Fatores de exaustão estão cientificamente descritos e devem ser reconhecidos pelo Ministério da Saúde

Fatores de exaustão estão cientificamente descritos e devem ser reconhecidos pelo Ministério da Saúde

A Universidade Católica publicou recentemente um estudo nacional onde se identificou um nível de exaustão significativo dos enfermeiros em Portugal, assim como uma enorme insatisfação com a progressão na carreira e com o nível salarial em que se encontram.
O estudo referido seguiu a linha de investigação de uma investigação financiada pela Comissão Europeia, denominado RN4CAST, cujos resultados têm sido amplamente divulgados em jornais científicos de referência internacionais.

Está largamente divulgada na literatura* os motivos para a exaustão dos enfermeiros, e encontram, como fatores predisponentes, os seguintes:


- elevada responsabilidade relacionada com o cuidar de doentes complexos;
- constante contacto com a morte e com o processo de luto;
- turnos longos (por falta de enfermeiros nas instituições);
- elevado número de doentes por enfermeiro (quanto maior o número, maiores os níveis de stress);
- o trabalho por turnos (e a impossibilidade de criar hábitos regulares);
- a realização de turnos noturnos e o seu impacto negativo na saúde e na relação trabalho/família/amigos/vida pessoal;
- sujeição a abusos verbais e físicos frequentes amplamente subnotificados;
- incapacidade dos gestores resolverem questões práticas de cariz profissional do quotidiano do enfermeiro;
- condições de trabalho desadequadas;
- falta de perspetiva de progressão na carreira;
- défice de reconhecimento de competência adquiridas;
- remuneração não compatível com as competências e responsabilidades;
- cargas de trabalho excessivas por baixas dotações de enfermeiros.

São igualmente diversos os estudos que relacionam os níveis de exaustão dos enfermeiros com resultados adversos para os doentes, identificando maiores riscos de erro, quase-erro ou resultados aquém do esperado. Acresce que enfermeiros exaustos tem maior probabilidade de adoecer, com as consequências daí decorrentes.

Os serviços de saúde portugueses estão em clara rutura pelo défice de preocupação que os fatores acima descritos têm recebido por parte dos diferentes decisores políticos. Algumas das consequências deste facto não são visíveis a olho nu porque o Estado Português mantém há décadas um sistema de classificação nos hospitais portugueses que não diferencia serviços a trabalhar adequadamente de serviços com prestação insegura de cuidados.

Neste sentido, a Ordem dos Enfermeiros apela ao Sr. Ministro da Saúde que reconheça o papel destes fatores na segurança e qualidade dos cuidados a que os cidadãos têm constitucionalmente direito, não os banalizando e confundindo com fatores económicos.
A OE reforça ainda que no âmbito desta problemática foi aprovada recentemente em Assembleia Geral a Norma para o Cálculo de Dotações Seguras, a qual foi prontamente divulgada junto do Ministério da Saúde.

A Norma apresenta diversas fórmulas de cálculo e tem forma legal, pelo que deve ser aplicada e respeitada aos mais diversos contextos de saúde dos setores público, privado e social, quer seja no continente ou nas regiões autónomas.  

O Bastonário da Ordem dos Enfermeiros
Enf. Germano Couto

 

* 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21,

lneves