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25-04-2021
O apelo dos Enfermeiros

É inquestionável o papel da Enfermagem no combate às epidemias de doenças infeciosas. Por isso, nesta semana tradicionalmente dedicada à sensibilização para a importância das vacinas, os Enfermeiros apelam aos portugueses para que não deixem de se vacinar, nem de vacinar os seus filhos, e lembram que antes do SARS-CoV-2, que provoca a doença covid-19, outros vírus colocaram a humanidade em perigo, podendo ressurgir como ameaça caso o Plano Nacional de Vacinação não seja cumprido. Os Enfermeiros têm notado que os utentes do Serviço Nacional de Saúde estão a demonstrar algum receio em levar os filhos aos Centros de Saúde devido à situação pandémica que ainda persiste, mas avisam que nem esse, nem nenhum outro motivo, pode servir de justificação para se subtraírem às vacinas obrigatórias.
O impacto da imunização / vacinação na saúde da população mundial é incontestável. Com excepção da disponibilidade de água potável, nenhuma outra intervenção teve um efeito tão importante na redução da mortalidade e no crescimento populacional em todo o mundo. Os Enfermeiros tiveram um papel fundamental neste gigantesco passo para a humanidade.
Entre 1900 e 1973, a utilização das vacinas esteve praticamente cingida aos países industrializados. À escala mundial, a cobertura geográfica da vacinação era (e ainda é) muito heterogénea. As epidemias de doenças infecciosas continuam a ocorrer em todos os países, nalguns casos com periodicidade regular, embora nos países onde a vacinação foi implementada em grande escala, o período interepidémico tenha em geral aumentado. No entanto, muitas situações evitáveis por vacinação são ainda frequentes no mundo em desenvolvimento, e como as doenças infecciosas não respeitam barreiras geográficas, uma doença descontrolada em qualquer parte do mundo representa um risco para os outros países. O vírus SARS-CoV-2, que provoca a doença covid-19, é bem um exemplo do que acabamos de referir.
A primeira implementação à escala planetária de uma vacina deu-se com a da varíola e iniciou-se em 1956, com o patrocínio da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Actualmente, a maioria das nações do mundo adoptou o princípio de possuir um Programa de Nacional de Vacinação (PNV). O PNV tem como objectivo assegurar o controlo de doenças infecciosas, para as quais existem vacinas eficazes e seguras e cuja incidência, sequelas e letalidade são elevadas. O PNV é universal e gratuito para todos os indivíduos, e recomenda um esquema de vacinação que constitui uma “receita universal”. É à Direcção-Geral da Saúde que compete definir o esquema do PNV, bem como planear a sua aplicação e providenciar, a nível nacional, a sua avaliação. O PNV em vigor em Portugal foi especificamente estudado para o nosso país e é este que deve ser cumprido. No entanto, não deve ser rígido, podendo ser adaptado às condições epidemiológicas locais e a determinados casos individuais.
A modificação do estado imunitário da população altera a epidemiologia e a apresentação clínica das doenças. O PNV é actualizado em função desta evolução e da disponibilidade de novas vacinas, com o objectivo de melhorar a sua qualidade, sem prejuízo da aceitabilidade por parte da população-alvo.
A última actualização do PNV aconteceu em 2020, passando desde Outubro a contemplar:
A vacina meningocócica B (MEN B) para todas as crianças, no primeiro ano de vida;
A vacina do Vírus do Papiloma Humano (HPV) para todos os rapazes, aos dez anos.
A vacina contra o rotavírus (vacina ROTA) para grupos de risco, principal causador de gastroenterites em crianças, também passa a integrar o Programa Nacional de Vacinação, mas aplicada apenas para grupos de risco desde Dezembro de 2020.
No caso da meningite B, antes administrada apenas a grupos de risco, passou a ser aplicada em três doses: dois, quatro e 12 meses de idade.
Existem ainda outras vacinas, que não fazendo parte do PNV, são comercializadas em Portugal. Exemplo disso são a vacina da gripe, a vacina antipneumocócica e a vacina anti-hepatite A que têm indicação em determinadas situações específicas de risco.
A avaliação do PNV é um imperativo. As coberturas vacinais são avaliadas transversalmente em determinados coortes de nascimento. Actualmente, essa avaliação transversal aponta para uma Taxa de Cobertura Vacinal Nacional média na ordem dos 95% para cada vacina. Somente taxas de cobertura vacinal muito elevadas permitem obter imunidade de grupo. No caso do tétano, em que a protecção é individual, apenas uma cobertura vacinal de 100% evitaria o aparecimento de novos casos.
Estas elevadas coberturas vacinais ficam a dever-se à acção dos ENFERMEIROS que divulgam o Programa, motivam as famílias e, de um modo geral, aproveitam todas as oportunidades para vacinar as pessoas susceptíveis, nomeadamente através da identificação e aproximação a grupos com menor acesso aos serviços de saúde, sendo sempre possível adaptar esquemas vacinais a situações em que o esquema recomendado não foi seguido.
Inquéritos sorológicos
Os resultados do Inquérito Serológico Nacional (ISN) 2015-2016, promovido pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, através dos seus departamentos de Doenças Infecciosas e de Epidemiologia, demonstram que a implementação do PNV em Portugal teve como consequência uma elevada proporção de pessoas imunizadas relativamente às doenças abrangidas pelo PNV. Os resultados mostram níveis de imunidade protectora idênticos ou superiores ao último inquérito serológico (2001-2002).
É gratificante saber que os ENFERMEIROS têm um papel preponderante no êxito deste Programa.
Neste momento está decorrer um novo inquérito serológico tendo como principal objectivo conhecer a distribuição dos anticorpos específicos contra SARS-CoV-2 (IgM e IgG) na população residente em Portugal, por grupos etários e regiões de saúde, assim como monitorizar a sua evolução ao longo do tempo e estimar a fracção de infecções por SARS-CoV-2 assintomáticas.
Esta informação permitirá aferir a taxa de ataque desta infecção na população portuguesa e contribuir para, futuramente, estimar o impacto do actual programa de vacinação contra a covid-19.
Os resultados da primeira fase do ISN covid-19 indicaram uma sero-prevalência global de 2,9 por cento de infecção pelo novo coronavírus na população residente em Portugal, não tendo sido encontradas diferenças significativas entre regiões e grupos etários.
Embora o mundo inteiro esteja neste momento totalmente focado na importância de uma vacina, a SRSul, por iniciativa do Conselho de Enfermagem Regional, quis, no entanto, alertar para a necessidade de manter a população consciente de que há mais vírus para além do SARS-CoV-2.