Um gesto que salva vidas

  • 05-05-2021

Dia Mundial da Higiene das Mãos parecer ser uma efeméride tão insignificante quanto banal parece o gesto de nos lavarmos com água e sabão. Mas, é impossível evocar a história da Enfermagem sem recordar Florence Nightingale, a mulher que impôs a lavagem das mãos aos que cuidavam dos soldados feridos na guerra da Crimeia (meados do século XIX) tendo-se depois percebido que esse simples gesto teria sido crucial para a salvação de muitas vidas.

 

Higiene das mãos está pois ligada ao espoletar da ciência na arte do cuidar, sabendo-se que Florence Nightingale impôs, depois, que as enfermeiras lavassem as mãos várias vezes ao longo do dia e “se também lavarem a cara tanto melhor”. Regra de higienização cuja importância se voltou a acentuar no contexto da pandemia do coronavírus, em 2020, ano em que por coincidência, ou talvez não, foi proclamado o “Ano Internacional do Enfermeiro”, reavivando a memória e a importância daquela que foi a percursora da Enfermagem Moderna. Curiosamente, 2020 foi também o ano que que se comemorou o segundo centenário do nascimento da Enfermeira que ficou conhecida como a Dama da Lamparina, figura muito popular em Inglaterra onde desde 1989 existe um museu seu com o seu nome.

 

Faz pois todo o sentido que no contexto da Enfermagem se assinale o Dia Internacional da Higiene das Mãos. Tanto mais que se trata de um gesto que significa, sobretudo, prevenção,  princípio que vem ao encontro dos apelos frequentemente reiterados pelo presidente da SRSul, Enfermeiro Sérgio Branco, no sentido de que, ao nível dos cuidados primários, o foco seja colocado mais na prevenção e menos na reacção  e, desse modo, o Ministério da Saúde seja, de facto, da Saúde e não da Doença.

 

Note-se que o livro de Florence Nightingale – Notes on Nursing -  data já de 1860  e nele se sublinha a importância da higiene das mãos. Mas, não só. Ali também se lê que "cada canto e cada buraco" de uma casa deveriam ser limpos, para evitar a propagação de doenças. Aconselhava-se a instalação de esgotos, a fim de combater doenças transmitidas pelas águas, como a tifoide ou a cólera; pedia-se para se evitar excessiva produção de fumo entre quatro paredes e para se substituir o papel de parede por tinta; e se dizia ainda que as janelas deveriam ser abertas com frequência para que entrasse luz e vento contra a estagnação doméstica.

 

Florence Nightingale mantinha-se informada sobre os avanços científicos e essa terá sido uma das razões pelas quais se destacou no campo da saúde pública. O seu nome chegou, inclusive, a Portugal. O Rei D. Pedro V  escreveu-lhe a pedir conselhos para o hospital que pretendia construir em Lisboa, segundo refere o biógrafo Mark Bostridge, em Florence Nightingale The Woman and Her Legend (2008).

 

O Dia Mundial da Higiene das Mãos assinala-se a 5 Maio e foi criado pela OMS para chamar a atenção para a importância da higienização das mãos. O simples e rápido acto de lavar as mãos com sabão impede em 40% a incidência de infecções tais como a diarreia, gripe, resfriado, erupções e doenças de pele, dores de garganta, infecções no ouvido e estômago. Muitos fungos e germes acumulam-se nas mãos e são facilmente transmitidos a outras pessoas. Além de prevenir e atenuar as infecções, o hábito de lavar as mãos com sabão fomenta a segurança dos doentes, profissionais e de todas as pessoas com as quais se contacta no dia-a-dia.