Enfermeiro inventa dispositivo

  • 13-04-2020

Enfermeiro português inventa dispositivo para ventiladores capaz de evitar infecções nos profissionais de saúde

Mário Gomes criou um acessório para ventiladores, procurado em todo mundo, para evitar que o ar expirado pelos doentes contamine os profissionais de saúde. Muitos profissionais foram infectados dessa forma. Vários países já estão a copiar o modelo gratuitamente.

A necessidade aguça o engenho e quando se trata de salvar vidas temos de aplaudir aqueles que, com a sua criatividade intuitiva, transformam os seus gestos em sementes de esperança.

É o caso de Mário Gomes, Enfermeiro, um operacional da linha da frente com doentes covid-19 que tem como missão, entre outras, o processo de entubação pela traqueia de pessoas que vão ser ligadas ao ventilador.

Numa situação corrente, a colocação do tubo faz-se com as precauções normais de segurança. Mas, numa doença altamente infecciosa, como a do coronavírus (SARS-CoV-2) que provoca a covid-19, tem de se assegurar o total bloqueamento da passagem de ar contaminante do doente para o exterior. O uso deste bloqueador (clamp) é normal quando se trata de doenças muito infecciosas e já existiam acessórios para esse efeito no mercado. Mas, sendo raros os casos, rapidamente se esgotaram e a sua reposição mostrou-se impossível na emergência provocada pela pandemia. Os profissionais de saúde estavam a utilizar pinças, grampos e outros materiais para suprir a falta do clamp, mas sem qualquer segurança. Suspeita-se que muitas das infecções entre os profissionais de saúde tenham ocorrido por esta via.
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Disse o Enfermeiro. “Na minha preparação pessoal e institucional, para esta situação pandémica, reparei que, de acordo com os mais recentes protocolos de abordagem à vítima com covid, estes obrigam a total ´’clampagem’ do tubo orotraqueal aquando da entubação. Apercebi-me, então, que não existia disponível equipamento adequado, de manuseio e fácil acesso, que garantisse, em simultâneo, a segurança do procedimento, do utente e do profissional”.

Mário Gomes, que tem cuidado de muitos doentes no Hospital da CUF Infante Santo – unidade dedicada exclusivamente à covid-19 – é um apaixonado pelas novas tecnologias e tem desenvolvido algumas skills, nomeadamente na área da modelagem através da impressão 3D. O desafio de criar um dispositivo capaz de salvar a vida de doentes e salvaguardar a sua saúde a dos seus colegas, empurraram-no para este repto de inventar um material clínico rapidamente e financeiramente acessível. Lembrou-se, então, de partilhar a ideia com o amigo Márcio Pereira, músico profissional da banda da Marinha e exímio a desenvolver modelos 3D.

Os dois pensaram num modelo e imediatamente o comunicaram a uma rede de voluntários que possuem impressoras com tecnologia 3D. Estes, prontamente se disponibilizaram para agarrar a tarefa hercúlea de, em pouco tempo, imprimir milhares de dispositivos de qualidade entregues às mãos de quem deles mais precisa, por todo o território nacional, de forma totalmente gratuita.

Mário Gomes explicou: “Foram milhares de horas de impressão acumuladas! Muitas centenas de quilos de matéria prima! E muitos inputs de melhoria do design até chegar a versão final, que neste momento já foi solicitada por países como Perú, Brasil e Bolívia para produção local do mesmo modelo!”

Mário Gomes é um dos nossos heróis na linha da frente. Mas, mais do que herói, sente-se, sobretudo, agradecido – o que é típico nos heróis. Disse: “Uma comunidade civil magnífica, a quem muito agradeço por todo o esforço, a troco de apenas querer potenciar a melhor qualidade do trabalho de milhares e milhares de profissionais de saúde por todo o Portugal, e agora por todo o mundo”.

Portugal está seguramente muito orgulhoso dos seus Enfermeiros.