Enfermeira do IPO premiada

  • 27-07-2020

Hoje, 27 de Julho, assinala-se o Dia Mundial do Cancro da Cabeça e Pescoço. Trata-se da quarta doença com maior incidência nos homens quando se agrupam as diferentes localizações dos tumores (laringe, faringe, cavidade oral e nasofaringe). Como factores de risco, destacam-se o tabaco, a ingestão de álcool, bem como a interação de ambos e o vírus do papiloma humano. Susana Miguel, Enfermeira do IPO-Lisboa, foi premiada por apresentar projeto de investigação promissor nos doentes com este tipo de cancro.

 

O crescente desenvolvimento tecnológico e as constantes mudanças na saúde obrigam os profissionais a justificar as suas decisões clínicas, baseadas em evidência científica, e a disciplina de enfermagem não é excepção. A investigação permite o desenvolvimento de evidência científica necessária à fundamentação dos cuidados de enfermagem.

 

A Enfermeira do IPO-Lisboa, Susana Miguel, integra os investigadores que procuram “contribuir para o desenvolvimento, teste e validação de diagnósticos a serem utilizados em enfermagem, melhorando a sua precisão e a eficácia das intervenções diferenciadas em populações complexas”, explicou à SRSul ao ser distinguida com o prémio NANDA-I Foundation. Este prémio, atribuído a 20 de Julho, servirá para apoiar o seu projeto de tese de doutoramento intitulada: “Diagnósticos de enfermagem ‘disturbed body image’ e ‘situational low selfesteem’ em pessoas com cancro de cabeça e pescoço: validação diferencial com recurso à metodologia Q”.

 

Susana Miguel está a realizar o doutoramento na Universidade Católica Portuguesa, orientada pela Professora Doutora Sílvia Caldeira, do Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica. Neste momento, o projeto de doutoramento está terminado e vai iniciar-se o processo de pedido de autorização para realizar o trabalho de investigação. O prémio da NANDA-I Foundation, atribuído a este projecto, resulta de uma parceria com o Marjory Gordon Program, do Boston College, William F Connell School of Nursing.

 

Enfermeira desde 1999, Susana Miguel formou-se na Escola Superior de Enfermagem Francisco Gentil e especializou-se em Enfermagem médico-cirúrgica. A sua actividade profissional tem sido sempre realizada no IPO de Lisboa, tendo desenvolvido diversa produção científica a nível internacional e nacional, sendo as suas áreas de interesse a pessoa submetida a cirurgia de cabeça e pescoço na busca de melhores cuidados de enfermagem.

 

 O aumento do número de doutorados em enfermagem representa um passo importante para o desenvolvimento da profissão. “Enquanto profissionais temos a responsabilidade de implementar uma prática baseada na evidência, garantindo que as pessoas são cuidadas de acordo com a melhor prática e conhecimento disponível”, disse.

 

Para Susana Miguel, “a segurança dos cuidados prestados à pessoa é imperativo, pelo que devemos investir na formação dos profissionais de enfermagem para que estes possam responder às necessidades de doentes, famílias e comunidades tendo por base a melhor evidência científica”. E sublinhou: “A par com a investigação, realço a importância da partilha do conhecimento na comunidade científica.”

 

Sobre a enfermagem em Portugal, entende que “actualmente existe uma maior sensibilização dos enfermeiros para importância da investigação na visibilidade dos cuidados e da própria profissão.”

Com 42 anos, Susana Miguel é coordenadora do Workgroup de Cabeça e Pescoço da AEOP (Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa) desde 2016, atualmente Workgrupo de Oncocirurgia.

 

Em Portugal de acordo com os últimos dados (2018), a incidência destes tumores por 100.000 habitantes, foi de 893 nos tumores da cavidade oral, 586 na laringe, 419 novos casos de tumores da hipofaringe, 131 na orofaringe e 141 na nasofaringe. A taxa de mortalidade é mais elevada para os tumores da laringe e cavidade oral (1.2 e 1.1, respetivamente). Comparativamente com a Europa, os tumores que apresentam maior incidência e mortalidade são também os da cavidade oral e laringe.

“Cuidar da pessoa submetida a cirurgia de cabeça e pescoço é um processo complexo, por todos os efeitos psicossociais, físicos ou funcionais que podem estar presentes. Órgãos vitais usados para manter atividades como o respirar, falar, comer ou beber podem ficar comprometidos com todas as consequências que dai advém. A família/pessoa significativa são grandes aliados neste processo de recuperação e regresso a casa. Este período de pandemia obrigou-nos a repensar e replanear os cuidados que prestamos”, explicou a Enfermeira Susana Miguel.