Mensagem do Bastonário para os enfermeiros da Diáspora no dia 10 de junho de 2012

Mensagem do Bastonário para os enfermeiros da Diáspora no dia 10 de junho de 2012

Na data em que se assinala o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, não poderia deixar de dirigir uma palavra de apreço e reconhecimento aos enfermeiros portugueses a exercer além-fronteiras.

É com preocupação que tenho visto partir centenas de enfermeiros para o estrangeiro. Não se pode esconder que a situação difícil que Portugal atravessa está a empurrar profissionais altamente qualificados para destinos em que o futuro se avizinha mais promissor, à razão de 10 enfermeiros a partirem diariamente do País. Sabemos que o alto nível de desemprego entre os jovens enfermeiros coloca-os face ao dilema de migrar ou desistir de exercer a sua profissão. Tenho-o dito aos diversos responsáveis políticos, ao Sr. Presidente da República, aos Srs. Ministros da Saúde e da Educação e Ciência.

Por isso, é com orgulho que assisto ao espírito empreendedor dos enfermeiros no exterior, que enobrecem o nome de Portugal e inspiram os seus congéneres.

A Enf.ª Isabel Santos Melo é um desses exemplos. Recentemente agraciada com o Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa da Associação Empresarial para a Inovação, esta enfermeira tem feito carreira no apoio à pessoa com deficiência no Reino Unido.

Não podia deixar de reconhecer que os enfermeiros que emigram são, por natureza, pessoas inconformadas, que não se resignam perante as dificuldades, incapazes de aguardar passivamente a resolução dos problemas do país. É esse exemplo que gostaria de louvar e que necessitamos também aqui em Portugal.

Têm surgido exemplos desses também em Portugal. Um deles em Miranda do Douro de duas jovens enfermeiras que resolveram transformar uma situação de desemprego numa oportunidade, trabalhando voluntariamente a troco de casa e alimentação. Não julgo que essa seja uma situação que se deva prolongar indefinidamente, mas reconheço o espírito de abnegação e empreendedorismo destas profissionais e que gostaria de destacar. Tenho esperança que esta situação precária venha a dar lugar a uma situação condigna.

Acredito que a crise nacional pode ser uma ocasião para transformar um momento particularmente preocupante numa oportunidade, desde que haja criatividade, empreendedorismo e inovação. Vejo, no entanto, com preocupação algumas denúncias que têm chegado à Ordem dos Enfermeiros sobre alegadas práticas de recrutamento impróprias para o estrangeiro.

Ao longo do meu mandato, espero ter a oportunidade de aproximar os enfermeiros que trabalham em Portugal e no estrangeiro. Irei também acompanhar de perto o fenómeno da emigração e pugnarei pela promoção das regras éticas do recrutamento internacional, que deve orientar as agências que atuam seriamente no nosso país. Denunciarei as situações exploratórias que podem gerar situações de risco e de vulnerabilidade aos colegas já fragilizados pela condição de desemprego.

Apelo aos colegas que continuem a dignificar a profissão, a fazer ouvir o nome de Portugal por boas razões e que continuem a inspirar os que permanecem no país com o vosso espírito empreendedor. Historicamente, Portugal sempre ficou a ganhar quando se abriu ao mundo. Por isso, pugnaremos por criar condições para que a vossa experiência e cultura profissional desenvolvida no exterior possa um dia, não muito longe, vir a ser aproveitada no sistema de saúde português.

Apesar de tempestades financeiras com repercussões sociais que assolam a Europa, reitero a confiança na competência e dedicação dos enfermeiros portugueses dentro ou fora de Portugal para levar esta nau que é a Enfermagem mais longe por mares nunca dantes navegados.

Enf.º. Germano Couto
Bastonário da Ordem dos Enfermeiros

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