Por uma ética dos cuidados

  • 11-02-2021

Neste Dia Mundial do Doente, a SRSul saúda todos os Enfermeiros que, envolvidos no combate à pandemia, foram também infectados pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Caíram doentes quando cuidavam de doentes. Vítimas pela coragem de enfrentar um agressor desconhecido e por um fidelíssimo compromisso com a sua profissão, os Enfermeiros são um rosto de profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e de respeito pela pessoa.

 

Ao olhar de forma muito particular para a pessoa doente, a SRSul, neste dia, pretende também deixar manifesto o seu desejo de que nenhum Enfermeiro fique sozinho quando arrastado no exercício da profissão para a condição de pessoa com necessidade de cuidados. É nestas alturas que a proximidade se vislumbra um “bálsamo precioso” sabendo nós que, nesta crise sanitária, a covid-19 é apenas uma das doenças a atingir intensivamente os Enfermeiros.

 

É neste sentido que, neste dia muito particular, a SRSul lança o apelo para que a Pessoa, a Pessoa toda, permaneça a razão de ser e de estar de todos os sistemas de saúde, no mais profundo respeito pela “Ética dos cuidados”.

 

“Ética dos Cuidados”, em nosso entender, significa o que sempre defendemos e que para nós se tornou um programa de acção: “Nunca ninguém é deixado sozinho”. “Ética  dos cuidados” significa “solidariedade fraterna” num olhar permanente pelo Outro. Por isso, neste dia, abraçamos todas as vítimas directas do vírus SARS-CoV-2, com especial afecto os Enfermeiros.

 

Mas, queremos ter também ter presente, de uma forma muito particular, todas as vítimas indirectas desta pandemia que nos impeliram a evocar a “Ética dos cuidados”. Referimo-nos aos que viram as suas cirurgias adiadas e os que foram impedidos de comparecer nas consultas programadas, nomeadamente os doentes oncológicos, e todos os que deixaram de aceder aos serviços de saúde com receio de serem infectados. Queremos também ter presente todos os que sofrem de perturbação mental por terem sido impedidos de cumprir o luto após o falecimento de entes-queridos, sem que lhes tenha sido proporcionado acompanhamento terapêutico. Do mesmo modo, queremos ter presente todas as mulheres e homens com alterações emocionais no período perinatal neste tempo de pandemia e que permanecem sem cuidados especializados. Sem esquecer os doentes de cuidados paliativos que viram os seus serviços encerrados porque as equipas que diariamente os acompanhavam foram alocadas aos serviços covid.

 

“Ética dos cuidados” significa o dever, a obrigação, de os sistemas de saúde proporcionarem à Pessoa todos os cuidados, de acordo com as necessidades prementes, na hora e no lugar devidos, seja qual for a condição psicossomática em que se encontre. Significa, pois, que ninguém é deixado sozinho, que há sempre um olhar pelo outro, mesmo que seja só pela presença – a tal “solidariedade fraterna” que se manifesta concretamente no acompanhamento. Significa, pois, estar com… porque isolar uma pessoa numa estrutura de apoio poderá não significar cuidar, mas “arrumar”… Por isso, abraçamos igualmente todos os idosos que estão “arrumados” sem cuidados de saúde condignos.

 

Neste Dia Mundial da Saúde apelamos ao dever de olhar… numa ética associada à vulnerabilidade, mantendo no centro a dignidade de todas as pessoas. Para que ninguém deixe de ter acesso aos cuidados, ao acompanhamento, na saúde e na doença… para que ninguém fique esquecido na margem!