Semana Mundial do Aleitamento Materno: o regresso ao trabalho

  • 02-08-2023

Os benefícios da amamentação são indiscutíveis, as dificuldades são reais, mas com a ajuda de profissionais de saúde como os enfermeiros especialistas podem ser ultrapassadas. Quase todas... O regresso ao trabalho das mães é, por vezes, complicado dadas às condições, ou falta delas, nos locais de emprego. Nesta Semana Mundial do Aleitamento Materno (1 a 7 de Agosto) a Organização Mundial de Saúde centrou-se precisamente na questão de conciliar o trabalho e a amamentação.

 

"Esta fase é complicada para as mães. Os apoios na maior parte dos locais de trabalho para a amamentação são complicados. Mesmo para se fazer cumprir os horários de amamentação, a que as mães têm direito, não é fácil. Muitas empresas dificultam as mulheres", afirma Bruno Rito.

 

O Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstétrica, que trabalha no bloco de partos do Hospital Garcia de Orta, destaca que os casais "quando voltam ao trabalho muitos já não estão a amamentar há bastante tempo". "Ultrapassando a fase inicial com ajuda, quando regressam ao trabalho conseguem já fazer extracção de leite, já têm algum leite armazenado. Alguns ainda levam as bombas extractoras para os locais de trabalho e fazem a sua extracção", explica.

 

E se a lei oferece direitos às mães quando estas voltam a trabalhar, o problema acaba por estar em garantir, por vezes, o seu cumprimento e principalmente existirem condições físicas para a amamentação ou para a extracção de leite: "Ainda estamos um pouco longe do ideal. Muitas mães que eu acompanho dizem que 'isto vai ser complicado, não tenho onde fazer [extracção de leite], não tenho privacidade, às vezes tenho de ir para a casa-de-banho e estar sentada na sanita a fazer extracção de leite'."

 

Bruno Rito explica que acontece as mães ficarem sob pressão numa altura em que necessitam de estar descontraídas, pois este é um acto que pode demorar mais de meia hora. O Enfermeiro Especialista salienta que é importante as empresas não só cumprirem a lei, "como ter espaços físicos e não pressionar as mães para que elas possa ter um momento em que possam estar descontraídas e fazer a extracção de leite".

 

Mas não só: "Ter sítios próprios para armazenar. Todas as empresas que tenham mulheres a trabalhar deveriam ter o cantinho da amamentação, até onde o pai, por exemplo, possa passar lá com o bebé, para este ser amamentado e voltar depois para casa."

 

Maria Nelita Tomás refere que o regresso ao trabalho pode criar alguma ansiedade na mãe: "Várias mulheres que ainda só estão no primeiro mês e já estão a pensar que dali a quatro/cinco meses vão trabalhar. Nós vamos gerindo um bocadinho e vamos dizendo que é algo normal, que não é por ter uma criança que vamos deixar de trabalhar. Vai-se gerindo as coisas."

 

No entanto, uma causa da ansiedade passa precisamente por poder não encontrar o apoio necessário no local de trabalho. A Enfermeira Especialista em Saúde Materna na USF da Cova da Piedade, do ACES Almada/Seixal explica: "Normalmente mostramos a legislação para falarem nas empresas e às vezes até ajuda porque acontece algumas não terem noção desta. Tentamos dar apoio à mãe quando precisa. Tentamos fazer tudo o que podemos para pelo menos amamentar até aos dois anos de vida."


A influência das redes sociais e não só

 

Se o regresso ao trabalho é o ponto marcante, a preparação começa ainda antes do parto. O Enfermeiro Especialista Bruno Rito dedica-se a esta área da saúde há mais de 15 anos. E muito tem mudado.

 

"Mudou muito mesmo. A mudança desse tempo para hoje foi radical em termos exigência, até em termos de abordagem. E muitas coisas mudaram para muito melhor, sobretudo os cuidados a nível de obstetrícia", frisa.

 

Um dos pormenores que aponta é a idade com que muitos casais optam por ter o primeiro filho. É cada vez mais habitual terem mais de 30 anos e a forma de os abordar difere comparativamente aos casais mais novos, sendo impossível não referir a influência das redes sociais e toda a informação online que hoje facilmente se acede.

 

"Casais acima dos 30 normalmente bebem muita informação. É uma gravidez tardia, têm algum receio que as coisas corram menos bem. Depois temos um problema que são as redes sociais. Estas têm estado lentamente a transformar os pais e a obrigá-los a tentarem ser os pais perfeitos. Ou seja, eles lêem tanta informação, absorvem tanta informação sem haver qualquer filtro. Esses pais são sabem filtrar e depois misturam essa informação toda, tornam-se demasiado exigentes, colocam demasiadas expectativas nos seus projectos de serem pais", alerta Bruno Rito.

 

Os livros de auto-ajuda, sites, blogues, toda a informação acessível nem sempre facilita a tarefa de quem quer ajudar os pais. "Não é fácil... Esta geração de pais que ronda os 30 para cima, é uma geração que está sempre à procura do máximo conhecimento possível, estão muito online, pesquisam todos os artigos e estudos à volta das necessidades que têm. É importante ajudá-los a filtrar essa informação e ficaram só com aquela que é importante", diz.


 A importância do acompanhamento pré e pós-parto

 

O Hospital Garcia da Orta ganhou o reconhecimento da UNICEF de "Hospital Amigos dos Bebés". Isto significa que todos os que trabalham no bloco de parto têm formação específica na área da amamentação.

 

No entanto, o trabalho começa muito antes e a importância de um acompanhamento que se inicie ainda antes do parto é essencial, como explica o Enfermeiro Especialista Bruno Rito: "O trabalho feito por nós começa ainda na fase da gravidez, com o curso de preparação para o parto e acompanhamentos da parentalidade. Falamos da amamentação em si, das vantagens que existem. Os apoios por parte dos enfermeiros especialistas são muito importantes."

 

"Nessa fase inicial, para que consigam ter sucesso na amamentação, se não tiverem esse tipo de apoio, o sucesso é muito baixo. Os primeiros tempos de amamentação não são fáceis. Trazer um bebé para casa, com tudo o que há para fazer, às vezes não é fácil e compromete o sucesso da amamentação."

 

A questão da idade é novamente referida: "O primeiro mês é de alta dificuldade. É um bebé que vem para casa, que assusta muitos pais. Depois temos este paradigma novo que é o pais terem o primeiro filho já com alguma idade. Já têm hábitos de vida muito enraizados, regras muito apertadas para eles próprios no nível de exigência do dia-a-dia, nas vidas profissionais."

 

E acrescenta: "Quando o bebé chega, o grau de exigência por parte dos pais é elevadíssima, a expectativa é elevadíssima. Isso às vezes gera muita frustração. Há que trabalhar com os pais antes, durante e após. Isto vai fazer toda a diferença."

 

Quanto ao "após", um problema de continuar esse acompanhamento está na falta de recursos, como realça Bruno Rito. "Os recursos na comunidade não são muitos. Os pais depois de saírem das maternidades, a maioria deles, vêem-se sozinhos neste desafio da amamentação. Os Cuidados de Saúde Primários não têm por vezes profissionais em número suficiente ou estão ocupados com outras actividades, outras áreas também inerentes e acaba por este apoio faltar", afirma.

 

Para conhecer melhor os benefícios da amamentação e esclarecer qualquer questão que tenha, fale com o seu Enfermeiro Especialista.