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08-08-2020
Saúde no Algarve
Sérgio Branco, presidente da Secção Regional Sul (SRSul) da Ordem dos Enfermeiros, reuniu no dia 4 com a presidente do Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUAlgarve). A apresentação de cumprimentos a Ana Castro foi o principal motivo uma vez que acabava de tomar posse no cargo. Mas, mostrou-se também uma oportunidade para a troca de impressões sobre as respostas e as estratégias da Saúde para a região. A acompanhar os respectivos presidentes estiveram, por parte do CA, a enfermeira directora Mariana Santos e, pela SRSul, o enfermeiro Miguel Correia, presidente do Conselho Jurisdicional Regional, e o enfermeiro Marco Job Batista, presidente do Conselho de Enfermagem Regional.
Foram vários os temas em análise. Sérgio Branco destacou a necessidade de um novo hospital central no Algarve, de elevada diferenciação, moderno, de fim de linha e que responda à totalidade das solicitações da população residente numa região fortemente turística - tal como foi reconhecido em 2002 quando se decidiu avançar com os primeiros estudos para a sua construção. Mas, conforme explicou, esse objectivo, por si só, poderá obstaculizar um melhor serviço às populações caso se depreciem as questões organizacionais.
Para o presidente da SRSul, antes de se pensar em novas estruturas, embora prementes, terá de se ponderar sobre a actual gestão dos meios e, eventualmente, avistar-se uma “nova cultura organizacional”. Em seu entender, será um equívoco concluir-se que mais paredes, mais dinheiro, mais recursos, por si, resolvem todos os problemas. Neste sentido, apelou para que, a nível regional e nacional, surjam ideias e debates focados em novos modelos de organização para a saúde, e não só… “Centrar a discussão na construção do novo hospital é redutor”, salientou.
Durante a apresentação de cumprimentos foram, no entanto, apontadas algumas situações emergentes a exigirem soluções urgentes. Em causa, entre outras, a própria segurança dos cuidados. Desde logo, a necessidade de aumentar o número de enfermeiros tendo em conta que o rácio é dos mais baixos a nível nacional. No Serviço Nacional de Saúde (SNS) da região a média é de 4,2 enfermeiros por 1000 habitantes, percentagem abaixo da média nacional que ronda os 6 por mil habitantes no SNS. Na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) a média ronda os 9 enfermeiros por cada 1000 habitantes. Em rácio, a Enfermagem em Portugal permanece na cauda da Europa. “O Algarve está na cauda da cauda”, lembrou o presidente da SRSul.
Esta realidade sendo preocupante, salientou Sérgio Branco, agudiza-se neste período de pandemia quando muitos enfermeiros apresentam sinais de exaustão e até de burnout. Por outro lado, parece iminente uma segunda vaga da covid-19 vir a coincidir com o período da gripe sazonal. Assim, para além de questões organizacionais, impõe-se vislumbrar se os meios se adequam à realidade tendente a complicar-se.
Sérgio Branco, no contexto, lembrou uma sondagem SIC/Expresso para a saúde, divulgada em Fevereiro, que destacava a nota positiva dos portugueses aos serviços públicos de saúde. No entanto, alertou que nessa mesma sondagem a região do Algarve surgia como excepção. Segundo os dados então avançados, nos três parâmetros avaliados, numa escala de 0 a 10, os algarvios davam 3,1 ao tempo de espera (contra 6 no Alentejo, 5,3 a Norte ou 5,1 na Grande Lisboa); avaliavam com um 4,4 o “tratamento clínico” (contra 6,9 no Alentejo e Norte ou 6,4 em Lisboa e Centro); e atribuíam um baixo 3,5 à “qualidade global” dos serviços de saúde (contra os bem melhores 6,5 a Norte ou 6,2 na Grande Lisboa).
Esta realidade suscita, naturalmente, preocupações e desafios. Neste sentido, o presidente da SRSul manifestou, naquele encontro, toda a disponibilidade da Ordem dos Enfermeiros para discernir soluções que contribuam para uma melhor Saúde na região.
Por outro lado, segundo Sérgio Branco, o novo CA do CHUA, naquela reunião representado pela presidente Ana Castro e pela enfermeira directora Mariana Santos, fez transparecer sinais muito promissores para o Algarve, sublinhando que a equipa espoletou muita esperança no futuro.
Num encontro marcado pela cordialidade e proximidade, Sérgio Branco disse ter ficado profundamente convicto de que os compromissos assumidos por ambas as partes se vão exprimir em vida mais saudável para os algarvios.
Parafraseando Marcel Proust, o presidente da SRSul atestou: “A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas terras, mas em ter novos olhos”.