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09-01-2020
Directora de Enfermagem da OMS apela ao mundo para investir em Enfermagem
Em entrevista ao site Nursing Times, Elizabeth Iro afirmou que os próximos 12 meses representam uma grande oportunidade para quebrar as barreiras que impedem os enfermeiros em todos os cantos do mundo de trabalharem em todo o seu potencial.
A Directora de Enfermagem da Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que este ano também é uma oportunidade para pressionar uma acção política capaz de fazer frente à escassez mundial de enfermeiros, que, em 2030, se prevê atingir os nove milhões de profissionais.
O seu objectivo global é que os países reconheçam que “investir mais na mão-de-obra de enfermagem e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica” é a única forma de conseguir uma cobertura de saúde universal - em que todos têm acesso a serviços de saúde de qualidade, a preços acessíveis.
Iro revelou que, na própria OMS está a acontecer uma “transformação” que tem dado origem a um reconhecimento sem precedentes e há muito esperado pela contribuição e valor dos enfermeiros e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica.
Depois de sete anos de ausência deste cargo, em 2017, o Director-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, apoiante da Enfermagem, decidiu nomear Elizabeth Iro como Directora de Enfermagem da instituição.
A reactivação desta função já teve os seus resultados, com a OMS a dedicar o ano de 2020 aos enfermeiros e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica, coincidindo com o 200º aniversário do nascimento da pioneira da Enfermagem – Florence Nightingale.
Elizabeth Iro revelou que este ano seria usado pela OMS para celebrar os enfermeiros e as enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica e também para olhar para os principais desafios enfrentados por estes profissionais.
Uma das questões mais prementes em todo o mundo, e que deve ser o centro das atenções em 2020, é a crise desta força de trabalho.
Além de haver muito poucos enfermeiros em todo o mundo, Iro destaca que o trabalho realizado por estes profissionais é, actualmente, muito restrito, e que eles não conseguem aplicar e usar todas as capacidades para as quais foram treinados. A celebração deste ano é uma grande oportunidade para alterar este facto.
“Estamos muito conscientes de que, em alguns países, os enfermeiros e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica não utilizam todas as valências das suas habilitações”, referiu a responsável, acrescentando que “este é definitivamente o momento para destacar esta situação e utilizar melhor toda a prática e diversidade de funções e papéis que os profissionais de enfermagem e os enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica têm”.
Iro destacou que todos teríamos muito a ganhar ao capacitarmos os enfermeiros para trabalharem de acordo com todos os seus conhecimentos, o que iria contribuir para custos mais eficientes para os fornecedores de serviços de saúde, para o aumento da satisfação dos pacientes e para o facto de os enfermeiros estarem geralmente mais felizes com o trabalho que desempenhariam.
“Se todos os enfermeiros forem capacitados para exercer as suas funções de acordo com as suas habilitações, tendo recursos para tal, isso traz benefícios para os pacientes, para a comunidade e para os países”, disse Elizabeth Iro, uma enfermeira especialista em Saúde Materna e Obstétrica veterana.
Ao Nursing Times, Iro afirmou que também esperava que esta iniciativa pudesse ser usada para enfrentar questões mais amplas em torno da desigualdade de género, discriminação e estereótipos na enfermagem.
A própria Directora de Enfermagem da OMS enfrentou e derrubou barreiras ao ter sido a primeira enfermeira e a primeira mulher do seu país – as Ilhas Cook – a ocupar o cargo de Secretária da Saúde.
“Os profissionais de enfermagem e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica são predominantemente femininos, por isso é também uma oportunidade para abordar a igualdade de género no sector da saúde, bem como algumas das discriminações e preconceitos de género em relação à força de trabalho em Enfermagem”, assinalou a responsável.
Embora a profissão seja, numericamente, dominada pelas mulheres em todo o mundo, as evidências sugerem que os homens estão sobre representados nos cargos mais elevados (de chefia) em enfermagem, incluindo nos serviços nacionais de saúde.
No entanto, apesar de ser necessário combater esta desigualdade, Elizabeth Iro aproveitou para referir o potencial deste ano para impulsionar o recrutamento entre os homens.
Entre os objectivos da OMS para 2020 está o de realinhar a percepção pública da enfermagem como algo muito mais próximo da realidade, eliminando falsos conceitos sobre o que faz um enfermeiro, como é que ele é e em que contextos trabalha.
As bases para esta ambição já foram lançadas pela iniciativa Nursing Now - uma campanha de três anos, apoiada pela OMS, e dirigida pelo Conselho Internacional de Enfermeiros para melhorar a saúde a nível global, elevando o estatuto e o perfil dos enfermeiros. Uma campanha que deverá estar concluída no final de 2020.
Mas o marco fundamental para os próximos 12 meses será a compilação de um relatório da OMS sobre o Estado da Enfermagem no mundo, cuja publicação está prevista para 7 de Abril. Pela primeira vez, serão apresentados dados e informações sobre enfermagem, incluindo sobre a força de trabalho, ensino e regulamentos, discriminados por regiões e países.
Para Iro, esta análise ajudaria os líderes mundiais a compreenderem as questões comuns à enfermagem em todo o mundo e a identificarem que tipo de apoio os países podem necessitar e em que áreas.
Para os decisores políticos, o relatório seria importante para conseguirem estabelecer as suas próprias prioridades em investimentos futuros e como a OMS e os seus parceiros os poderiam ajudar nas suas concretizações.
Ao mostrar “como é realmente o mundo da Enfermagem”, Iro acredita que o relatório irá ser capaz de “dizer como é a enfermagem por país, por região e a nível mundial… e os países podem estabelecer as suas metas quanto ao que querem e quais as suas prioridades”.
Pretende-se que este relatório da OMS crie uma base que, de acordo com o previsto, poderá ser replicado, de cinco em cinco anos, para monitorizar o progresso da Enfermagem em todo o mundo.
Iro espera que a publicação actue como um catalisador para encorajar os líderes de cada país a continuarem a actualizar as suas próprias estatísticas e a fortalecer os seus processos de recolha de dados.
Seria uma oportunidade para partilhar as boas práticas de países com PIB per capita mais elevado, como o Reino Unido, onde a Enfermagem está mais avançada, contribuindo assim para elevar a profissão noutros países. Elizabeth Iro deu mesmo o exemplo do direito de prescrição que os enfermeiros têm em alguns países, enquanto noutros não.
“É isto que este ano vai destacar – algumas das boas práticas que existem e que podemos transferir para outros profissionais, noutros países”, assegurou Iro. A directora acrescentou que “há países onde os enfermeiros ainda não prescrevem, seria muito bom ver como eles podem ser apoiados em termos de regulamentação, da sua prática e educação para que tal aconteça, atendendo ao contexto em que trabalham”.
Embora o objectivo final seja evitar a escassez mundial de nove milhões de enfermeiros e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica, para Iro, o grande impulso deste ano seria assegurar que os profissionais fossem da mais alta qualidade na prestação de cuidados seguros e eficazes aos pacientes.
“Temos a oportunidade de destacar o facto de que não se trata apenas da quantidade e do número de enfermeiros que queremos, mas também da sua qualidade”, defendeu Iro. "Falamos em ensino de qualidade, termos as normas efectivas em vigor e condições de trabalho que permitam a um enfermeiro trabalhar e estar seguro no seu local de trabalho. Temos a possibilidade de mudar isso”, constatou Elizabeth.
Segundo Iro, apesar de o impacto total da iniciativa poder demorar alguns anos até ser reconhecido, para medir o sucesso desta iniciativa, alguns dos indicadores poderiam passar pelo aumento do número de profissionais licenciados, por mudanças em termos de regulamentação e pelo grande envolvimento de enfermeiros e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica na elaboração de políticas.
Em última análise, os que estão envolvidos no Ano Internacional do Enfermeiro e dos Enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica estão motivados pelo reconhecimento de que, sem enfermeiros e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica nos lugares certos, no momento certo, com as capacidades certas e nos números certos, a ambição de alcançar a cobertura universal da saúde nunca será alcançada.
A Directora de Enfermagem da OMS concluiu que “este ano, não se trata apenas de celebrar ou reconhecer o trabalho e as contribuições dos enfermeiros e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica até à data, para alcançarmos os objectivos de saúde e saúde para todos. É também um importante momento para fazer com que os investimentos prioritários dos nossos parceiros e governos incluam o aumento das dotações de enfermeiros e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica em todo o mundo”.
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GCI/MA e PR