O papel dos Enfermeiros

  • 03-07-2018

A verdade é indiscutível: independentemente do país que tomemos por exemplo, os enfermeiros têm um papel vital nos sistemas de saúde e na prestação de cuidados de saúde ao longo de gerações. Contudo, a representação dos enfermeiros nos media continua a ser escassa.

 

A Ordem dos Enfermeiros e as suas diversas secções regionais, nas quais se encontra a Secção Regional do Centro, têm feito um trabalho meritório no que concerne a esta constatação. Temos procurado marcar presença e fazer ouvir a defesa das necessidades e preocupações que os nossos profissionais mais sentem no desempenho das suas funções.

 

Tendo por base um estudo realizado em 1997 por Nancy Woodhull, editora fundadora do USA Today (importante jornal norte-americano), verificou-se, à data, existir um enorme contraste entre os excelentes cuidados de enfermagem recebidos e a reduzida cobertura jornalística sobre enfermeiros e enfermeiras.

 

Intitulado “The Woodhull Study on Nursing and the Media: Health Care’s Invisible Partner” (Estudo Woodhull sobre Enfermagem e os Media: Parceiro Invisível dos Cuidados de Saúde), a pesquisa analisou notícias sobre saúde publicadas nos principais jornais impressos, semanários e outras publicações durante o mês de Setembro de 1997.

 

Apenas 4% das citações nos jornais e 1% em publicações semanais ou da especialidade eram atribuídas aos enfermeiros. Quase nunca foram incluídos em fotografias que acompanhassem os artigos e os enfermeiros foram mencionados em apenas 14% dos artigos.

 

Hoje, passados 20 anos, um relatório actualizado do mesmo estudo revela que pouco ou nada foi feito para contrariar esta tendência. Incidindo sobre as notícias de saúde publicadas em Setembro de 2017, conclui-se que em apenas 2% do tempo houve citações atribuídas aos enfermeiros. Além disso, foram identificados em somente 4% das imagens e mencionados em 13% dos artigos.

 

Apesar da importância da perspectiva dos profissionais de enfermagem em inúmeras reportagens sobre temáticas ligadas à saúde, os enfermeiros não têm muita voz em notícias sobre políticas, pesquisas e cuidados para o sector.

 

Paralelamente, e uma vez que a maioria dos enfermeiros são mulheres, as descobertas deste segundo estudo de Woodhull mostram existirem grandes diferenças de género, daí que os homens tenham sido citados com quase o dobro de frequência (65%) nas notícias de saúde analisadas em comparação com as mulheres (34%), e as imagens de homens superam igualmente as de mulheres (72% face a 28%, respectivamente).

 

Os investigadores deste segundo estudo entrevistaram dez jornalistas especializados na área da saúde e estes afirmaram que raramente contactavam mulheres, enfermeiros e pessoas que não ocupassem cargos de autoridade no sector da saúde. Porém, os repórteres que recorreram aos enfermeiros como fontes admitiram que a perspectiva da enfermagem enriqueceu a história.

 

Temos todos que ajudar a mudar a visão de que não somos boas fontes porque não somos encarados como especialistas ou líderes relevantes. Se fazemos parte de um dos maiores (senão mesmo o maior) segmento da força de trabalho em saúde, e que tem maior proximidade com os pacientes, temos pois que marcar a nossa voz nos meios de comunicação social, tornarmo-nos mais visíveis e influentes na formulação de políticas para o nosso sector, de acordo com a nossa posição e experiência.

 

Ricardo Correia de Matos, Presidente da Secção Regional Centro da Ordem dos Enfermeiros, concorda que os enfermeiros têm que reivindicar a sua autoridade profissional e experiência, envolvendo-se com os media, mas deixa igualmente outro repto: “respondendo ao seu papel na sociedade, que é o de informar os cidadãos, os órgãos de comunicação social também devem diversificar as suas fontes para reflectir melhor os interesses e necessidades dos consumidores de notícias, aumentando o valor do seu conteúdo”.

CGI/PR