OE preocupada com ausência de planeamento nos lares para a segunda vaga da pandemia

  • 28-07-2020

A Ordem dos Enfermeiros encara com grande preocupação a aparente falta de planeamento adequado e ausência de medidas adicionais para acautelar o próximo Inverno, quando se espera uma segunda vaga de COVID, razão pela qual já solicitou audiências urgentes à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e ao Secretário de Estado da Saúde.

 

As pessoas idosas internadas em Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPIs) apresentam uma maior necessidade de cuidados de saúde diferenciados e permanentes. São altamente vulneráveis e o principal grupo de risco, como ficou, aliás, demonstrado pelas sucessivas tragédias ocorridas em instituições de todo o País.

 

As ERPIs estão preparadas para respostas, maioritariamente, de natureza social. No entanto, é urgente uma solução que inclua também respostas adequadas às necessidades crescentes de cuidados de Saúde, ao nível da efetiva prestação de cuidados e da gestão.

 

As pessoas idosas não são cidadãos de segunda e têm direito a cuidados de saúde seguros e adequados às suas características e necessidades específicas, independentemente da situação em que se encontrem, o que não tem sido acautelado, como mostram os problemas e fragilidades que ficaram mais visíveis com a pandemia.

 

Esta população apresenta um conjunto de fatores de risco, como úlceras de pressão e infeções associadas aos cuidados. E, segundo o último relatório da OCDE, Portugal apresenta a taxa mais elevada de prevalência de úlceras de pressão, quase o dobro da média dos países da OCDE, sendo também o pior País em percentagem de infeções por bactérias resistentes a antimicrobianos, o que se deve, principalmente, à extrema carência de cuidados de enfermagem nas ERPIs.

 

Em termos gerais, é preciso avançar rapidamente para um modelo integrador, com tutela conjunta da Segurança Social e da Saúde, bem como uma rede de coordenação a nível nacional, regional e local destinada à prevenção, controlo e monitorização de infeções e de resistência aos antimicrobianos, à semelhança da existente nos diferentes níveis de prestação de cuidados.

 

Com a aproximação do Inverno, poderá não haver tempo para alterações de fundo. No entanto, é absolutamente necessário a implementação de medidas que tenham em consideração a falta crónica de Enfermeiros nas ERPIs, a quem deveria ser atribuída a responsabilidade de gerir e executar os respetivos planos de contingência, reportando diretamente às autoridades de saúde.

 

“Estamos seriamente preocupados com a ausência de um planeamento adequado, que poderá ter consequências gravíssimas no contexto da segunda vaga da pandemia”, diz o Vice-Presidente da Ordem, Luís Filipe Barreira. E acrescenta: “As ERPIs são hoje espaços que deveriam prestar cuidados de saúde e cumprir escrupulosamente a lei, o que não acontece. É preciso que também se verifique um combate efetivo às instituições ilegais, que não podemos tolerar apenas por falta de alternativas.”