Dia Mundial da Saúde Mental - Integrar e incluir as pessoas com problemas de Saúde Mental - Texto da CEESMP

A Enfermagem toma por objecto de estudo as respostas humanas aos problemas de saúde e aos processos de vida, assim como às transições enfrentadas pelos indivíduos, famílias e grupos, ao longo do ciclo de vida, centrando os cuidados de Enfermagem na promoção dos projectos de saúde que cada pessoa vive e persegue ao longo de todo o ciclo vital. As pessoas que mobilizam respostas humanas desadaptadas ou desajustadas face aos problemas de saúde ou às transições que vivem ao longo do ciclo vital, desenvolvem alterações ou perturbações mentais que no tempo se instalam e se organizam em doenças mentais sempre que não existem serviços de saúde organizados e / ou profissionais de saúde qualificados para dar resposta em tempo útil às suas necessidades.

As profundas transformações sociais que vivemos colocam os problemas de Saúde Mental como a principal causa de incapacidade e uma das mais importantes causas de morbilidade nas nossas sociedades. A tomada de consciência deste facto obriga a uma profunda reflexão sobre a organização política e socioeconómica que vivemos, sendo forçoso relembrar que o projecto de construção social onde nos inserimos, assente nos valores da liberdade, justiça e democracia, propõe distribuir um conjunto de determinados bens que se tornaram vitais para as actuais sociedades, sendo a saúde um dos bens fundamentais para o bem-estar social. Colocando a Saúde, e em particular a Saúde Mental, nas prioridades da sua acção política, o Governo português estabeleceu compromissos a nível da União Europeia que nos vinculam a profundas transformações no acesso aos cuidados de Saúde Mental, e obrigam a alterar a organização assistencial das instituições e serviços de Saúde Mental de forma a garantir cuidados de qualidade a todas as pessoas.

Colocar a Pessoa no centro dos cuidados e a Enfermagem no centro dos cuidadores é a missão que a Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica incorpora como fundamental para a construção do bem-estar social que prossegue. Sempre que as pessoas se sentem incapazes para resolver os seus problemas ou outros (cuidadores) percepcionam essa incapacidade, pode estar em conflito a concepção e a percepção que o próprio tem de «SI» e a formulada por terceiros, tornando-se necessário partilhar (entre pessoa e profissional de saúde) a mesma definição de situação. Esta partilha que se apresenta frequentemente como hostil, uma vez que estamos a falar da identidade e integridade do «EU», redimensiona a singularidade do ser humano e a alteridade essencial para compreender o sofrimento mental no outro, colocando em situação o significado de ordem e desordem, normalidade e anormalidade, saúde e doença mental.

Na segunda metade do século XX, com a expansão da cultura de massa gerada pelos meios de comunicação, ocorreram modificações radicais nas maneiras dos indivíduos e grupos formarem uma consciência sobre «SI» e sobre o mundo à sua volta, tendo os retratos ficcionais e realistas, cinematográficos e televisivos contribuído significativamente para reforçar ou modificar os estereótipos e as noções sobre saúde e doença mental. Os audiovisuais são, sobretudo, janelas privilegiadas para um enfoque mais detido sobre a imagem social da perturbação mental, e ao mesmo tempo instrumentos que reforçam ou modificam estereótipos e aumentam a consciência sobre saúde e doença mental, constituem vectores de informação indispensáveis sobre a perturbação mental, levando a uma visão mais objectiva, racional e sensível.

Sentir e compreender o mundo recorrendo à fotografia, ao cinema e ao teatro, com a Saúde Mental como legado, é a proposta que a Ordem dos Enfermeiros (OE) pretende realizar entre 2008 e 2010, no âmbito do 10 de Outubro, Dia Mundial de Saúde Mental. Proporcionar às pessoas (do cidadão comum ao profissional de saúde) outras formas de conhecer o «mundo da alma», que vão para além do discurso científico verbal e escrito, possibilita viver emoções e sentimentos que despertam e agregam no «mundo real» o «mundo da fantasia». Urge conhecer as múltiplas formas de olhar, percepcionar e entender o mundo, compreendendo que é da diferença que estamos a falar e não de deficit. A crítica necessária a desenvolver sobre a Saúde Mental pretende tornar consciente o confronto de culturas «societais» constituídas por adultos (que parece nunca terem sido crianças e que nunca irão morrer), com comportamentos normais (que sempre respeitaram as regras e normas da lei e da boa conduta), com as constituídas por pessoas que foram crianças (Homens capazes de Amor são aqueles que foram crianças ou que se reconciliaram com a criança que foram) e têm consciência da finitude da vida (Quando eu pensar que aprendi a viver, terei aprendido a morrer) onde as alegrias e sofrimentos vividos integram o «EU», adquirindo o comportamento humano diferentes significados em função da história e contexto de vida.

De entre diversas actividades que a OE dinamiza no âmbito do Dia Mundial da Saúde Mental, destaca-se a proposta de estabelecer parcerias com instituições que permita, durante dois anos, promover o debate e reflexão a nível nacional:

Fotografia: Estabelecer uma parceria com uma escola de comunicação e imagem, onde os estudantes desta escola irão trabalhar durante o ano lectivo a temática: «Loucos como Nós – nós igualmente diferentes». Os melhores trabalhos serão expostos durante o quarto trimestre de 2009 em espaços públicos.

Vídeo/ Cinema: Estabelecer parceria com a VO´ARTE para a realização de registos documentais sobre «Como vivem as pessoa em Instituições Hospitalares Psiquiátricas». Durante esse período será lançado um concurso para produção/realização «Documentário», que decorrerá até Julho de 2009, sendo o prémio atribuído por um júri presidido pelo realizador Pedro Sena Nunes. Posteriormente, os trabalhos a concurso serão exibidos numa mostra itinerante.

Teatro / Dança: Estabelecer parceria com VO´ARTE e a companhia «Teatro Andamento» durante os próximos dois anos, de forma a criar uma «residência artística numa Instituição de Saúde Mental», integrando elementos do «Teatro Andamento», companhia amadora constituída por enfermeiros e estudantes de Enfermagem. Este projecto dará origem à construção e apresentação de uma peça em 10 de Outubro de 2010.

Sendo esta uma proposta que vai muito além da efeméride a assinalar no Dia Mundial da Saúde Mental, a mesma norteia todo o processo e pontua a sua maior divulgação e debate, estando a exposição de Fotografia e a Mostra de Cinema, composta por documentários já existentes e documentários resultantes do concurso, previstas para 10 de Outubro de 2009. A peça de teatro realizar-se-á a 10 de Outubro de 2010.

Vamos Fazer Acontecer.

António Nabais
Presidente da Comissão de Especialidade de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica (CEESMP)

No âmbito do Dia Mundial da Saúde Mental, a sede da OE, bem como as instalações das Secções Regionais do Norte, Centro, Sul e Açores, apresentam telas alusivas à efeméride.

Para visualizar o modelo base da tela clique aqui.

Divulgado no Espaço Cidadão a 10.10.2008