-
15-07-2021
Visita ao ACES Estuário do Tejo
O abraço da secção Sul da Ordem dos Enfermeiros chegou ao ACES do Estuário do Tejo, com uma visita aos centros de vacinação de Vila Franca de Xira e de Azambuja. A entrega, a disponibilidade, o espírito de missão são bem visíveis no ritmo de trabalho de todos os Enfermeiros ali envolvidos no combate à pandemia. Mas, os seus rostos também denunciam exaustão. No entanto, não há baixas. “A luta é para ser levada até ao fim”, dizem.
Veja mais fotos aqui
Aproximavam-se as 14 horas quando os dirigentes da SRSul chegaram ao Pavilhão Multiusos de Vila Franca de Xira. O calor típico do estuário do Tejo apertava sobre as longas filas de pessoas que ordeiramente, no extenso parque de estacionamento, aguardavam a entrada naquela enorme estrutura metálica que prometia a tão desejada sombra e alguma aragem fresca. Na fila das 12 horas bastantes pessoas suportavam ainda aquele calor, mas bastantes mais formavam a fila das 13 horas e mais ainda a das 14 horas. As filas estavam organizadas pela hora de convocação.
O número de pessoas só era menor na fila dos que tinham ido para ali sem marcação prévia. A estes, por volta das 16 horas, ser-lhes-ia entregue uma senha para poderem aceder à vacina. Dita a regra que não mais de 100 senhas seriam distribuídas. Só dali a duas horas saberiam se a centena fora alcançada. Entretanto, todos naquela fila, a aumentar minuto a minuto, sabiam quem ali se apresentou em último lugar e certos de que as senhas seriam entregues respeitando a ordem de chegada. Sem a certeza, porém, se todos aguentariam até ao fim… o problema não era o calor, até porque naquela terça-feira, dia 13 de Julho, as temperaturas nem sequer se apresentavam excepcionalmente elevadas. O problema eram as melgas que vindas do rio Tejo, mesmo ali ao lado, gostam de atacar ao fim da tarde. No dia anterior, segundo nos contaram, algumas pessoas terão desistido porque, não havendo vento, as melgas tinham decidido ser excepcionalmente indesejáveis. Aquele pavilhão multiusos situa-se entre o rio e a Estrada Nacional 10, com um incessante tráfego rodoviário na via de rodagem, sobressaindo o ruído constante dos camiões.
A equipa constituída por Sérgio Branco, presidente da SRSul, Sílvia Fernandes, da direcção da SRSul, e Marco Job Batista, presidente do Conselho de Enfermagem Regional, foi recebida pela Enfermeira Ana Chambel, coordenadora daquele centro de vacinação, a que se juntou também a Médica Maria Manuel, presidente do conselho clínico do ACES.
Ana Chambel saúda as pessoas sempre da mesma forma. Leva as mãos ao peito com os braços cruzados e faz uma pequena vénia. Diz que aprendeu a saudação com o fadista Carlos do Carmo, que se por sua vez terá aprendido com o The Voice, Frank Sinatra, e que significa: “tenho-vos a todos no coração”. A explicação serviu para falar dos Enfermeiros que das oito da manhã às dez da noite, de segunda a domingo, atendem, todos os dias, entre 1 300 e 1 600 pessoas inoculadas em oito gabinetes montados no interior daquele complexo multifuncional. Todos os dias por ali passam 34 Enfermeiros. Ana Chambel curvava-se, com as mãos cruzadas no peito, quando dizia “tenho-os a todos no coração”, referindo-se também a todos os Colegas, que, segundo a suas palavras, só aguentam a pressão diária porque os move “um verdadeiro espírito de missão”. “Seria impossível de outra forma, em detrimento das suas vidas privadas”, disse-nos.
Ao falar das férias… bom, é melhor nem falar do assunto porque, “não há Enfermeiros para substituir quem adoeça, quando mais para quem queira gozar férias”. O ritmo de trabalho é violento, também para que as filas no exterior, ao sol, se dissipem na sombra daquele enorme edifício municipal. Ninguém está quieto, e, confessou-nos uma Enfermeira, todo o trabalho no seu Centro de Saúde também está assegurado, com todos os serviços previstos efectuados. Uma sobrecarga de trabalho que, de acordo com a Enfermeira coordenadora, só é humanamente possível porque todos, ali, “se apresentam esquecidos de si próprios”. As férias que alguns queiram gozar, por exaustão, poderá causar eventualmente alguns constrangimentos nos centros de saúde, mas “não poderão deixar de ter férias”, advertiu a coordenadora. Sérgio Branco recordou, entretanto, que acabam de sair das escolas cerca de três mil novos Enfermeiros que estarão disponíveis para serem contratados. “Seria bom que fossem”, observou Ana Chambel, sublinhando: “Há pessoas exaustas que precisam de parar”.
Desde o inicio da vacinação contra a covid-19, já foram ali inoculadas, até 13 de Julho, 90 543 pessoas, estando mais de 58 mil com a primeira dose e cerca de 29 mil com a segunda. Cerca de 31 mil já têm a vacinação completa. Entre os dias 5 de 11 de Junho foram vacinadas cerca de 10100 pessoas, período em que o ritmo de trabalho foi verdadeiramente estonteante.
Claro que nem só os Enfermeiros trabalham ali. Todo o pessoal de apoio, desde os seguranças aos assistentes operacionais, bombeiros, protecção civil, toda a gente está imbuída do mesmo espírito, e “só desta forma as coisas correm bem”, confessou Ana Chambel. A organização, pensada por todos, facilita o bom ritmo dos trabalhos, com um local para as pessoas preencherem o termo de responsabilidade, ajudados, se necessário, por Enfermeiros, assistentes operacionais, ou por quem quer que esteja por ali disponível, e, seguindo uma lógica ordenada, deslocando-se depois para a o espaço dos gabinetes onde oito Enfermeiros administram as vacinas a um ritmo constante. Segue-se a área do recobro, onde as pessoas já inoculadas se mantêm sob vigilância de uma equipa de Enfermeiros com a indicação no computador da hora a que a pessoa pode regressar a casa. Tudo é perfeito, tudo corre bem, porque, salientou Sérgio Branco, “os Enfermeiro sabem ser o pilar de todos os sistemas de saúde”.
Cá fora, as filas tinham entretanto diminuído, o sol ameigado, e, pelo que nos contaram, também as melgas deram tréguas. A equipa da SRSul saiu dali com a sensação de que a Enfermagem é uma das mais belas profissões do mundo… porque os Enfermeiros também são “especiais”… Ana Chambel cruzou os braços, colocou as mãos no peito e curvou-se… a equipa retribuiu o gesto, de coração cheio, e rumou a Azambuja…
… Em Azambuja…
Passados vinte minutos a equipa da SRSul chegava ao Pavilhão Municipal de Azambuja, a uma distância de 23 quilómetros do centro de vacinação de Vila Franca de Xira, ambos pertencentes ao mesmo ACES.
O ambiente é totalmente diferente. Não mais de duas dezenas de pessoas esperavam entrar no espaço de vacinação. Todas sentadas no exterior do pavilhão, ao ar livre, num espaço coberto, abrigadas do sol, cumprindo integralmente o espaço social indicado, com uma assistente operacional sentada a uma mesa de trabalho, com um computador à frente, no cimo de umas escadas, chamando as pessoas, uma a uma, que depois passavam para o interior do edifício para serem vacinadas… Parecia um oásis…, tanto mais que o pavilhão está bastante afastado da Estrada Nacional 10, imperando ali, por isso, o silêncio…
Lá dentro, a Enfermeira Carla Cunha recebeu a equipa da SRSul bem orgulhosa com a forma como conseguiu organizar todo o serviço, salientando que, no início, foram as pessoas de apoio, entre assistentes operacionais, protecção civil e voluntários, que tiveram a iniciativa de organizar os acessos e os circuitos de vacinação. A Enfermeira coordenadora falava com agrado da disponibilidade das pessoas enviadas pela autarquia para fazerem parte da “missão” neste combate contra a covi-19. Assistentes operacionais das escolas que ficaram disponíveis com o encerramento das aulas, foram para ali ajudar e notava-se como tudo flui. Entre os voluntários destacava-se uma jovem do Corpo Nacional de Escutas, de um agrupamento da zona, ajudando as pessoas em tudo o que fosse necessário, sempre sorridente e disponível. O pessoal da proteção civil mostrava-se também sempre atento.
No centro de vacinação da Azambuja sentia-se bastante, talvez por ser mais pequeno, o espírito de grupo, o envolvimento de todos, possibilitando, inclusive, momentos de partilha de testemunhos, com a equipa da SRSul manter-se sempre acompanhada pela Médica Maria Manuel, presidente do conselho clínico do ACES. A Médica de serviço naquele centro de vacinação também se juntou à conversa e todos falaram sobre as alegrias e as tristezas que se vão vivendo dia a dia, num espírito muito solidário.
Talvez um ar condicionado pudesse ajudar a melhorar o ambiente naquele pavilhão municipal. Sentia-se o calor ambiente. Segundo nos disseram, a autarquia já foi sensibilizada para isso. A capacidade de vacinação é de cerca de 400 pessoas por dia, funcionando simultaneamente cinco gabinetes com outros tantos Enfermeiros em actividade ininterrupta. Mas, tudo muito organizado, o que permitia que a azáfama vivida em todos os momentos não perturbasse a tranquilidade do espaço. Ninguém parava, mas parecia que também ninguém corria…
A verdade, no entanto, é que toda a equipa multifuncional está esgotada. A Enfermeira coordenadora teme que as férias de alguns Enfermeiros possam causar constrangimentos, mas também admite que há pessoas que precisam de parar para poder, depois, continuar… Carla Cunha reconheceu que é muito difícil encontrar Enfermeiros disponíveis para substituírem quem precise de descansar.
A tarde caía quando a equipa da SRSul deixou Azambuja… Foi ali deixar um abraço aos Enfermeiros que na linha da frente combatem a covid -19 e saiu dali também bem aconchegada com o espírito de entrega e de missão que pôde ver e sentir. Sérgio Branco sugeriu que o País, depois de ter aplaudido os Enfermeiros que nos hospitais enfrentaram estoicamente a pandemia na primeira, segunda e terceira vagas, deveria agora parar para aplaudir e homenagear os Enfermeiros dos Cuidados de Saúde Primários, pois são estes o grande suporte dos centos de vacinação sem descurarem o trabalho nos respectivos centros de saúde. São eles que agora estão na linha da frente. São eles os heróis…
A equipa da SRSul vai continuar por perto… mantendo a Ordem próxima dos Enfermeiros.