Enfermagem avançada

  • 17-11-2020

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é uma doença respiratória muito incapacitante, que se caracteriza por uma limitação progressiva e persistente do fluxo aéreo, resultante de uma resposta inflamatória crónica das vias aéreas e do pulmão em resposta a gases e partículas nocivas inaladas. A ocorrência de exacerbações e de comorbilidades contribui para a gravidade da doença. O tratamento, para além da cessação tabágica, é baseado na sintomatologia e na reabilitação pulmonar.

 

Assim, enquanto doença crónica possível de prevenir e tratar, são vários os desafios colocados à Enfermagem e aos Enfermeiros especialistas em reabilitação. As suas intervenções de Enfermagem avançada podem contribuir para o aumento da qualidade de vida, a diminuição das comorbilidades e a redução dos reinternamentos. Podem também concorrer para uma maior racionalização dos custos envolvidos na gestão da doença.

 

Em homenagem a todos os Enfermeiros que salvam vidas nesta área, e querendo nós perceber que tipo de atos clínicos realizam, e que tipo de relação terapêutica estabelecem com os doentes, a SRSul, neste dia mundial dedicado à DPOC, ouviu Frederico Fortunato, 35 anos, que, desde o Hospital da Luz Lisboa, nos disse:

 

“Como enfermeiro especialista em reabilitação na consulta de Enfermagem DPOC, centro a minha intervenção na elaboração, em cooperação com os outros profissionais da equipa multidisciplinar, de um plano terapêutico global para o doente focado na autogestão da doença, reabilitação e educação para a saúde. Para isso, identifico as suas necessidades reais e as repercussões na sua autonomia e qualidade de vida através do exame objetivo, da avaliação fisiológica, da recolha de informação sobre conhecimentos acerca da doença e gestão de sintomas, avaliando a adesão ao tratamento e o impacto da doença na qualidade de vida através da aplicação de escalas.”

 

Relativamente à relação terapêutica, explicou:

“Ciente que se obtêm melhores resultados e uma melhor adesão com uma estratégia educacional que capacite a pessoa a gerir a doença desempenhando um papel mais ativo no processo de tomada de decisão, estabeleço com o doente programas educativos individualizados e direcionados para a pessoa, adequados às suas necessidades, capacitando-o para o controlo dos sintomas respiratórios, o reconhecimento da exacerbação, a gestão da medicação e correta utilização dos inaladores, validando sempre a aprendizagem dos mesmos”.

 

A equipa de Enfermagem da consulta de Enfermagem de DPOC tem a preocupação de fornecer sempre ao doente um endereço de email para possibilitar o contacto em tempo útil.

 

A educação terapêutica, nesta área, é fundamental. Explica Frederico Fortunato: “Fruto da experiência que tenho vindo a desenvolver com os doentes com DPOC verifico que é muito frequente a dificuldade de manuseamento dos dispositivos inalatórios e a aplicação incorreta da técnica inalatória que concorrem para a falta de controlo da doença; daí que todas as oportunidades de demonstração e ensino relacionadas com a inaloterapia assumam um ponto fulcral, já que é a forma preferencial para administração de fármacos na DPOC.”

 

Frederico Fortunato chama também à atenção para a importância do exercício físico na reeducação respiratória. Diz o Enfermeiro: “Além da cessação tabágica que constitui a única forma de modificar o declínio a longo prazo da função pulmonar, outro aspeto não menos importante, e no qual incide a educação terapêutica, é a inclusão da prática de exercício físico na reeducação respiratória com o intuito de diminuir o número de agudizações, verificando-se, na maioria das vezes, a melhoria da função e consequentemente da qualidade de vida do doente.”

 

Em suma, é este o seu dia a dia:  “Formulo diagnósticos de enfermagem e proponho intervenções, centradas na relação terapêutica, onde se realça a adoção de um estilo de vida mais saudável, pelo recurso ao exercício físico, a uma alimentação saudável e à cessação tabágica.

 

Terceira causa de morte

 

No atual contexto pandémico, embora, segundo o Enfermeiro, não tenham maior risco de contrair a doença, quando comparados com a população em geral, os doentes com DPOC apresentam um maior risco de complicação grave se infetados pelo vírus SARS-CoV-2 e exigem uma abordagem sustentada nas recomendações da DGS. Assim, explica Frederico Fortunato, é necessário aplicar, de forma sistemática, “o reforço das medidas de prevenção e controlo do vírus SARS-CoV-2, nomeadamente, a aplicação da etiqueta respiratória, higienização das mãos, utilização de máscara e o distanciamento social”.

 

Sendo a DPOC uma doença previsível, tratável mas incurável, que a OMS prevê poder vir a ser em 2030 a terceira causa de morte a nível mundial, com consequências socioeconómicas importantes, tornou-se foco de um projeto de cuidados de saúde baseada em valor. Trata-se do Projeto Hercules_DPOC, liderado pela Dra. Sofia Tello Furtado, diretora dos serviços de Pneumologia do Hospital Beatriz Ângelo e do Hospital da Luz Lisboa.

 

Este projeto é multidisciplinar, baseado na evidência científica, focado numa estratégia centralizada no doente e na sua experiência, e visa a definição dos melhores cuidados a prestar por forma a garantir resultados clínicos de excelência. Sendo multidisciplinar, para além de médicos pneumologistas, de medicina interna, cuidados paliativos e fisiatras, envolve também enfermeiros especialistas em reabilitação, fisioterapeutas, técnicas de cardiopneumologia e nutricionistas.

 

As Consultas de Enfermagem de DPOC encontram-se implementadas em várias Unidades da Luz Saúde e decorrem sempre do diagnóstico e da referenciação do médico pneumologista.

 

Este trabalho da SRSul para assinalar o Dia Mundial da DPOC foi realizado com o apoio do Conselho de Enfermagem Regional.