Apoio aos Enfermeiros

  • 11-07-2020

SRSul apoia Enfermeiros e alerta para o risco de os surtos continuarem a atingir os Lares para Idosos

 

A Secção Regional do Sul (SRSul) da Ordem dos Enfermeiros (OE) está a monitorizar o surto de covid 19 detectado a 18 de Junho no concelho de Reguengos de Monsaraz, com origem numa Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) privada, o qual já causou 16 mortos e 131 casos activos. A SRSul encontra-se no terreno a colaborar nas estratégias de combate e, simultaneamente, muito atenta aos problemas da população do concelho.

 

É com grande preocupação que a SRSul tem acompanhado a mobilização dos Enfermeiros para a resposta ao surto de Reguengos de Monsaraz, muitos dos quais exaustos pela pressão e carga de trabalho a que sempre estiveram sujeitos, agravado por esta pandemia e, agora, também obrigados a suspender as suas férias. Mas, apesar da sobrecarga, constata-se, e mais uma vez se louva, a entrega, a disponibilidade e o espirito de missão com que combatem o maior surto no Alentejo da doença provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2.

 

Nesta procura partilhada de soluções, a intervenção dos Enfermeiros tem sido fundamental.

 

A SRSul quer assegurar que os cuidados de saúde são prestados com qualidade e segurança a toda a população, e aos idosos em particular. Neste sentido, em articulação com entidades oficiais, a SRSul está a usar todos os meios ao seu alcance para garantir que as instituições prestadoras de serviços de acolhimento e de saúde cumpram todos os requisitos legais exigidos, nomeadamente ao nível de Enfermeiros, para que o trabalho se possa realizar num ambiente seguro para profissionais e utentes. A dignidade, a humanidade e a segurança dos cuidados degradam-se quando um só Enfermeiro tem de assegurar cuidados a 70, 80 e até a mais de 100 utentes na mesma estrutura residencial - realidade muito comum em Portugal.

 

Na verdade, o aumento do número de pessoas infectadas e de óbitos nas ERPI, vulgo Lares, é uma realidade que, infelizmente, não surpreende a SRSul da Ordem dos Enfermeiros (OE). Com base em dados oficiais, constata-se que os óbitos de residentes em Lares já atinja os 628, de entre as 1426 pessoas com mais de 70 anos falecidas em Portugal por causas associadas à covid-19 (este sábado).

Isto significa que, no nosso País, quase um terço do total dos óbitos associados à infecção pelo novo coronavírus (1654 este sábado) correspondam a utentes das ERPI.

 

No âmbito das suas competências legais, a SRSul tem visitado nos últimos quatro anos dezenas de Lares com o objectivo de verificar o modo como se processam e organizam os cuidados de Enfermagem prestados aos Idosos. A SRSul conhece a realidade e tem denunciado muitas situações causadoras de risco para a segurança dos profissionais e dos utentes.

 

Neste sentido, com base na sua experiência do terreno, a Secção Sul da Ordem dos Enfermeiros alerta  que situações semelhantes à ocorrida em Reguengos de Monsaraz poderão repetir-se se:

 

- As ERPI, na sua generalidade, continuarem a funcionar com os recursos humanos abaixo do mínimo exigido;

 

- A maioria das ERPI continuarem a violar a lei no que toca número de Enfermeiros contratados. Existe um diploma legal (Portaria n.º 67/2012, de 21 de Março) que estabelece o rácio Enfermeiro/utente, mas que a grande maioria não cumpre, impunemente;

 

- Perante esta generalizada falta de Enfermeiros nas ERPI, os ajudantes de lar, a mando dos responsáveis, continuarem a assumir funções que são próprias do profissional de saúde;

 

- A generalidade das ERPI não tiverem planos de contingência de acordo com as orientações das autoridades de saúde;

 

- Algumas ERPI, por falta de profissionais nos seus quadros, e com o objectivo de obter maiores lucros, continuarem a solicitar aos Centros de Saúde locais, do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a deslocação de Enfermeiros às suas instalações para prestação de cuidados de Enfermagem aos utentes. Esta situação permite alguma promiscuidade entre o público e o privado, facilitando que os privados lucrem à custa do erário público;

 

- O SNS continuar a suprir as faltas de profissionais nas ERPI, nomeadamente Enfermeiros que, em cumprimento das normas legais, deveriam estar ali a trabalhar a tempo inteiro;

 

É necessária uma atenção especial a estes idosos institucionalizados, são os nossos pais, os nossos avós, não os podemos deixar ao abandono, são uma franja da população particularmente vulnerável ao contexto epidemiológico que vivemos. O número de utentes mortos nas ERPI é demasiado elevado. Mas se nada mudar, a tragédia vai seguramente permanecer.