Aposta nos cuidados no domicílio é imprescindível para melhorar respostas aos cidadãos, defendeu a Bastonária da Ordem dos Enfermeiros num debate sobre a ULS de Castelo Branco

Aposta nos cuidados no domicílio é imprescindível para melhorar respostas aos cidadãos, defendeu a Bastonária da Ordem dos Enfermeiros num debate sobre a ULS de Castelo Branco

Lisboa, 23 de Fevereiro de 2011 – É necessário «construir um novo paradigma de organização de cuidados», abandonando a cultura hospitalocêntrica e apostando em cuidados de proximidade, nomeadamente naqueles que são prestados no domicílio dos cidadãos. Quem o defende é a Enf.ª Maria Augusta Sousa, Bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE), que no âmbito de um debate ocorrido ontem à tarde sobre a Unidade Local de Saúde (ULS) de Castelo Branco, advogou igualmente que as ULS deveriam «evoluir para Sistemas Locais de Saúde», de forma a poderem «tomar decisões e a assumir responsabilidades de proximidade».

De acordo com a responsável máxima da OE, vários estudos indicam que o hospital deve ser cada vez mais um local de “passagem curta” e com recursos concentrados». Por outro lado, o envelhecimento da população e a gestão das doenças crónicas obriga a que «a gestão dos recursos seja feita de forma diferente». Assim sendo, é fundamental que se fomente de forma progressiva e sustentada a «deslocação dos profissionais de saúde aos locais onde as pessoas estão» e como tal, essa mudança de paradigma, «obriga a investimentos». Implica que os profissionais de saúde, designadamente os enfermeiros, tenham ao dispor telemóveis para responder rapidamente às questões colocadas pelos utentes que acompanham e tenham viaturas para se deslocarem aos domicílios, exemplificou a Enf.ª Maria Augusta Sousa.

 

A Bastonária da Ordem dos Enfermeiros afirmou ainda que o novo paradigma deve, simultaneamente, «potenciar ao máximo o conjunto de competências dos profissionais». E isso poderá passar pela definição e implementação de protocolos de actuação que permitam, por exemplo, que os enfermeiros façam o «acompanhamento do plano terapêutico» dos doentes crónicos sem que seja necessário marcar uma consulta para renovação de prescrição anteriormente instituída. «Só assim seremos capazes de dar respostas mais eficazes e com maior segurança para os cidadãos», garantiu.

No caso específico da ULS de Castelo Branco, uma das dificuldades que os profissionais têm sentido é a referenciação de doentes, em tempo útil, para as unidades que compõem a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI). E neste contexto, a Enf.ª Maria Augusta Sousa voltou a frisar que havendo cuidados adequados de proximidade – que envolvam também a vertente do apoio social, entre outras –, as camas institucionalizadas poderão transformar-se em camas no domicílio. 

Presente no debate que, no auditório da biblioteca municipal albicastrense, procurou fazer o balanço sobre os 14 meses da ULS de Castelo Branco, o Dr. João Pedro Pimentel, Presidente da Administração Regional de Saúde do Centro, IP, concordou com a aposta nos cuidados de proximidade. «O novo paradigma de cuidados pode ter uma boa resposta nas ULS», pois um dos objectivos das Unidades Locais de Saúde consiste em dar maior acessibilidade aos cidadãos, oferendo respostas mais próximas e mais integradas. Exemplo disso é o facto de o número de urgências registadas na ARS do Centro ter «vindo a reduzir», algo que também se tem verificado na ULS de Castelo Branco. Segundo aquele interlocutor, tal diminuição resulta do acréscimo do «número de consultas externas e de consultas efectuadas nos centros de saúde».    

E dando resposta às dificuldades detectadas ao nível dos Cuidados Continuados, aquele responsável anunciou que em breve o Ministério da Saúde criará legislação que possibilitará que os profissionais adstritos às Equipas Coordenadoras Locais tenham tempo específico alocado a essas equipas. A actual inexistência desse tempo poderá justificar, em parte, «a demora entre a alta hospitalar e o encaminhamento do doente para a RNCCI».  

Por sua vez, o Dr. Luís Correia, Presidente do Conselho de Administração da ULS de Castelo Branco, referiu que o primeiro ano de existência daquela Unidade Local de Saúde serviu para desenvolver o modelo organizacional da mesma. Não estamos perante «a soma do Hospital e dos centros de saúde», mas antes perante «a sua integração». E esta integração «é funcional, clínica, financeira, administrativa e de informação», salientou. Assim sendo, a ULS de Castelo Branco tem estado a investir na «formação de equipas multidisciplinares» e na implementação do «processo clínico único, na programação e planeamento de altas, em programas de referenciação», entre outros aspectos.

Ainda segundo o Dr. Luís Correia, «sabendo que os centros de saúde são a porta de entrada do Serviço Nacional de Saúde, o médico e o enfermeiro de família devem ser responsáveis pela gestão global dos cuidados de saúde». 

O debate de ontem à tarde contou com a moderação do Sr. Joaquim Mourão, Presidente da edilidade albicastrense, e inseriu-se na Semana da Bastonária no Distrito de Castelo Branco, que decorreu a 21 e 22 de Fevereiro sob a organização da Secção Regional do Centro (SRC) da OE. Em jeito de balanço desta iniciativa, o Enf.º Manuel Oliveira, Presidente da SRC, referiu a importância de se criar «políticas públicas saudáveis, onde se articulem a Saúde, a Educação, o Ambiente, etc…». Para isso é necessária «formação e inovação» e «trabalho em equipa».

A Semana da Bastonária no Distrito de Castelo Branco terminou com uma visita à Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias, onde se falou dos desafios que se colocam ao ensino e à profissão de Enfermagem. Na manhã de ontem a Enf.ª Maria Augusta Sousa visitou o Centro de Saúde de S. Miguel, em Castelo Branco, e o Hospital Amato Lusitano, sede daquela ULS.

Na segunda-feira o dia centrou-se no Norte do distrito, com ida a várias unidades do ACES da Cova da Beira, ao Hospital Pêro da Covilhã, sede do Centro Hospitalar da Cova da Beira, e ao Hospital do Fundão. Também aqui se falou na necessidade de encontrar novas formas de organizar os cuidados e constatou-se o grande empenho na área da formação e investigação de profissionais de saúde. 

Junto enviamos uma imagem do debate de ontem à tarde, intitulado: «Unidade Local de Saúde de Castelo Branco: percurso realizado e perspectivado….». Da esquerda para a direita: Dr. Luís Correia, Dr. João Pedro Pimentel, Sr. Joaquim Mourão, Enf.ª Maria Augusta Sousa e Enf.º Manuel Oliveira.

  

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