Saúde mental dos enfermeiros em análise

  • 13-03-2019

Sob o tema “Olhar Reflexivo sobre a saúde dos Enfermeiros”, decorreu nesta tarde mais uma sessão LadoaLado.Com no Auditório da Secção Regional Centro (SRCentro), em Coimbra.

Dinamizada pela Mesa da Assembleia Regional, a iniciativa contou com a apresentação de dois estudos pertinentes para a construção sistemática de conhecimento e valorização da disciplina/profissão de enfermagem.

 

A Enfª Ana Morais deu as boas vindas a todos os presentes e passou a palavra à Enfª Helena Quaresma, Presidente da Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica que, de imediato, passou a apresentar o painel.

 

Assim, o Enf. Élvio Jesus, coordenador nacional do estudo europeu “RN4Cast”, expôs diversos resultados obtidos através de inquéritos realizados em 2014 e 2018.

 

Sobre a carga de trabalho, os enfermeiros manifestaram que o número de profissionais não é suficiente para uma prestação de cuidados de saúde com segurança e qualidade.

 

Nos ambientes de prática, os profissionais de enfermagem demonstraram estar moderadamente satisfeitos, contudo identificaram o salário e as oportunidades de progressão na carreira como as principais insatisfações.

 

Mais de 50% manifestou ter intenção de mudar de serviço, pese embora mais de 50% também ter tido intenções de permanecer na profissão.

 

Na perspectiva dos utentes, analisada apenas em 2014, a cortesia, escuta atenta, explicações e assistência dos enfermeiros foi sempre melhor cotada do que a dos médicos. E a educação dos doentes e familiares, assim como falar com os doentes são as duas intervenções que mais ficam por fazer devido à falta de tempo.

 

Élvio Jesus referiu a importância de alguns destes indicadores estarem disponíveis no portal do Serviço Nacional de Saúde para consulta dos utentes porque “as boas condições de trabalho para os enfermeiros são boas condições de atendimento e serviço para os utentes (e vice-versa) ”.

 

Seguiu-se a exposição do estudo “Saúde Mental dos Enfermeiros Portugueses”, pelo Enf. Paulo Seabra, coordenador da análise.

 

Tendo participado cerca de 1200 enfermeiros, este estudo foi realizado em 2017 e incidiu sobretudo em prestadores de cuidados hospitalares, maioritariamente a trabalhar num único local. Dos dados obtidos verificou-se que mais de 50% dos enfermeiros não tinha formação pós-licenciatura e/ou especialidade. E que a maior parte dos especialistas não exercia a sua especialidade.

 

Mais de 50% dos inquiridos realizava turnos e 58% indicou ter possibilidade ocasional para descansar durante os turnos da noite. A maioria dormia aproximadamente 6h por dia, e metade dos enfermeiros praticava actividade física.

 

Entre as principais conclusões verificou-se que os homens têm maior saúde mental que as mulheres e que quanto mais anos de trabalho e maior a idade, há uma maior percepção de depressão.

 

Os enfermeiros que praticam actividade desportiva têm maior saúde mental, e os que têm maior agregado familiar, registaram uma menor percepção de disfunção social.

 

Os profissionais que trabalham no contexto hospitalar têm mais sintomas somáticos e os que estão há mais tempo neste serviço têm maior depressão.

 

Os enfermeiros com especialidade têm menos sintomas somáticos, e os enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia registam menor saúde mental.

 

Quantas mais horas de trabalho um enfermeiro realiza, há maior disfunção social e quanto maior a percepção de carga de trabalho (em especial no turno da noite e até mesmo em enfermeiros com horário fixo), existe menor saúde mental.

 

Os profissionais que mais dormem e que têm mais fins-de-semana livres têm maior saúde mental e menores sintomas somáticos e disfunção social.

 

Como notas finais, o Enf. Paulo Seabra assinalou que a grande maioria dos enfermeiros não dorme o suficiente, independentemente de trabalhar por turnos ou não e que quase 2/3 dos enfermeiros tem uma percepção negativa da sua saúde mental.

 

Concluiu referindo que, face aos resultados obtidos, “há muitos enfermeiros heróis que se superarem todos os dias para prestar cuidados aos utentes”.

 

Seguiu-se um momento de debate e levantamento de questões muito participado entre todos os presentes.  

 

 

 

GCI/MA e PR