Dia Mundial da Tuberculose - Texto da Comissão de Especialidade de Enfermagem Comunitária

Dia Mundial da Tuberculose - Texto da Comissão de Especialidade de Enfermagem Comunitária

Quase um terço da população mundial - 2 biliões de pessoas - está infectado com Mycrobacterium Tuberculosis e em risco de desenvolver a doença. Anualmente, mais de 8 milhões desenvolvem tuberculose activa (TB), dos quais 2 milhões vêem a morrer. A co-infecção com o vírus da imunodeficiência humana (VIH) aumenta significativamente o risco de vir a desenvolver TB.

Em todo o mundo, mais de 90% dos casos e mortes por TB ocorrem nos países em vias de desenvolvimento, onde 75% dos casos surgem na idade de maior produtividade económica (15-54 anos). Um adulto com TB perde, em média, três a quatro meses de trabalho, o que se traduz na perda de 20 a 30% do rendimento anual familiar e, se o doente morrer de TB, em 15 anos de rendimento perdido.

Simultaneamente, em diversos países, a multi-resistência, que se deve a medidas de tratamento inadequadas, ao aumento da toxicodependência e da incidência do VIH / SIDA, é um problema crescente e muito preocupante.

Os principais motivos do aumento generalizado da prevalência da TB são:
 • Pobreza e a discrepância crescente entre ricos e pobres em várias populações e, nos países desenvolvidos, populações deslocadas para áreas urbanas;
 • Negligência na gestão da doença (deficiente capacidade de detecção, de diagnóstico e de cura);
 • Colapso das infra-estruturas da saúde nos países com graves crises económicas ou com instabilidade civil;
 • Impacto da pandemia de VIH/SIDA.

A estratégia global para o tratamento da tuberculose incide em quatro vertentes essenciais:

1 - Cura dos casos infecciosos
É prioritário obter a cura dos casos conhecidos; principalmente se são infecciosos. É a forma de prevenção primária e secundária mais eficaz, quer no que respeita à ocorrência de novos casos, quer na prevenção da resistência às drogas.
A acção estratégica global para atingir este objectivo é a implementação de tratamentos curtos e Toma Observada Directamente (TOD) em casos suspeitos do seu não cumprimento.

2 - Detecção de casos
É fundamental que os doentes sejam detectados e o mais precocemente possível, através de rastreios passivos ou activos, para que o tratamento adequado os cure da enfermidade e corte a cadeia de transmissão.
O grupo de risco e alvo prioritário é o dos contactos dos doentes com TB pulmonar activa D+, especialmente as crianças, e ainda, outros grupos específicos de risco, nomeadamente:
 • Idosos residentes em lares;
 • Toxicodependentes;
 • Portadores de VIH / SIDA;
 • Desempregados;
 • Reclusos e comunidade prisional; e
 • Profissionais de Saúde.

3 - Vacinação
Vacinação de todas as crianças nos primeiros dias de vida até aos três meses de idade ou posteriormente, após realização da prova tuberculina negativa.

4 - Quimioprofilaxia
A quimioprofilaxia tem como objectivo a protecção individual, não conferindo protecção de grupo, ou seja, não tem impacto significativo na evolução epidemiológica. Não deve ser instituída indiscriminadamente, e tem como alvos prioritários as crianças com menos de 5 anos em contacto com doentes de TB pulmonar D+ (Baciloscopias positivas - BAAR em exame directo da expectoração), os contactos TB pulmonar D+ com conversão tuberculínica recente, e os infectados pelo VIH com conversão tuberculínica.

Situação / problema
 • Aumento da incidência da TB em Grupos de Risco.
 • Abandono do tratamento e risco de multi-resistência aos tuberculostáticos.
 • Recusa ou dificuldade da realização de rastreios activos dos conviventes de doentes com TB pulmonar D+.
 • Falta de suporte económico dos doentes com TB e familiares
Os principais objectivos serão então:
 • Diminuir a incidência de TB.
 • Diminuir a prevalência, aumentando a taxa de sucesso terapêutico da TB.
 • Aumentar a cobertura do teste de VIH nos doentes com TB.
 • Aumentar a taxa de TOD (Toma Observada Directamente), nos casos de TB D+.
 • Aumentar o apoio social aos doentes com TB e seus familiares.
As estratégias de intervenção poderão passar assim por:
 • Aperfeiçoar o sistema de informação, no sentido de o adaptar às orientações da Direcção-Geral de Saúde, permitindo o melhor conhecimento da situação epidemiológica e detecção de fontes de infecção na comunidade, e respectivas avaliações.
 • Adequada articulação entre os Centros de Diagnóstico Pneumológico (CDP), Delegados de Saúde, Centros de Saúde, Hospitais, Segurança Social e outras instituições, promovendo o diagnóstico o mais precocemente possível da doença e o adequado tratamento, prevenindo os abandonos. Isto além da adequada realização de rastreios tuberculínicos e radiológicos aos conviventes com doentes

TB Pulmunar D+ e grupos de risco, com implementação da quimioprofilaxia nos casos necessários.
 • Implementar Taxas Elevadas de Cobertura Vacinal pela BCG nas maternidades.
 • Promover actividades de prevenção primária e secundária nos Centros de Atendimento a Toxicodependentes (CAT), Estabelecimentos Prisionais e Centros de Apoio a toxicodependentes, entre outros.
 • Aumentar a taxa de cobertura do TSA nos Doentes infectados com Mt (Mycobacterium tuberculosi).

Actividades desenvolvidas pelos enfermeiros:
As actividades que os enfermeiros poderão desenvolver, integrados em equipas multidisciplinares, na diminuição da incidência e prevalência desta patologia são múltiplas. No entanto poderemos salientar algumas que consideramos de extrema importância e em que o enfermeiro desempenha um papel preponderante como prestador de cuidados ao indivíduo, família e comunidade. Assim:
 • Formação e sessões de Educação para a Saúde a grupos de risco e comunidade em geral, com especial incidência nos focos de infecção comunitários identificados, informando e desmistificando a Tuberculose, valorizando a sua prevenção.
 • Efectuar planificações adequadas e execução da vacinação da BCG atingindo elevadas Taxas de Cobertura de Vacinação, tendo os enfermeiros um papel decisivo.
 • Consulta de Enfermagem com o acompanhamento adequado ao doente com TB, sua família e conviventes.
 • Realizar a gestão, distribuição e administração de medicamentos tuberculostáticos, responsabilizar-se, preferencialmente pela TOD, estimulando e enfatizando a importância da sua toma de forma regular, prevenindo assim os abandonos da terapêutica e consequente risco de multi-resistência.
 • Aplicação de inquéritos epidemiológicos e visitação domiciliária aos doentes com TB, preferencialmente por enfermeiros especialistas na área de Enfermagem Comunitária.
 • Efectuar o levantamento adequado dos conviventes de doentes com TB Pulmonar D+, efectuando a convocação para rastreio e realização do teste de tuberculina, avaliando os resultados e encaminhamento para consulta médica das situações identificadas para possível quimioprofilaxia.
 • Ser um elo de ligação facilitador de informação interinstitucional, efectuando a ligação entre o internamento hospitalar, o CDP, o Serviço de Saúde Pública, os centros de saúde e outras instituição da comunidade que se considerem necessárias.
 • Colaborar, como elemento integrante da equipa, na Avaliação e Monitorização do Programa Nacional da Tuberculose.

Diminuir a incidência da Tuberculose em Portugal e no Mundo é uma tarefa de todos, devendo todos os cidadão e profissionais de saúde das diferentes instituições de saúde e da comunidade unir esforços em prol desse objectivo.
Os enfermeiros têm um papel essencial e preponderante na implementação de medidas necessárias que dêem resposta a este grave problema de Saúde Pública, devendo as mesmas ser dirigidas não só o indivíduo doente, como também à sua família e comunidade, de forma a quebrar da cadeia epidemiológica desta patologia e contribuir para a melhoria da saúde da nossa comunidade.

Divulgado no Espaço Cidadão a 11.08.2008

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