como se eles não existissem, fizerem com que profissionais, antes profundamente comprometidos com a instituição e a ela dedicados, se sintam, atualmente, completamente desmotivados e desamparados."

 

Luís Furtado foi mais longe e afirma que "neste momento, há um Conselho de Administração completamente isolado e encurralado na sua incapacidade de responder às exigências da organização."

 

Ainda no âmbito da visita, foi possível perceber que, apesar do nocivo ambiente organizacional que atualmente se vive no Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada EPER, as equipas, no plano da prestação direta de cuidados de Enfermagem, mantêm um extraordinário compromisso com a qualidade dos cuidados prestados, dando resposta às crescentes exigências que emergem nos contextos de prática clínica, como se faz evidente no Serviço de Cirurgia 3, onde "uma equipa coesa e dinâmica, tem desenvolvido projetos de relevo para a afirmação do grupo profissional e para a adequação de respostas efetivas a necessidades concretas dos utentes no que aos cuidados de Enfermagem diz respeito", frisou o Presidente do CDR.

 

Para Luís Furtado, “a organização anseia por uma mudança urgente e efetiva, contudo o trabalho de recuperação daquilo que foi destruído, especialmente a recuperação da confiança dos profissionais numa administração capaz de responder, de facto, às exigências e desafios do maior hospital público da Região, perspetiva-se como uma tarefa de acrescida dificuldade”, concluiu.

CDR/LF/rcl