Dia Internacional da Família - Enfermeiros e famílias em parceria na construção da saúde para todos

Dia Internacional da Família - Enfermeiros e famílias em parceria na construção da saúde para todos

Ao assinalar mais um Dia Internacional da Família podemos pensar porque é que, em pleno século XXI, ainda é necessário sublinhar a importância da família através deste tipo de comemorações e qual a importância da família para a Enfermagem.
 
Falar de família é simultaneamente falar do que sentimos e do que sabemos: do que sentimos uma vez que todos nós temos uma família e cada um de nós é capaz de identificar quais as pessoas a que chama a sua família; do que sabemos dado que, ao longo dos tempos, cada cultura, cada disciplina científica, cada área da sociedade criou a sua própria definição de família originando uma multiplicidade de conceitos, cada um procurando encerrar em si todas as possibilidades de estruturas e funções que a família foi tomando.
 
Mais do que nos fixarmos num constructo estável, importa pensar que o conceito de família pode revestir-se de muitas formas dependendo tanto da história individual como familiar, de vínculos biológicos, estatuto legal e / ou religioso entre outros aspectos. As mudanças económicas, politicas, sociais e culturais a que assistimos fazem surgir uma diversidade de tipos de família que dificilmente se enquadram numa única definição. Mas a necessidade de encontrar uma definição é, talvez, mais importante para os teóricos do que propriamente para os indivíduos que constituem uma família.
 
Seja qual for o tipo de família que encontremos «todas se organizam através de uma estrutura de relações onde se definem papeis e funções conformes às expectativas sociais» (Relvas, 2004,p.14). Whall e Fawcett identificam como atributos do conceito de família:
    1. um sistema ou unidade social auto-definida pelos seus membros, não constante, ou seja mudança e desenvolvimento são-lhe inerentes;
    2. os seus membros podem ou não estar relacionados por nascimento, adopção ou casamento e podem ou não viver sob o mesmo tecto;
    3. a unidade pode ou não ter crianças dependentes;
    4. é necessário haver compromisso e afecto entre os seus membros que se desenvolve ao longo do tempo e têm um projecto futuro;
    5. a unidade leva a cabo funções de cuidar, ou seja, protecção, sustento e socialização dos seus membros. (1991,p.33).

O conceito de família apresentado pela OMS em 1994 coloca a tónica no eixo relacional sublinhando a importância de ultrapassar a ideia de laços biológicos ou legais quando trabalhamos com a família: «o conceito de família não pode ser limitado a laços de sangue, casamento, parceria sexual ou adopção. Família é o grupo cujas relações sejam baseadas na confiança, suporte mútuo e um destino comum».
Vaughan-Cole et al acrescentam que nesse grupo «existe uma história de preocupação e cuidado e o potencial para um compromisso duradouro de cuidar» (1998,p.5). Esta ideia é reiterada na SAÚDE 21 onde o conceito de família é relacionado com o de domicílio e é identificado como a unidade básica da sociedade (Hennessy & Gladin, 2006, p.11). Assim o domicílio abrange um grupo de pessoas que partilham responsabilidades na saúde tornando-se um contexto que potencia as mudanças de comportamento conducentes a mais e melhor saúde.
 
Ao fazer esta reflexão estamos a ir para além das definições tradicionais, tentando incluir as várias formas de família existentes na sociedade actual. Wright e Leahey consideram que aceitar a afirmação «família é quem os seus membros dizem que são» (2002,p.68) permitirá respeitar as ideias dos indivíduos, membros da família no que respeita a relacionamentos significativos e experiências de saúde / doença.
 
A SAÚDE 21 ao reconhecer que a família é uma unidade chave na produção de saúde e, consequentemente na melhoria da saúde na Região Europeia uma vez que é na família que se aprendem comportamentos e atitudes conducentes (ou não) a estilos de vida saudáveis, vem justificar o desenvolvimento do conceito de enfermeiro de família. Estes poderão:
 
Contribuir de forma muito útil nas actividades de promoção da saúde e prevenção da doença, além das suas funções de tratamento. Ajudam os indivíduos, e as famílias a assumir a doença e a incapacidade crónica, ou empregam uma grande parte do seu tempo junto dos doentes e família, no domicílio destes e em período de crise. Os enfermeiros deverão poder fazer aconselhamentos sobre os modos de vida e factores de risco ligados a comportamentos, bem como ajudar as famílias em questões ligadas à saúde. Ao detectar precocemente os problemas, podem favorecer a tomada de consciência sobre os problemas de saúde familiar desde o deu início. (Ordem dos Enfermeiros, 2000).
 
O papel de enfermeiro de família engloba muitas funções já definidas para os enfermeiros que trabalham em Cuidados de Saúde Primários. O que é novo «é o foco nas famílias e no domicílio como cenário onde os membros da família devem, juntos, tomar decisões sobre os seus próprios problemas de saúde e criar um conceito de família saudável» (Hennessy & Gladin, 2006,p.9). A OMS vê estes enfermeiros a trabalhar em conjunto com famílias, comunidade e outros profissionais de saúde, actuando como recurso e sendo elementos chave na sociedade como promotores de saúde (Id. p, 9).
 
O enfermeiro de família actua ao longo do ciclo vital na promoção da saúde, na prevenção da doença e reabilitação, prestando cuidados às pessoas doentes, sendo um agente facilitador para que os indivíduos, famílias e grupos desenvolvam competências para um agir consciente quer em situações de crise quer em questões de saúde.
 
Ao entrarmos no século XXI vemos que a Região Europeia ainda é um local de grandes desigualdades económicas e sociais, onde ainda é preciso lutar pelo principio da saúde para todos, defendendo a saúde como um direito humano básico, motor do desenvolvimento das sociedades. A família como unidade básica da sociedade tem «nas suas mãos» a possibilidade de contribuir para esse desiderato de mais e melhor saúde; apoiando-se nos princípios dos Cuidados de Saúde Primários, o enfermeiro de família será o profissional-chave que ajudará as famílias a alcançá-lo.        
 
Referências bibliográficas:
Hanson,Shirley (2001). Enfermagem de cuidados de saúde à família. (2ªed.). Lusociência: Loures.
Hennessy, D. & Gladin, L. (2006). The report on the evaluation of the WHO multi-country family health nurse pilot study. OMS: Copenhague. Consultado em Abril 15,2008.Disponivel em http://www.who.int/en/.
Ordem dos enfermeiros (2000). A cada família o seu enfermeiro.
Vaughan-Cole e tal (1998). Family nursing practice.  W.B.Saunders Company: Philadelphia.
Whall, A. & Fawcett, J. (1991). Family theory development in nursing: state of the science and art. F.A. Davis Company: Philadelphia.
Wright, L. & Leahey, M. (2002). Enfermeiras e famílias – um guia para avaliação e intervenção na família. (3ªed). Roca: S.Paulo.

Divulgado no Espaço Cidadão a 11.08.2008

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