Somos gente

  • 12-05-2018

Começo estas breves palavras que vos endereço por pedir desculpa.

Peço desculpa porque este ano não passo o Dia Internacional do Enfermeiro onde devia, nos hospitais, junto dos meus colegas. Fica a promessa que para o ano estarei onde me sinto realizado, nos serviços ao lado dos enfermeiros. 

A título de esclarecimento, se este ano não cumpro essa vontade é porque quando me candidatei à Secção Regional Norte imaginava que dali em diante nada seria como antes. Agora sei que a nossa agenda não nos pertence, somos instrumentos da vontade dos enfermeiros e por isso, pelos vinte e três mil enfermeiros do Norte, não podíamos deixar de estar na Assembleia Geral que se realiza hoje.
Este ano, o tema escolhido para o DIE pelo ICN foi “Saúde é um Direito Humano”. Este tema é lato e permitiria uma análise política profunda
O enfermeiro, como pilar do SNS é um dos grandes responsáveis por este Direito. Somos nós que acompanhamos a pessoa desde os primeiros meses de gravidez até depois da morte. 
Ser enfermeiro não é para quem quer. É para quem consegue.
Limpamos as lágrimas do recém-nascido e da família do moribundo. Estamos lá, sempre lá.
A resiliência e o espírito de missão, são aquilo que os doentes mais nos agradecem, no entanto, são também o nosso maior inimigo. É essa entrega que permite que um sistema sem condições continue a funcionar.
Faltam enfermeiros e os sucessivos governos sabem. Porém, sabem também que não há problema. Os enfermeiros que estão hão de se desdobrar para que ninguém fique sozinho. 
Sabemos que nos corredores largos e frios dos hospitais, as luzes podem ser trémulas mas há uma candeia que nunca se apaga. O enfermeiro estará sempre lá, mesmo se não estiver mais ninguém.
Ao conhecer tão bem esta forma de estar, como português, fico comovido e sinto um alívio tremendo em saber que se amanhã fôr ao hospital terei um enfermeiro a meu lado a rir e a chorar comigo, terei alguém para me dar conforto e afastar os fantasmas. Enquanto enfermeiro, enche-me de orgulho ver o trabalho que desenvolvemos e saber que a população reconhece a nossa dedicação e entrega, mas, na qualidade de Presidente da Secção Regional, só me apetece dizer basta. Estamos a lutar contra aquilo que defendemos enquanto não dissermos basta. Se nos últimos anos perdemos o medo, agora resta-nos ganhar coragem para fazer o que está certo. Por muito que isso nos custe.
Somos e seremos sempre gente que cuida de gente, mas não nos podemos esquecer que somos gente.