Enfermeiros com nível de exaustão acima da média

  • 14-10-2022

Os Enfermeiros apresentam um nível de exaustão bastante acima da média e mais de dois terços já pensaram em mudar de profissão. Estas são as principais conclusões do maior estudo nacional sobre as Condições de Vida e de Trabalho dos Enfermeiros, coordenado por Raquel Varela. 

 

 “Os Enfermeiros estão a pagar com a sua saúde o esforço de não cometer erros”, explicou Raquel Varela, que coordenou a investigação, realizada em conjunto pela Universidade Nova, Instituto Superior Técnico e Observatório para as Condições de Vida e Trabalho.

 

Para a coordenadora da investigação, à qual responderam mais de oito mil Enfermeiros, os resultados do estudo mostram “um cenário de emergência nacional” ao revelarem que 65% dos Enfermeiros dizem sentir-se sempre, ou várias vezes por semana, fisicamente exaustos.

 

“Nós temos um nível de exaustão e uma força de trabalho a ser desgastada, com um horário de trabalho semelhante àquele que se falava no século XIX para a Revolução Industrial”, explicou Raquel Varela, acrescentando que o rendimento dos Enfermeiros não é adequado.

 

O estudo da Universidade Nova, do Instituto Superior Técnico e do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho revela também que 25% dos inquiridos têm um segundo emprego dentro da profissão e que a maioria ganha um salário bruto de até 1500 euros, sendo que 59% são licenciados e 34% são especialistas.

 

Comparada com outras profissões, a Enfermagem é uma profissão relativamente jovem, com uma média de idade ligeiramente acima dos 38 anos.

 

A maioria dos Enfermeiros exerce no sector público, em contexto hospitalar, mais de metade tem horário rotativo e cerca de três quartos trabalha por turnos.

 

A investigação revela também que 76% dos Enfermeiros sente falta de mais intervalos, sendo que cerca de 70% admite mesmo que não consegue descansar nas folgas.

 

Dos cerca de 8000 Enfermeiros que responderam ao inquérito, mais de 7000 revelaram que não gozam sete dias seguidos de férias há mais de um ano.

 

O estudo veio confirmar também aquilo que a OE tem vindo a denunciar há anos: o número de horas exercidas semanalmente pelos Enfermeiros atinge valores próximos das 70 horas semanais.

 

Mais de 30% dos Enfermeiros já sofreu assédio moral e existe uma percentagem muito elevada de profissionais com níveis de exaustão emocional muito elevados.

 

Por fim, 67% admitem que não gostavam que um filho seu fosse Enfermeiro.

 

“A resposta aos baixos salários tem sido a sobrecarga de trabalho, assumindo com regularidade horas extraordinárias, o que evidentemente nem o corpo nem a mente aguenta. Nós conseguimos trabalhar de forma excecional e sob pressão alguns dias não é sistematicamente”, sublinhou Raquel Varela, considerando que a situação dos Enfermeiros é uma emergência nacional.