Dia Internacional do Enfermeiro

Pela valorização dos Enfermeiros

O Dia Internacional do Enfermeiro celebra-se a 12 de Maio, uma data que se revela duplamente importante, por um lado, para relembrar a necessidade de uma tomada de consciência da atual situação da profissão, por outro, para o reconhecimento da necessidade emergente de uma maior valorização profissional.

Serve o dia para homenagear de forma simbólica os Enfermeiros de todo o mundo, em particular aqueles que atualmente lidam com uma carga de trabalho sem precedentes à custa da Covid-19 e que, ao mesmo tempo, mantêm outros serviços de saúde essenciais, e nos Açores são a maioria.

Tudo isto só se faz com profissionais de saúde valorizados e motivados, não é fácil aguentar de ânimo leve as entropias do sistema e as dificuldades estruturais, por isso é urgente que se faça a justiça por demasiado tempo em espera e aconteça finalmente a valorização da carreira, a valorização remuneratória justa.

O que o presente nos tem ensinado é que o futuro da saúde nos Açores passa pelo investimento numa Enfermagem valorizada, lembremos sempre que um sistema de saúde saudável é uma comunidade com todo o apoio célere e eficaz no que à saúde diz respeito, e são os Enfermeiros que estão presentes em todas as horas.

O futuro passa por uma aposta clara na saúde comunitária, na promoção da saúde e na prevenção da doença, combater a iliteracia na saúde, criar o Enfermeiro de Família e através deste cuidar da nossa população em termos primários, na comunidade, evitar os entupimentos dos Hospitais. Os nossos recursos são limitados, e cada vez mais se exige uma gestão cuidada, responsável.

É evidente que o Sistema Regional de Saúde carece de uma efetiva Integração de Cuidados, entre cuidados de saúde primários, hospitalares e continuados. Esta integração, que é muito mais do que articulação, dependerá, sobretudo, das intervenções de enfermagem. Isto exige, naturalmente, que os serviços possuam o número adequado de Enfermeiros nas diferentes áreas de intervenção.

Em Portugal, os Enfermeiros continuam a ser destratados, bate-se palmas quando a situação aperta, chama-se de selvagem quando passa, e isso é um claro convite à emigração. Contrariamos isto com uma coisa simples chamada justiça em relação às demais carreiras, não podemos apresentar bónus para alguns, encapotados publicamente de que é para quem esteve na linha da frente quando todos foram importantes, contar o tempo de serviço quando se percebe que a forma varia de instituição para instituição criando assimetrias. Os Enfermeiros estão fartos, atingiu-se todos os limites, a todos os níveis, não corrigir será colocar em causa o futuro da Saúde de todos nós.

Os Enfermeiros e em virtude da natureza dos cuidados de enfermagem, são os profissionais de saúde que mais e melhor promovem o acesso a cuidados de saúde, de forma universal e equitativa. Ora, esta evidência tem de ser devidamente reconhecida pelo poder político, quer através da contratação de enfermeiros para assegurar cuidados seguros, quer pela valorização financeira. O investimento no SNS e a valorização da enfermagem só serão possíveis se existir uma verdadeira convergência na ação.

Hoje, mais uma vez, tomemos consciência do profissionalismo dos Enfermeiros Açorianos, da entrega, coragem e sacrifício pessoal, são e serão um exemplo inesquecível na vida das comunidades do nosso Arquipélago. Usemos este dia para refletir na necessidade de cuidarmos de quem cuida, o futuro não existe se não ultrapassarmos as dificuldades do presente.

 

Pedro Soares

Presidente do Conselho Diretivo
Secção Regional da Região Autónoma dos Açores
Ordem dos Enfermeiros