Partiram mais de 18 mil Enfermeiros

  • 23-01-2020

Partiram mais de 18 mil Enfermeiros e mais de quatro mil encontram-se em local desconhecido.

 

É assustador o número de Enfermeiros que abandona Portugal. 18 mil já nos deixaram, e revela-se preocupante que no ano passado mais de quatro mil tenham solicitado a declaração de equivalência, número que em percentagem significa um aumento de 64% comparado com  2018. O triplo relativamente a 2017. E muitos dos que saem em busca de melhores condições de trabalho e de vida nem sequer declara para onde vai: a Ordem dos Enfermeiros (OE) desconhece o paradeiro de pelo menos 4255. Por onde andarão?

 

Em concreto, a OE contabilizou 4506 solicitações de certificado de equivalência para exercer no estrangeiro, contra os 2736 de 2018 e os 1286 em 2017.

 

“Temos os melhores Enfermeiros do mundo, mas acolhidos por outros mundos que não o seu”, diz Sérgio Branco, presidente da SRSul da Ordem dos Enfermeiros, recordando que, em Portugal, necessitaríamos de contratar, pelo menos, mais 30 mil para nos situarmos em rácios similares aos da média da OCDE que correspondem, aproximadamente, a nove Enfermeiros por 1000 habitantes.

 

O presidente da SRSul recorda que estamos a assinalar o Ano Internacional do Enfermeiro. Em seu entender, a efeméride deveria constituir uma oportunidade para encorajar a sociedade a um maior investimento na força de trabalho da enfermagem. Comparando os números de 2018 com 2019, Sérgio Branco assinala, com preocupação, que na OCDE o rácio médio de enfermeiros por 1000 habitantes baixou de 9,16 para 8,80. Neste sentido, apela para que 2020 seja, de facto, um ano de crescimento não só do perfil e do status da enfermagem, mas também do número de Enfermeiros nas unidades de saúde, sobretudo em Portugal.

 

Confrontada com os dados do primeiro semestre do ano passado, com 2321 pedidos de declarações, a Ordem havia alertado para a possibilidade de se registar em 2019 a maior vaga de emigração de sempre, o que acabou por se concretizar. O ano fechou com números muito além dos previstos.

 

Para a bastonária da OE, trata-se de uma situação preocupante que “diz muito sobre o estado da Saúde em Portugal e, em particular, sobre a forma como os profissionais são tratados”. Ana Rita Cavaco explica esta realidade com a ausência de contratação, apesar da carência de Enfermeiros no nosso País, e com as condições de trabalho. “No estrangeiro, os Enfermeiros têm a formação e a especialidade pagas, têm, efectivamente, uma carreira com diferenciação salarial, mas, acima de tudo, são reconhecidos e acarinhados”.

 

O Reino Unido, com mais de 50%, continua a ser o principal destino dos Enfermeiros portugueses, seguido de Espanha e Suíça. De sublinhar que os Emirados Árabes surgem já no sexto destino preferencial, assim como vários países fora da Europa, como a China e o Qatar, de acordo com as declarações com referência ao país de destino, informação opcional aquando do pedido do certificado.

 

Actualmente, qualquer outro país é mais atractivo para os Enfermeiros portugueses. Por um lado, são reconhecidos - em particular no Reino Unido. Por outro lado, têm uma carreira, melhores condições de trabalho e salários condizentes com a sua formação.