Dia Mundial da Saúde 2010 - Urbanismo e Saúde: um desafio - Texto da Sr.ª Bastonária publicado no suplemento DN / JN de 7 de Abril

Dia Mundial da Saúde 2010 - Urbanismo e Saúde: um desafio - Texto da Sr.ª Bastonária publicado no suplemento DN / JN de 7 de Abril

Celebrar o Dia Mundial da Saúde é um pretexto excelente para que todos nós possamos reflectir em assuntos em relação aos quais nem sempre dedicamos o tempo que deveríamos. É o caso do tema eleito este ano pela Organização Mundial da Saúde para assinalar esta efeméride: «Urbanismo e Saúde».

Não obstante o facto de o debate em torno do urbanismo ter estado recentemente na ordem do dia devido a catástrofes decorrentes de fenómenos naturais, a verdade é que nem sempre se associa esta disciplina a questões do sector da Saúde. É muito mais frequente o seu relacionamento com as áreas da Engenharia, Arquitectura, História, Geografia, Sociologia e até da Filosofia.

Contudo, uma efectiva gestão do espaço e o eficaz planeamento das cidades devem contemplar a vertente sanitária. Cidades sem espaços verdes que promovam o simples convívio entre pessoas e a prática de desporto não promovem o bem-estar dos seus habitantes. Também não dispõem de recursos ambientais adequados para fazer face à poluição, o que pode ser relevante na incidência de doenças respiratórias, por exemplo.

Também a forma como os edifícios são projectados tem implicações para a saúde das pessoas. Sabemos hoje que casas com pouca luz natural podem propiciar o desenvolvimento de problemas de Saúde Mental. Da mesma forma, a sobrelotação dos edifícios, a má ventilação das residências, o aquecimento dos edifícios e os materiais de construção utilizados, entre outros aspectos, interferem com o bem-estar daqueles que neles habitam, muitas vezes manifestados em acidentes domésticos, alergias ou isolamento / exclusão social.

Importa ainda referir como o urbanismo é por vezes determinado por interesses contrários à acessibilidade. Por outras palavras, as dificuldades acrescidas que muitos cidadãos portadores de deficiência sentem diariamente deveriam nortear a organização do espaço e a obrigatoriedade de garantir melhor acessibilidade a todos nós. 

Por tudo isto, percebe-se o quão importante foi a decisão da Organização Mundial da Saúde ao optar pelo tema do Dia Mundial da Saúde 2010. Trazer o urbanismo à Saúde e a Saúde ao urbanismo traduz-se num passo decisivo para que o planeamento das cidades não seja visto de uma forma sectorial (ligado à área do ordenamento do território), mas antes global (pensando no bem-estar global das populações, usufruindo de melhores condições de vida).    

Ter cidades portuguesas a participar na campanha «1000 cidades, 1000 vidas» será uma iniciativa importantíssima para fazer chegar a mensagem a milhares de pessoas, sensibilizando quer decisões políticos, querer cidadãos, para esta temática.

Apelo em especial aos enfermeiros que, estando numa posição privilegiada de proximidade com os cidadãos, partilhem com estes as actividades que se vão desenrolar esta semana em várias cidades portuguesas. Apelo ainda que individual ou colectivamente, possam fazer a diferença na criação e desenvolvimento de cidades mais saudáveis.

Celebrar o Dia Mundial da Saúde é, para a Ordem dos Enfermeiros, uma oportunidade única para fazer a diferença na prossecução de mais e melhor saúde para todos.


Maria Augusta Sousa

Bastonária da Ordem dos Enfermeiros

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