Os constantes desafios na segurança e saúde no trabalho

  • 28-04-2023

Num mundo em constante evolução e no qual o mercado do trabalho não foge à regra, quando um terço das nossas vidas é a trabalhar, a segurança e saúde não são só pontos essenciais, como as empresas já entendem cada vez mais como é importante apostar no bem-estar dos seus trabalhadores para assim serem competitivas.

Nas últimas duas/três décadas houve "grandes evoluções em termos de segurança e saúde no trabalho", garante José Fortunato, enfermeiro do trabalho. Mas ainda há a melhorar. Neste 28 de Abril assinala-se o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, uma área em que os enfermeiros têm um papel activo, fazendo parte de uma equipa que contribui para que as melhores condições laborais sejam oferecidas aos trabalhadores.

"A evolução tem sido muito grande. Estamos muito melhor do que há 20 anos. Mas, infelizmente, alguns empregadores, quer por desconhecimento, quer pelos custos que são inerentes a esta actividade, assumem poucas responsabilidades relativamente à segurança e à protecção da saúde dos seus trabalhadores", destaca José Fortunato, que há muito se dedica a esta área.

"Em algumas situações nem sequer têm conhecimento que têm responsabilidades e obrigações. Estas responsabilidades têm muitas vezes suporte legal, com o objectivo de proteger os trabalhadores. O trabalhador tem sempre direito a prestar o trabalho em condições de segurança e de saúde e cabe ao empregador assegurar que essas condições existem", acrescenta.

 

Os novos riscos

"Suportar todas estas despesas da organização e funcionamento desses serviços" é, por vezes, um problema. "Às vezes há uma certa dificuldade", diz o José Fortunato.

O enfermeiro do trabalho realça que "há sempre um caminho para melhorar até porque o mundo não é estático". Salienta que novos riscos surgiram e que têm de ser avaliados: "Todos nós nos apercebemos, então agora nos últimos anos, quer na evolução tecnológica, quer na área da digitalização, quer da transição para os empregos verdes, com as novas formas de organização do trabalho, que trouxeram novos riscos."

José Fortunato destaca os riscos psico-sociais, que estão relacionados "com o stress no local de trabalho, com a área do assédio e do bullying".

"Os empregadores têm de fazer essa avaliação desses riscos e implementar medidas para os reduzir. Muitas vezes não se consegue reduzir a zero, mas temos de os minimizar para que isso não provoque alterações na saúde dos trabalhadores", frisa.

A importância do enfermeiro

O papel do enfermeiro tem enorme relevância em todo o processo, "quer na fase de colaboração com os técnicos de higiene e segurança na avaliação e identificação dos riscos, quer na promoção e na protecção da saúde".

José Fortunato dá dois exemplos da relevância do enfermeiro: "Geralmente é a pessoa que está presente durante mais tempo neste tipo de serviços. É a ele a quem chega as primeiras alterações de saúde nos trabalhadores. É ele que identifica algum risco que esteja a ocorrer e que prejudique a saúde desses trabalhadores."

"É ele também que colabora com o técnico de higiene e de segurança no estabelecimento das medidas de prevenção que são necessárias para que, após a detecção precoce dos sinais e sintomas que o enfermeiro identificou e que estão ligados ao trabalho, haja condições através do estabelecimento das medidas de prevenção, para limitar e controlar a progressão e as suas consequências."

É peremptório em reiterar a importância do trabalho em equipa, na colaboração com os técnicos de higiene e de segurança, sem esquecer o médico do trabalho.

"É importante, neste espírito colaborativo do enfermeiro, na readaptação e na reintegração do trabalhador com a incapacidade. É também um trabalho que se faz, sem esquecer o papel do médico de trabalho que também é importante. É uma equipa multidisciplinar e o enfermeiro faz parte dela", realça.

No que diz respeito à área da saúde no trabalho, o enfermeiro colabora na execução dos exames, na formação e informação dos trabalhadores, na promoção nos hábitos saudáveis através do ensino numa alimentação saudável, do estímulo ao exercício físico, na prestação de primeiros socorros em caso de acidentes de trabalho...

"É um trabalho de equipa que envolve todas as pessoas que fazem parte do serviço de segurança e saúde no trabalho e o enfermeiro é o elemento que geralmente está mais próximo dos trabalhadores", reforça José Fortunato.

Mas há mais um ponto importante a focar: a promoção da saúde através da formação, do ensino, até porque, como refere José Fortunato, os trabalhadores levam o que aprendem para casa: "Não é só o local físico na empresa, no escritório, ultrapassa esse local e que se transporta para a família, levando esse conhecimento de literacia em saúde para todas as pessoas. Aí poderemos dizer que o enfermeiro desempenha um papel de educador para a saúde."

Os constantes desafios

Há a necessidade de se estar constantemente atento aos novos desafios que surgem com as mudanças no mercado de trabalho, que trazem novos riscos aos trabalhadores.

José Fortunato fala nas "alterações demográficas" que "trazem hábitos diferentes e aos quais nós temos que nos adaptar também".

Deixa a questão: "No fundo, o que podemos fazer mais ou que queremos fazer mais para melhorar o bem-estar no local dos trabalhadores para depois se conseguir aumentar a competitividade das empresas?"

Considera que é um esforço conjunto entre todos os profissionais que trabalham numa empresa. "Tem que envolver as instituições governamentais e todos têm de trabalhar em conjunto para mantermos e melhorámos a cultura de prevenção, quer de avaliação dos riscos profissionais e adaptá-los a este novo mundo do trabalho, temos que apostar também na prevenção e redução quer dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais, quer muitas vezes também na gravidade dos acidentes de trabalho", afirma.

Os custos sociais podem ser elevados, afinal estamos a falar da perda de produtividade, da perda de saúde do trabalho, da qualidade de vida, tudo acarretando custos financeiros com seguros e indemnizações, por exemplo.

"Quando um trabalhador vê diminuída a sua capacidade de trabalho - e, como disse, o seu espaço hoje não se limita à empresa - a sua saúde mental e saúde física, bem-estar físico, se não for readaptado, se não reintegrado como deve ser na empresa, este bem-estar físico e mental e no fundo também social, vai ser afectado, vai ser diminuído", alerta.

Com a aposta em medidas que promovam o bem-estar do trabalhador, José Fortunato acredita que é possível ter "um ambiente seguro e mais saudável para todos".

"As empresas já começam a perceber que para estarem competitivas no mercado, têm de ter trabalhadores saudáveis e adaptar-se ao trabalho que exercem", conclui.