A importância da Saúde Sexual em todas as idades

  • 04-09-2023

Em 2021, Portugal tornou-se o primeiro país a assinalar o Dia Mundial da Saúde Sexual. Um marco importante para quem há muito trabalha na área da sexualidade, pois dá relevância a um aspecto da saúde que deve ser cuidado tal como a saúde física e mental.


Há cerca de 20 anos que a Enfermeira Manuela Madeira é terapeuta sexual. Considera essencial que, desde os adolescentes aos mais velhos, se esteja informado, seja para conhecer os riscos – de uma infecção transmitida sexualmente, por exemplo –, ou de formas de se manter uma boa saúde sexual, independentemente da idade.


Os desafios são diferentes no que diz respeito em passar informação às diferentes faixas etárias, mas em comum há os enfermeiros e como podem ter um papel de relevo em garantir que esta é transmitida.


O que é a saúde sexual?


Falar de saúde sexual não é apenas falar de sexualidade, como explica Manuela Madeira, Enfermeira Coordenadora na Unidade de Cuidados Continuados da Santa Casa de Misericórdia de Faro e Terapeuta Sexual na Associação de Planeamento Familiar na cidade algarvia.


“A saúde sexual abrange muitas coisas. Traduz-se num bem-estar a nível sexual, em que a pessoa se sinta feliz com a sua sexualidade, feliz com as suas práticas e com a aceitação do meio que a envolve”, começa por dizer.


“Estamos já a falar das questões da identidade de género. Há cada vez mais variáveis a ter em conta. Cada vez mais as pessoas se assumem com uma variabilidade de sentimentos e de noções de ser e de estar. Considero que passa um bocadinho pela aceitação do mundo e, principalmente, do meio onde vivem, dessas escolhas, dessas predisposições que cada um tem”, acrescenta.


E conclui: “Como tal a saúde sexual acaba por ser esse conjunto de factores, o viver feliz com as suas escolhas e viver feliz na sociedade em que se integra.”


Manuela Madeira realça como a educação e a literacia não podem ficar em segundo plano, ainda mais quando se fala com adolescentes. Ou seja, deve-se ser “conhecedor de todos os riscos, de todas as consequências”, que podem advir do acto sexual.


“Normalmente as pessoas associam a sexualidade à busca de prazer e está certo. No entanto, é muito importante que sejamos conhecedores das consequências que pode trazer”, afirma, referindo como o receio prende-se mais com o de uma gravidez não desejada. “Mas eu costumo dizer que mais importante que isso são as doenças que poderemos contrair durante esse acção”, salienta.


Como está a chegar a informação aos adolescentes


Com a educação como foco, hoje em dia há muito mais informação facilmente disponível. Porém, não significa que não se tenha de melhorar a forma de comunicar com os mais novos.


“A informação está a chegar aos adolescentes, mas acho que não está a ser suficiente. Continua a haver o projecto da Saúde Escolar, nos Centros de Saúde, em que uma enfermeira vai falar às escolas e colocar essas questões e responder a dúvidas. Sabemos que faz parte do currículo da disciplina de Ciência também falar sobre isso, mas acho que acaba por ser pouco”, afirma.


Para Manuela Madeira, a educação sexual deveria ter mais peso: “Já se fala há muito tempo, mas em termos de concretização não vejo melhoras.” A Enfermeira considera que muitos jovens acabam por não esclarecer dúvidas, mesma que sejam sexualmente activos, até por uma questão de personalidade: há sempre quem seja mais extrovertido ou mais tímido.


A questão da internet também é abordada, pois se é fácil procurar informação, não é tão fácil garantir que é fidedigna. A Enfermeira diz ter um “barómetro” em casa, como é o caso do filho de 16 anos, que já ouviu um amigo dizer algo que não estava correcto.


Aos adolescentes tenta “explicar os sites em devem procurar, como o da APF (Associação de Planeamento Familiar), que é uma das grandes fontes onde se pode obter informação fidedigna e com linguagem para os jovens e também dão apoio presencial”.


Saúde sexual não é só para jovens


“Uma das coisas que eu reparei – e já ando no mundo da sexualidade há muitos anos - foi a evolução que houve em relação aos casais mais velhos. Quando eu comecei a dar consultas eram mais os jovens que procuravam. Era muito raro ser procurada por alguém a partir dos 50. Agora não. Vemos casais que querem realmente resolver os problemas que têm a nível sexual, quer seja o desejo sexual hipoactivo, quer seja disfunção eréctil”, por exemplo, frisa a enfermeira e terapeuta sexual.


“A saúde sexual só se pode restabelecer num casal, mesmo que seja idoso, ou com limitações, se se puder ter algum prazer, nem que seja apenas num toque ou numa estimulação. A sexualidade não é apenas penetração. Explicamos isso a um casal mais idoso e eles percebem que conseguem fazer alguma coisa que lhes dê prazer”, salienta.


A importância do enfermeiro


Neste aspecto, no de “desmistificar as dúvidas, os mitos e perceber se existe alguma alteração a nível sexual”, é quando o papel do enfermeiro pode assumir-se como “importantíssimo”, defende Manuela Madeira.


“Não é um tema fácil de falar e há que puxar por ele. Nem todos os enfermeiros estão à-vontade. Não é fácil porque se entra numa área muito privada, mas as pessoas têm mais abertura para falar sobre isso”, considera.


E justifica como o enfermeiro pode ser preponderante: “É o enfermeiro, principalmente o do Centro de Saúde, o enfermeiro de família - muitos já o acompanham há muitos anos - se tiver esse interesse, que pode começar a colocar questões e dizer que não acabou aqui.”


“O enfermeiro pode cortar com esse mito da penetração ou do esforço físico que possa haver e explicar que existe uma panóplia de coisas que se pode fazer. Já vi muitos olhinhos a brilhar com esta informação!”
Reforça: “Vemos as pessoas renascer!”


Portugal pioneiro no Dia Mundial da Saúde Sexual


Manuela Madeira não hesita em considerar que ao ser o primeiro país a assinalar este dia, “Portugal mostra que se preocupa com a saúde sexual dos seus habitantes e que reconhece a importância de se lutar por uma saúde sexual de acordo com o que é desejável”.


E realça: “Quando nos questionamos o que é a saúde sexual, a sexualidade é muitas vezes a palavra de ordem e o ter saúde sexual faz-nos pensar um bocadinho melhor como uma parte importante da vida e que pertence ao puzzle da saúde, ou seja, a física, a mental e a saúde sexual, que também tem o seu peso e é importante falar-se dela.”


“Para estarmos bem de saúde, temos estar bem de tudo. Todas têm o seu peso e umas sem as outras acabam por trazer consequências para uma vida feliz.”