Compreender o glaucoma para melhor controlar a evolução

  • 12-03-2024

"A visão é o sentido mais desenvolvido e poderoso da espécie humana", mas o que acontece quando nos deparamos com uma realidade difícil de aceitar e cujo o resultado é uma possível perda irreversível? Glaucoma pode até não ser uma palavra completamente desconhecida, mas os seus fatores de risco e consequências estão longe do centro das atenções.

 

Neste Dia Mundial do Glaucoma, a Enfermeira Vânia Camelo (45 anos) e a Enfermeira Esmeralda Pedro (56 anos) realçam a importância da visão, sendo autoras de um projeto na área do glaucoma que visa promover formação aos profissionais de saúde que mais próximo estão da população, ou seja, nos cuidados de saúde primários, e assim também conseguir consciencializar mais utentes. O objetivo maior assenta na prevenção, no diagnóstico e tratamento precoce.

 

Há números que dão ênfase à motivação destas duas enfermeiras do Hospital de Santa Maria, a referência no país ao que ao glaucoma diz respeito. "A prevalência é de cerca 64 milhões a nível mundial, 10 milhões das pessoas são cegas bilateralmente devido ao glaucoma. É um valor assustador", salienta a Enfermeira Vânia Camelo, que há 12 anos se dedica à área da oftalmologia. E acrescenta: "Em Portugal afeta 2% da população em geral." Muitas destas pessoas têm mais de 50 anos.

 

"O nosso propósito neste projeto passa por desenvolver ações nesta área, através de estratégias de consciencialização, promovendo o conhecimento da doença por parte dos profissionais de saúde e população em geral, bem como a importância de um diagnóstico e tratamento precoce e ainda reforçando a necessidade de uma vigilância regular e rigorosa para tentar reduzir o impacto socioeconómico associado à cegueira causada pelo glaucoma", explica.

 

O que é o glaucoma

 

Ambas as enfermeiras salientam como muitas pessoas desconhecem a doença: "O glaucoma é um grupo de doenças oculares que vai afetar irreversivelmente o nervo ótico, normalmente de forma crónica e que pode conduzir à perda grave de visão e à cegueira se não for precocemente detetado e convenientemente tratado."

 

A natureza assintomática nos estádios iniciais dificulta o diagnóstico. "O glaucoma ao afetar a saúde ocular/visão periférica, tem implicações significativas na qualidade de vida", realça a Enfermeira Vânia Camelo. "A perda de visão periférica condiciona a independência, mobilidade e a realização de atividades da vida diárias, além de impactar o bem-estar psicológico", acrescenta.

 

E atenção: "A visão que a pessoa perdeu até à data do diagnóstico está perdida. Não há forma de retornar, devido à degradação das fibras nervosas." Ou seja, é uma doença que não tem cura.


Por isso mesmo, as enfermeiras consideram que o glaucoma representa um desafio significativo de saúde pública, destacando ainda como o envelhecimento da população, aliado a um aumento da esperança de vida, contribui para um crescimento da incidência.

 


Há vários tipos de glaucoma. A destacar: o de ângulo aberto (é o mais comum, sendo assintomático até à perda de visão progressiva e irreversível), o de ângulo fechado (ao contrário dos outros pode causar dor e leva a uma rápida perda de visão, sendo considerado uma emergência em oftalmologia) e o congénito (a criança nasce com a doença e deve ser tratada no imediato, sendo que no Hospital de Santa Maria já foram realizadas cirurgias em bebés com apenas dias de vida).


Não havendo, por norma, sintomas, há fatores de riscos a ter em conta e que podem levar a que seja feito um rastreio ao glaucoma: antecedentes de glaucoma na família, uso continuado de corticoides, miopia, ter mais de 40 anos, diabetes, hipertensão, cirurgias oculares, sendo que pessoas de raça negra têm maior predisposição, inclusive para as formas mais graves.

 

Manter a qualidade de vida

 

O diagnóstico e tratamento precoce, assim como uma vigilância regular fazem toda a diferença na qualidade de vida. A Enfermeira Vânia Camelo frisa a importância de se manter a terapêutica, referindo como há casos em que os colírios ou são mal colocados ou até deixam de ser utilizados, seja por dificuldades na colocação, por questões financeiras ou até, em casos de pessoas mais novas, pelo ritmo de vida que as faz não serem tão rigorosas no tratamento.


Informar, explicar o que é glaucoma e as consequências é essencial para aumentar a literacia na área, começando pelos profissionais de saúde, mas, através destes, chegar também à população. Os enfermeiros podem assumir um papel central dada a uma maior proximidade com os utentes.


"Medidas neste sentido são de extrema importância para lidar eficazmente com este problema de saúde pública, reduzindo o impacto socioeconómico associado à cegueira causada pelo glaucoma. Os cuidados de saúde primários podem ser os aliados perfeitos na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos e família", afirma.


Qualidade de vida é precisamente a expressão chave, pois alguém com o diagnóstico de glaucoma pode mudar toda uma dinâmica familiar. Por isso, para Vânia Camelo nunca é de mais reforçar a importância do diagnóstico e do tratamento precoce, para assim se controlar a doença e prolongar a melhor qualidade de vida possível.

 

 

Partilhar conhecimento

 

As Enfermeiras Vânia Camelo e Esmeralda Pedro procuram agora partilhar o conhecimento nos centros de saúde pertencentes à Unidade Local de Saúde de Santa Maria, não obstante a Unidade de Saúde Familiar escolhida encontra-se fora desta Unidade Local de Saúde: Novo Mirante, na Pontinha.


O que se pretende é que a informação chegue de forma mais célere e abrangente, com desmistificação da doença e aumento da literacia: "É sem dúvida, um longo caminho a percorrer, mas o caminho faz-se caminhando, descobrindo em grupo/equipa a melhor forma de atuar, avançando e escolhendo novos sentidos para atingir o nosso propósito."

 

Fotografias cedidas pelo Hospital de Santa Maria.