"Nenhum profissional de saúde está ou esteve preparado para lidar com uma situação destas"

  • 07-05-2020

Veja a participação de Ricardo Correia de Matos no Espaço Atualidade, do Jornal do Centro TV, sobre a situação actual da pandemia Covid-19 no nosso país:

 

 

Leia igualmente as principais declarações aqui:

 

"Nenhum profissional de saúde está ou esteve preparado para lidar com uma situação destas.

 

Portugal, fruto daquilo que são as debilidades do nosso Sistema Nacional de Saúde, nomeadamente o défice estrutural de recursos humanos, não conseguiu manter as equipas preparadas para lidarem com uma situação destas.

 

Apesar dos esforços do Governo em conter rapidamente as várias cadeias de transmissão do vírus, a nível institucional demorámos um pouco a definir os processos de contingência, quer os planos, quer os circuitos Covid e Não-Covid e, obviamente, que isto revelou-se bastante difícil de construir em pressão.

 

Acredito que durante muitos anos, os sucessivos agentes políticos não olharam para a Saúde como um factor construtivo, de desenvolvimento sócio-económico. 

 

A minha esperança reside nesta pandemia. Olho para esta situação também como uma oportunidade de nós melhorarmos os sistemas e finalmente termos equipas de trabalho integradas e por esta via conseguirmos criar uma onda de exigência da base, dos profissionais operacionais que estão no terreno, para conseguirmos mudar políticas.

 

O maior desafio é conseguirmos dotar as equipas com o número de enfermeiros suficiente para diminuirmos ao máximo o risco de contágio e o risco de criação de cadeias de contágio.

 

Não há EPI num número suficiente. Há um racionamento de máscaras, quer de fatos, quer de viseiras, quer de cobre-botas, quer de cógulas. Os nossos padrões de qualidade e recomendações às instituições é que, se efectivamente têm dificuldades no fornecimento deste tipo de equipamentos, têm que o tornar público.

 

Reconheço que a economia tem que reiniciar, mas também me parece irresponsável ouvir agentes políticos em cargos de decisão suavizar este retorno à normalidade.

 

Aquilo que tem que existir é uma responsabilização muito séria de toda a população neste combate ao Covid, agora que estamos a desconfinar. Portanto, o uso de máscara de protecção deveria ser obrigatório em todos os espaços públicos e comerciais, em todos!

 

Não deveria ser permitido, nesta fase, deambularmos por uma rua ou praia sem máscara. Deveria ser proibido por lei. Por uma questão de saúde pública, precisamos de regras muito rígidas naquilo que é o regresso à nossa vida normal. O Governo está a facilitar, deveria ter ido muito mais longe. 

 

A minha recomendação é que as pessoas usem mecanismos de protecção individual: máscaras. Usem mecanismos de etiqueta respiratória, nomeadamente nos períodos de tosse e da higiene das vias aéreas de forma correcta e a lavagem das mãos que é absolutamente fundamental. Estas três medidas deviam ser legisladas como obrigatórias durante os próximos meses. É um erro que o Governo está a colmatar neste momento em não legislar neste sentido",

 

Ricardo Correia de Matos, Presidente do Conselho Directivo da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros 

 

GCI/MA e PR