Dedicação total numa realidade diferente dos grandes centros urbanos

  • 26-05-2023

A Enfermagem@Sul esteve mais uma vez no terreno, desta feita no distrito de Beja. Esta iniciativa da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros que tanto promove a proximidade, não só detectou constrangimentos e falhas a corrigir, como viu de perto a dedicação dos colegas numa realidade tão diferente dos grandes centros urbanos.

 

Esse é um dos pontos que é de imediato destacado pela Enfermeira Sílvia Fernandes. A Secretária da SRSul salientou "a satisfação dos colegas", tanto com o seu trabalho e também em "verem que é uma Ordem que está para e com os enfermeiros".

 

"Estive em sítios onde as pessoas apesar de terem constrangimentos - e não é um desconforto que sentem, é um constrangimento - para prestar os cuidados, são pessoas com um ar feliz, equilibrado, uma paz como eu ainda não tinha encontrado noutros sítios", admitiu.

 

Esta iniciativa, que tão bem tem sido acolhida, abrangeu a 23 e 24 de Maio os Centros de Saúde de Almodôvar, Alvito, Barrancos, Beja, Castro Verde, Cuba, Mértola Moura, Odemira, Ourique, Serpa e da Vidigueira e Hospital de Beja. Os enfermeiros afirmaram várias vezes a importância desta proximidade, de se sentirem acompanhados, sendo que é a oportunidade ideal para a Ordem explicar pontos essenciais como a regulação da profissão, da prestação de cuidados e como através do site podem ter acesso a formação online gratuita ou uma porta para a concretização de projectos. E são vários os que estão a ser preparados ou já a ser executados.

 

"Finalmente alguém da Ordem veio junto de nós ouvir-nos e perceber aquilo que nós passamos. A nossa realidade, não é a dos nossos colegas de Lisboa", foi dito nesta visita, assim como "nunca ninguém se lembra de nós".

 

Constrangimentos apontados

 

Os constrangimentos são muitos, começando pela dispersão geográfica, a população envelhecida e a baixa literacia em saúde. Tal "faz com que nem sempre a informação que o enfermeiro tenta transmitir a nível da prevenção primária e até secundária, seja recebida tal como pretendem". A Enfermeira Sílvia Fernandes realça que, mesmo assim, os colegas "conseguem chegar à maior parte da comunidade".

 

Uma das preocupações detectada prende-se com os indicadores contratualizados não representarem os cuidados de enfermagem que são efectivamente prestados à comunidade. "São indicadores elaborados para uma equipa multiprofissional. Faltando um médico, os enfermeiros não deixam de prestar assistência, mas não é contabilizada. Não podem contabilizar esse cuidado e, por isso, os indicadores não reflectem o trabalho de enfermagem", explica.

 

A pouca resposta no serviço de urgência básica é também apontado como um dos constrangimentos: "Há uma dificuldade nesse acesso. Muitas vezes, recorre-se aos Centros de Saúde e aí há falta de recursos materiais para dar resposta."

 

Neste aspecto as equipas da SRSul detectaram falhas a precisarem de ser abordadas. É o caso de desfibrilhadores sem pás ou com baterias insuficientes, camas que não passam portas, obrigando o doente a ter de ser colocado numa cadeira de rodas, falta de macas e de máquinas de realização de análises básicas essenciais e gasometria, por exemplo.

 

A destacar também que as dotações seguras não estão asseguradas a nível hospitalar e que estão comprometidas em alguns Centros de Saúde obrigando a que algumas extensões estejam abertas apenas uma ou duas vezes por semana. Foi notada ainda a necessidade de cuidados de enfermagem especializados nomeadamente ao nível da Saúde Materna e Obstétrica e da Reabilitação. Apesar destes rácios o esforço dos enfermeiros para darem resposta à necessidade dos seus utentes era evidente e meritória.

 

Mais pormenores a melhorar: triagem da mulher grávida junto à urgência obstétrica sendo realizada pelos EESMO, sendo necessária a formação em triagem de prioridades de Manchester; nos SUB existiram pelo menos três enfermeiros, garantindo através de sistema de chamada/prevenção a existência de enfermeiro supra equipa do SUB, em caso de transporte para o Serviço de Urgência Médico-cirúrgica; garantir que os SUB são apenas utilizados para a prestação de cuidados de saúde e de enfermagem de urgência, retirando da sua responsabilidade qualquer administração de medicamentos "habituais ou de rotina" de acordo com esquema ou protocolo e os tratamentos a feridas agudas ou crónicas que são da responsabilidade das UCSP/USFs.

 

Os desafios para cuidar de todos

 

"Outro problema que nos disseram, é a dificuldade nos cuidados na população migrante", disse a Enfermeira Sílvia Fernandes. Em regiões que recebem muitas pessoas que nem português por vezes falam, acompanhá-las não é fácil. Um exemplo dado foi como mulheres em final de gravidez nunca tiveram uma consulta de vigilância. Mas depois do bebé nascer, os enfermeiros revelam como "desaparecem", não conseguindo acompanhá-los no pós-parto e nem dar as vacinas necessárias.

 

"Estas pessoas dão uma morada e ao fim de uma semana os enfermeiros vão fazer uma visita domiciliária e já não encontram lá ninguém", refere.

 

Apesar dos constrangimentos, estes enfermeiros revelaram uma enorme persistência para fazer chegar os cuidados de saúde a todos: "Estão focados no cuidado à comunidade, à pessoa no seu ciclo vital."