Pela segurança dos trabalhadores

Os Enfermeiros são o garante da qualidade da vigilância da saúde dos trabalhadores. Neste dia dedicado à Segurança e Saúde do Trabalho, a SRSul homenageia todos os seus Membros envolvidos na saúde ocupacional e apela às instituições e empresas para que invistam na qualificação dos profissionais de saúde, nomeadamente nos Enfermeiros do trabalho. Apresentamos, aqui, para assinalar este dia e nos ajudarem a reflectir sobre este tema, o testemunho de duas experientes Enfermeiras: Deolinda Cartaxo e Fátima Ramalho.

Veja aqui a apresentação deste trabalho no Youtube.

 

Para Fátima Ramalho, da Equipa de Coordenação do Programa Nacional de Saúde Ocupacional da Direcção-Geral da Saúde, “esta é uma das áreas de intervenção da Enfermagem do trabalho, em todos os settings de actuação, que garante o acesso à saúde de qualidade, protegendo os mais vulneráveis, promovendo a saúde e o bem-estar, prevenindo os riscos profissionais, abrangendo todos os trabalhadores e assegurando a equidade do acesso aos cuidados de enfermagem diferenciados por todos os trabalhadores em todas as idades, contribuindo para o desenvolvimento sustentável”.

 

A pandemia trouxe novos contextos, muito rápidos e inesperados. Diz a Enfermeira: “ Se numa primeira fase estas alterações foram encaradas de forma positiva pelos trabalhadores, nomeadamente no que se refere ao teletrabalho, hoje em dia, e decorrido um ano, verifica-se uma elevada exposição a riscos psicossociais, havendo a necessidade de proteger a saúde dos trabalhadores no que diz respeito à organização e condições de trabalho (disponibilidade permanente, solicitações constantes).

 

Assim, em sua opinião, é necessário pensar em respostas a emergências/crises de saúde pública como também a emergências económicas e sociais. Para isso, alerta, “será necessário robustecer os sistemas de segurança e saúde do trabalho, investindo na qualificação dos profissionais de saúde ocupacional, nomeadamente dos Enfermeiros do trabalho”.

 

Pois, o papel do Enfermeiro é de grande relevância numa empresa.

 

Afirma a Enfermeira do trabalho Deolinda Cartaxo: “O seu propósito vai para além da vigilância da saúde dos trabalhadores, da promoção da saúde, dos primeiros socorros, e da identificação, avaliação e controlo dos riscos profissionais”. Porque, explica, “o Enfermeiro está presente, acessível, é promotor de saúde, educador, conselheiro…. Estabelece uma comunicação assertiva, identifica fragilidades, promove a literacia em saúde, o empoderamento e promove escolhas que correspondam às necessidades, motivações, crenças e expectativas dos trabalhadores inseridos na família, no contexto laboral e na comunidade.”

 

Dito isto, apela: “Reflictamos sobre as nossas práticas, ajuizemos sobre o seu impacto na vida das pessoas, sejamos auto-críticos, perseverantes, valorizemos o registo. Devemos também divulgar o trabalho realizado junto de trabalhadores e empregadores, assim como reportar resultados”. Em seu entender, há ainda um caminho a percorrer: “Mais saberes, competência, autonomia, valorização social e económica, maior satisfação pessoal e profissional e cuidados de enfermagem de maior qualidade”.

 

Tendo presente a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, onde constam os 17 objectivos de desenvolvimento sustentável - como a visão comum para a Humanidade e um contrato social entre os líderes mundiais e os povos – considera Fátima Ramalho: “Pode a Enfermagem contribuir de forma sustentada para os vários objetivos nela inseridos. Por exemplo, promovendo a literacia em saúde e capacitando no ciclo de vida, ao nível individual (trabalhador), grupos (trabalhadores e família) e comunidades, tendo presentes, sempre, os impactes ambientais e a sua influência nos descritores da saúde humana”.

 

Lembra ainda Fátima Ramalho: Desde 2014, após a publicação da Orientação nº 9/2014, de 3 de Junho pelo Programa Nacional de Saúde Ocupacional da Direcção-Geral da Saúde,  tem havido um aumento das competências diferenciadas dos Enfermeiros na área da saúde ocupacional de forma a que sejam o garante da qualidade da vigilância da saúde dos trabalhadores, promovendo mudanças de atitudes e comportamentos que favoreçam a promoção da saúde e a capacidade para o trabalho dos trabalhadores.

 

Posteriormente, o Regulamento n.º 372/2018 de 15 de Junho da Ordem dos Enfermeiros veio contribuir para projectar o futuro do Enfermeiro do Trabalho que integra e valoriza a dimensão da investigação no desenvolvimento da enfermagem do trabalho. 

 

Isto é o resultado de um caminho trilhado pelos Enfermeiros, como refere Deolinda Cartaxo com o seu testemunho pessoal de vida.

 

“Comecei esta experiência como Enfermeira numa empresa, sem qualquer formação específica, e o meu desempenho correlacionava-se com outros profissionais, nomeadamente Médico do Trabalho, Técnicos de Segurança e Recursos Humanos. Era então uma figura sem autonomia, muito vinculada à figura do médico e que executava tarefas prescritas ou delegadas.”

 

Mas, entretanto, registaram-se avanços. Diz: “Nos últimos anos, as empresas modificaram a sua cultura organizacional, revelam-se mais sensibilizadas e demonstram uma preocupação crescente relativamente à saúde e à segurança dos seus trabalhadores, assumindo uma maior responsabilidade social. Isto traduziu-se em equipas mais saudáveis, motivadas, produtivas e competitivas com diminuição do absentismo, da ocorrência de acidentes e de doenças profissionais.”

 

E prossegue: “Actualmente, estou na mesma empresa, mas com uma intervenção mais abrangente, quer na sua diversidade quer na sua complexidade. Integro a equipa de Saúde Ocupacional onde é possível definir estratégias conjuntas com os outros profissionais, respeitando os limites de competências de cada um e atingimos objetivos conjuntos. Presentemente, tenho autonomia para organizar e gerir cuidados de saúde, desenvolver programas activos de promoção da saúde, reportar e intervir em situações laborais que possam comprometer a saúde e/ou a segurança.”

 

Deolinda Cartaxo acrescenta ainda que, ao longo dos anos, tem desenvolvido um percurso na gestão de constrangimentos e na aquisição de saberes científicos e operacionais, utilizando as oportunidades com iniciativa, pro-actividade, intervenção e perseverança. Tudo isto “tem contribuído para a ‘construção’ da identidade do Enfermeiro do Trabalho”, esclarece.

 

O Dia Mundial da Segurança e Saúde do Trabalho, é assinalado anualmente no dia 28 de Abril pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), sendo que em 2021 tem como lema: “Antecipar, preparar e responder às crises- investir agora em sistemas de segurança e saúde do trabalho resilientes”.

 

O dia 28 de Abril é também o Dia Internacional da Comemoração dos Trabalhadores Mortos e Feridos, organizado mundialmente pelo movimento sindical desde 1996.

 

Em Portugal foi instituído como o Dia Nacional de Prevenção e Segurança no Trabalho através da Resolução n.º 44/2001, de 27 de Junho da Assembleia da República.

 

A SRSul, agradece às Enfermeiras Deolinda Cartaxo e Fátima Ramalho o excelente contributo para este trabalho realizado com o apoio do Conselho de Enfermagem Regional, agradecimentos extensivos a todos os Enfermeiros do Trabalho que sempre dão o seu melhor na prevenção dos riscos profissionais e na promoção de melhor qualidade de vida no contexto laboral.