Dar sangue: "Um dia podes ser tu a precisar"

  • 27-03-2024

"Um dia podes ser tu a precisar." O conselho é simples e direto de quem não só é enfermeira, mas também uma dadora regular. Olinda Carvalhas afirma orgulhosamente que soma 75 dádivas, mas ajuda a que muitas mais sejam feitas na Unidade de Dadores de Sangue do Serviço de Imuno-Hemoterapia do Hospital de Santa Maria, onde se dedica à recolha de sangue, juntamente com a Enfermeira Iolanda Santos.

 

A 27 de março assinala-se o Dia Nacional do Dador de Sangue. Um momento importante para destacar o mais recente apelo para dádivas, numa altura em que há escassez de dois tipos de sangue: A e 0. As campanhas vão surgindo, ainda mais em momentos críticos, pois ainda falta que a sociedade entenda a importância de se dar sangue de forma regular e não apenas quando saem alertas.

 

A Enfermeira Iolanda Santos trabalha neste serviço há 11 anos e realça como estes apelos surgem quando a situação é crítica. No entanto, defende que era importante ir mais além para consciencializar o quanto é essencial dar-se sangue.

 

"Seria importante começar logo numa fase precoce da vida, ou seja, nas crianças, transmitir a importância do sangue, para que serve e se não houver o que pode acontecer. Começando pelas crianças, se calhar, com o tempo, as pessoas vão interiorizando", refere.

 

Quanto ao adulto, uma sugestão seria um apelo mais próximo, como por exemplo, serem feitos diretamente em empresas.


Nesta unidade do Hospital de Santa Maria, que reabriu em 2013, há uma forte presença de jovens, com a faixa etária entre os 18 e os 25 anos a ter maior prevalência.

 

O significado de reservas em estado crítico

 

Para que melhor se entenda a utilização da palavra "crítica" no que às reservas de sangue diz respeito, Iolanda Santos dá um exemplo: "Pode haver cirurgias que tenham de ser adiadas por não haver unidades suficientes para as assegurar. Ou seja, pode não haver necessidade concretamente daquele doente ser transfundido, mas para serem realizadas algumas cirurgias tem que haver a segurança que há um determinado número de unidades, para o caso de haver intercorrência intraoperatório. Se não houver essa quantidade de sangue suficiente, pode acontecer essas cirurgias não serem realizadas."


E claro, há alturas do ano mais preocupantes, como a que nos preparamos para viver. É o caso da Páscoa, assim como outras épocas festivas, como o Natal ou Carnaval, sem esquecer as férias de verão. Em causa está a maior mobilidade de pessoas que não só pode levar a mais acidentes, como também faz com que muitas adiem a doação, com as reservas a ressentirem-se.

 

A motivação

 

O que motiva alguém a dar sangue? Ambas as enfermeiras referem como têm muitos jovens que ambicionam fazê-lo mal façam 18 anos. Isso e tirar a carta de condução! No entanto, entre adultos com 40/50 anos, o contactarem de perto com alguém que precisou de sangue, familiar ou amigos, faz com que decidam dar.


Foi uma situação idêntica que levou a Enfermeira Olinda Carvalhas, de 59 anos, a dar sangue pela primeira vez em 1999. O pai foi operado e, então, era pedido que duas pessoas dessem sangue. Olinda e a irmã responderam ao repto. Olinda não mais parou.


"Houve uma motivação pessoal, mas a partir daí considerei que iria ajudar mais alguém com o meu sangue. Acho que tenho contribuído para ajudar pessoas que não estão bem, que estão doentes e que precisam muito do nosso sangue".


Antes de trabalhar nesta unidade, Olinda Carvalhas esteve 25 anos na área de oncologia, pelo que viu de perto como as dádivas de sangue salvam vidas. "Os nossos doentes precisam muito de recursos de sangue a todos os níveis, principalmente os concentrados eritrocitários e as plaquetas, porque baixam muito os valores por causa dos tratamentos de quimioterapia", explicou. Já a Enfermeira Iolanda Santos teve um familiar que precisou de uma transfusão.

 

Desmistificar medos

 

Estar nesta unidade do Hospital de Santa Maria foi uma oportunidade que surgiu após uma lesão (rotura de ligamentos no ombro) que dificultava Iolanda Santos de exercer as suas funções departamento em que estava.


"Não conhecia de todo. O único contacto que tinha com componentes sanguíneos era quando chegavam ao internamento onde estava para transfundir. Nunca tinha passado pela cabeça como o sangue chegava ali", começou por contar.


"Achei muito interessante quando comecei a trabalhar nesta área, todo o processo de separação porque o que acontece aqui é uma colheita de unidade de sangue total, mas depois essa unidade vai ser separada em três componentes: plasma, concentrado eritrocitário e as plaquetas. Daí se dizer que uma dádiva pode ajudar a salvar até três vidas porque cada componente pode ir para uma pessoa diferente", acrescentou.


Ambas as enfermeiras realçam o gosto por trabalhar nesta unidade de dadores de sangue e como é recompensador ver as malas cheias de reservas de sangue após um dia de trabalho.


Apelam à dádiva tentando desmistificar medos e receios. Garantem que é um processo simples e indolor e numa hora o dador regressa à sua vida, sendo que a dádiva em si demora apenas uns cinco a dez minutos.


Com tantos jovens a dar sangue, fica a esperança que como adultos continuem e que possam transmitir aos filhos essa importância, pois se qualquer pessoa pode vir a precisar, então há que prevenir a escassez e dar sangue.