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01-01-2010
Miquelina Peixoto
MIQUELINA ALVES DE OLIVEIRA PEIXOTO nasceu em São Simão de Novais, em 28 de setembro de 1932, sendo o quarto dos cinco filhos do casal Idalina Alves e Joaquim de Oliveira. Fez todo o ensino primário na vizinha freguesia de Ruivães e prosseguiu estudos até ao antigo 5.º ano do liceu, já a pensar na enfermagem, frequentando, sucessivamente, os colégios das freiras Teresianas, em Santo Tirso, e das Doroteias, no Porto. A formação específica em enfermagem fê-la junto das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, ordem religiosa que tinha aberto, poucos anos antes, a Casa de Saúde da Boavista, no Porto, uma das primeiras unidades de saúde privadas do Norte. Durante os primeiros anos, a instituição formou apenas irmãs enfermeiras, mas, dada a escassez da oferta pública na área da enfermagem, cedo abriu portas a dezenas de jovens, todos os anos, que dali saíram habilitadas para a prática profissional. Miquelina Peixoto, porém, foi mais além e optou por tirar a especialidade de “Enfermeira-parteira-puericultora”- como consta na sua primeira cédula profissional -, na Maternidade de Júlio Dinis, no Porto, que havia começado a funcionar, dezena e meia de anos antes, por iniciativa do médico e professor universitário Alfredo de Magalhães, então diretor da Faculdade de Medicina da cidade. É a ele que fica dever-se o lançamento do primeiro curso de especialização em enfermagem obstétrica no Norte do país. Miquelina Peixoto, tendo sido das primeiras enfermeiras a fazer o curso, foi a primeira profissional de enfermagem famalicense a exercer com autonomia técnico-científica as funções de parteira.
O seu primeiro emprego, no entanto, não foi no concelho de Vila Nova de Famalicão. Com vontade de trabalhar na sua área de estudos e habilitada a prestar cuidados de enfermagem a parturientes, nascituros e recém-nascidos, Miquelina Peixoto aceitou a primeira oportunidade de emprego que lhe foi oferecida e esteve a trabalhar, em meados de 1958, no posto médico da antiga Caixa de Previdência Social de Ronfe, Guimarães.
Foi breve o seu debute profissional por ali e passado um mês estava já ao serviço da idêntica unidade assistencial que existiu, durante décadas e até se revelar insuficiente para as necessidades daquela que, entretanto, se tornou na cidade de Vila Nova de Famalicão, na esquina da Pr. Álvaro Marques com a R. Manuel Pinto de Sousa, ladeando a Norte o edifício dos Paços do Concelho. Aí conheceu muita gente, trabalhou com dezenas de médicos e fez grande parte dos amigos que tem na comunidade famalicense. Mas também os fez entre os utentes das então Casas do Povo de Ruivães e Requião, onde, sem salário e apenas a troco das quantias necessárias para os transportes, aconselhava e vigiava grávidas e recém-nascidos, dava injeções e vacinava. Nos últimos anos da sua vida profissional, e a pedido dos respetivos responsáveis, esteve ao serviço dos idosos do Lar Jorge Reis da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Famalicão, em Gemunde.
Em mais de quatro décadas, e mesmo depois da reforma, Miquelina Peixoto “já perdeu as contas” ao número de grávidas, parturientes, nascituros e crianças a quem valeu, por “todo o concelho e não só”, uma vez que “nunca negou auxílio a ninguém” e foi “várias vezes chamada para Celeirós, Minhotães e Trofa”, por exemplo. Consultadas, porém, as estatísticas oficiais compiladas pela base de dados Pordata, é possível estimar que mais de 6.000 bebés, a maior parte deles nascidos no domicílio dos pais, tenham sido amparados pela enfermeira famalicense quando vieram ao mundo. Bastam algumas extrapolações para se poder chegar, com margem de segurança, a 2.000 nascimentos anuais, em média, só no concelho nas duas décadas (1960/1980) de maior atividade domiciliária da decana das enfermeiras obstetras famalicenses. A própria calcula que, por baixo, tenha estado em 15% dos nascimentos ocorridos no concelho nesse período, o que dá 300 partos anuais. “Descontadas férias e folgas, dá mais do que um por dia. Mas tive dias em que não parava, com quatro e cinco partos”, assinala a Enf. Miquelina Peixoto
GCIN/RPR