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23-01-2020
Desafios de saúde urgentes para a próxima década
No início de um novo ano, e de uma nova década, Tedros Adhanom Ghebreyesus, Director-Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), apresentou uma lista de desafios de saúde, urgentes e globais.
A lista de 13 reptos foi desenvolvida com os contributos dos vários especialistas mundiais da OMS e reflectem uma “profunda preocupação perante o facto de os líderes não estarem a investir os recursos suficientes em prioridades e sistemas essenciais de saúde. Isto coloca vidas, meios de subsistência e economias em risco. Nenhuma dessas questões é simples de abordar, mas estão ao alcance de todos. A saúde pública é, em última análise, uma escolha política”.
O responsável manifesta ser crucial compreender que a “saúde é um investimento no futuro. Os países investem fortemente na protecção de seu povo contra ataques terroristas, mas não contra o ataque de um vírus, que poderia ser muito mais mortífero e muito mais prejudicial económica e socialmente. Uma pandemia pode colocar as economias e as nações de rastos. É por isso que a saúde e a sua segurança não pode ser um assunto exclusivo para os ministérios de saúde”.
“Todos os desafios desta lista exigem uma resposta, não só do sector da saúde. Enfrentamos ameaças partilhadas e temos a responsabilidade conjunta de agir. Com o prazo para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável de 2030 a aproximar-se rapidamente, a Assembleia Geral das Nações Unidas sublinhou que os próximos dez anos devem ser a "década de acção"".
Tedros Ghebreyesus acrescentou que tal significa defender um financiamento nacional para abordar as lacunas nos sistemas e infra-estruturas de saúde, bem como fornecer apoio aos países mais vulneráveis. “Investir agora vai salvar vidas - e dinheiro - mais tarde. O custo de não fazer nada é algo que não podemos pagar. Governos, comunidades e agências internacionais devem trabalhar juntos para alcançar esses objectivos críticos. Não há atalhos para um mundo mais saudável. 2030 está a aproximar-se rapidamente e devemos responsabilizar os nossos líderes pelos seus compromissos”, concluiu.
Consulte agora os 13 desafios de saúde (não são apresentados por ordem de prioridade, uma vez que todos eles são urgentes, e muitos deles estão interligados):
- Investir nas pessoas que defendem a nossa saúde
O desinvestimento crónico na formação e emprego dos profissionais de saúde, aliado à capacidade de assegurar salários dignos, levou à escassez de profissionais de saúde em todo o mundo. Tal compromete os serviços de saúde e de assistência social e a sustentabilidade dos sistemas de saúde. O mundo precisará de 18 milhões de profissionais de saúde adicionais até 2030, incluindo nove milhões de enfermeiros e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica, sobretudo em países com PIB per capita inferior e médio.
O que está a fazer a OMS?
Para desencadear acções e encorajar o investimento na formação, competências e empregos, a Assembleia Mundial da Saúde designou 2020 como o Ano da Enfermeira e Enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica. A OMS e os seus parceiros publicarão em Abril um relatório abrangente sobre o Estado da Enfermagem no Dia Mundial da Saúde. Estão a trabalhar para estimular novos investimentos para formar profissionais de saúde e pagar-lhes salários adequados.
- Elevar a saúde no debate climático
A crise climática é uma crise de saúde. A poluição do ar mata cerca de sete milhões de pessoas por ano, enquanto as mudanças climáticas causam eventos climáticos mais extremos, exacerbam a desnutrição e alimentam a propagação de doenças infecciosas, como a malária. As mesmas emissões que causam o aquecimento global são responsáveis por mais de um quarto das mortes por ataque cardíaco, derrame cerebral, cancro de pulmão e doenças respiratórias crónicas. Os líderes dos sectores público e privado devem trabalhar em conjunto para tornar o ar mais limpo e mitigar os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde.
O que está a fazer a OMS?
Em 2019, mais de 80 cidades em mais de 50 países comprometeram-se com as directrizes de qualidade do ar da OMS, tendo concordado no alinhamento das suas políticas climáticas e de poluição do ar. Este ano, a OMS trabalhará para desenvolver um conjunto de opções políticas para os governos, a fim de prevenir ou reduzir os riscos para a saúde causados pela poluição do ar.
- Proporcionar saúde em situações de crise e conflito
Em 2019, a maioria dos surtos de doenças que exigiam o nível mais elevado de resposta da OMS ocorreram em países com conflitos prolongados. Também assistimos à continuação de uma tendência perturbadora e que se prende qual o ataque a profissionais e instalações de saúde. No ano passado, a OMS registou 978 ataques a cuidados de saúde em 11 países, com 193 mortes. Ao mesmo tempo, os conflitos estão a forçar um número recorde de pessoas a saírem das suas casas, deixando dezenas de milhões de refugiados com pouco acesso a cuidados de saúde, por vezes durante anos.
O que está a fazer a OMS?
No ano passado, a OMS respondeu a 58 emergências em 50 países. Foram implementadas equipas médicas móveis, os sistemas de detecção e alerta de doenças foram melhorados, bem como foram realizadas campanhas de vacinação, distribuídos medicamentos e formados profissionais de saúde. A OMS está a trabalhar para salvar vidas e prevenir o sofrimento, em parceria com países e outros parceiros para fortalecer os sistemas de saúde, melhorar a preparação e expandir a disponibilidade de financiamento de contingência de longo prazo para emergências de saúde complexas.
Mas a saúde é apenas uma parte da equação. Em última análise, são necessárias soluções políticas para resolver os conflitos prolongados, deixar de negligenciar os sistemas de saúde mais frágeis e proteger os profissionais de saúde e os seus locais de trabalho contra ataques.
- Tornar os cuidados de saúde mais justos
As persistentes e crescentes lacunas socioeconómicas resultam em grandes discrepâncias na qualidade da saúde das pessoas. Há uma diferença de 18 anos na esperança média de vida entre países ricos e pobres, mas também um fosso acentuado dentro dos países e até mesmo dentro das cidades. Entretanto, o aumento global de doenças não transmissíveis, como o cancro, doenças respiratórias crónicas e diabetes, tem um peso desproporcionalmente grande nos países com PIB per capita baixo ou médio, o que leva à escassez de recursos nos lares mais pobres.
O que está a fazer a OMS?
A OMS está a trabalhar com os seus parceiros para melhorar os cuidados infantis e maternos, a nutrição, a igualdade de género, a saúde mental e o acesso a água e a saneamento adequados. Também prevê fornecer orientações sobre como os países podem reduzir a desigualdade nos cuidados de saúde, por exemplo, melhorando a governação e a gestão dos serviços de saúde públicos e privados.
Uma das melhores formas de reduzir as desigualdades é através dos cuidados de saúde primários, que respondem à maioria das necessidades de saúde de uma pessoa. A OMS apela a todos os países para que atribuam mais 1% do seu PIB aos cuidados de saúde primários, para dar a mais pessoas acesso aos serviços essenciais de qualidade de que necessitam, perto de casa.
- Aumentar o acesso aos medicamentos
Cerca de um terço das pessoas no mundo não tem acesso a medicamentos, vacinas, meios de diagnóstico e outros bens essenciais de saúde. O acesso reduzido a meios de saúde de qualidade ameaça a saúde e a vida, o que, tanto pôr em perigo os pacientes, quanto alimentar a resistência aos medicamentos. Os medicamentos e outros produtos de saúde são o segundo maior gasto para a maioria dos sistemas de saúde (depois dos seus profissionais).
O que está a fazer a OMS?
Este ano, a OMS vai focar-se mais nas áreas de combate aos produtos médicos falsificados e de qualidade inferior; no reforço da capacidade dos países com PIB per capita inferior para assegurar a qualidade dos produtos médicos ao longo da cadeia de abastecimento; e na melhoria do acesso ao diagnóstico e tratamento de doenças não transmissíveis, incluindo a diabetes.
- Travar as doenças infecciosas
As doenças infecciosas, como o VIH, tuberculose, hepatite, malária, doenças tropicais negligenciadas e infecções sexualmente transmissíveis matarão cerca de quatro milhões de pessoas em 2020, a maioria delas pobres. Paralelamente, as doenças evitáveis por vacinação continuam a matar, como o sarampo, que tirou 140 mil vidas em 2019, muitas delas crianças. Embora a poliomielite tenha sido quase erradicada, no ano passado houve 156 casos de poliomielite no ano passado, o maior número desde 2014.
As causas principais destes contágios estão ligadas a níveis insuficientes de financiamento e a sistemas de saúde pobres em países endémicos, juntamente com a falta de comprometimento dos países mais ricos.
O que está a fazer a OMS?
Há uma necessidade urgente de maior vontade política e maior financiamento para os serviços básicos de saúde; reforço da imunização; melhoria da qualidade e disponibilidade de dados para um melhor planeamento e mais esforços para mitigar os efeitos da resistência aos medicamentos. Há também a necessidade de investir em investigação e desenvolvimento de novos diagnósticos, medicamentos e vacinas. Juntamente com parceiros, a OMS está a lutar para acabar com a poliomielite o mais rápido possível.
- Prevenção de epidemias
Todos os anos, o mundo gasta mais na resposta a surtos de doenças, desastres naturais e outras emergências de saúde do que a preparar-se e a preveni-los. Uma pandemia de um novo vírus, altamente infeccioso, transmitido pelo ar - muito provavelmente uma estirpe de gripe - ao qual a maioria das pessoas não tem imunidade é inevitável. Não é uma questão de se outra pandemia irá atacar, mas quando, e quando atacar, se espalhará rapidamente, ameaçando potencialmente milhões de vidas. Entretanto, doenças transmitidas por vectores, como dengue, malária, Zika, Chikungunya e febre-amarela começam a espalhar-se, à medida que as populações de mosquitos se deslocam para novas áreas, alimentadas pelas mudanças climáticas.
O que está a fazer a OMS?
A OMS está a aconselhar os países sobre investimentos baseados em evidências para fortalecer os sistemas e as infra-estruturas de saúde para manter as populações seguras quando as emergências de saúde acontecerem.
- Proteger as pessoas de produtos perigosos
A falta de alimentos, alimentos perigosos e dietas pouco saudáveis são responsáveis por quase um terço da carga global de doenças da actualidade. A fome e a insegurança alimentar continuam a atormentar milhões de pessoas, com a escassez de alimentos perniciosamente explorada como arma de guerra. Simultaneamente, à medida que as pessoas consomem alimentos e bebidas ricos em açúcar, gorduras saturadas, transgénicos e sal, o excesso de peso, obesidade e doenças relacionadas com a alimentação aumentam em todo o mundo. Enquanto isso, o consumo de tabaco está a diminuir em alguns países, mas a aumentar na maioria deles, e as provas sobre os riscos para a saúde dos cigarros electrónicos também se elevam.
O que está a fazer a OMS?
Em sintonia com os países, a OMS está a tentar desenvolver políticas públicas baseadas em evidências, investimentos e reformas do sector privado para remodelar os sistemas alimentares e fornecer dietas saudáveis e sustentáveis. Em 2019, a indústria alimentar comprometeu-se a eliminar as gorduras transgénicas até 2023, mas é necessário mais. A OMS está focada em construir um compromisso político e capacidade para fortalecer a implementação de políticas de controlo do tabaco em vários países.
- Manter os adolescentes a salvo
Anualmente, morre mais de um milhão de adolescentes dos 10 aos 19 anos. As principais causas de morte nesta faixa etária são lesões na estrada, VIH, suicídio, infecções respiratórias e violência interpessoal. O uso nocivo de álcool, tabaco e drogas, a falta de actividade física, sexo desprotegido e a exposição prévia a maus-tratos a crianças aumentam os riscos de morte por estas causas.
O que está a fazer a OMS?
Em 2020, a OMS vai emitir novas orientações para os decisores políticos, profissionais de saúde e educadores. O documento, intitulado “Ajudar os Adolescentes a Crescer”, terá como objectivo promover a saúde mental dos adolescentes e prevenir o uso de drogas, álcool, automutilação e violência interpessoal, bem como fornecer aos jovens informações sobre a prevenção do VIH e outras infecções sexualmente transmissíveis, contracepção e cuidados durante a gravidez e o parto. A OMS continuará a trabalhar com os governos para melhorar os cuidados de emergência médica e traumas após lesões graves (por exemplo, devido a tiros e acidentes de trânsito).
- Ganhar a confiança pública
A confiança ajuda a moldar se os pacientes confiam nos serviços de saúde e seguem o conselho de um profissional de saúde - em torno de vacinações, tomando medicamentos ou usando preservativos. A saúde pública é comprometida pela disseminação descontrolada de desinformação nas redes sociais, bem como por uma erosão da confiança nas instituições públicas. O movimento anti vacinação tem sido um factor significativo no aumento de mortes em doenças evitáveis.
O que está a fazer a OMS?
A OMS está a trabalhar com países para reforçar os cuidados de saúde primários, para que as pessoas possam aceder facilmente a serviços eficazes e acessíveis, de pessoas que conhecem e em quem confiam, nas suas próprias comunidades. Está a ser feito um trabalho próximo com o Facebook, Pinterest e outras redes sociais para garantir que os utilizadores recebam informações fiáveis sobre vacinas e outras questões de saúde.
Construir uma alfabetização científica e educação para a saúde é vital. Também é necessário fazer uma auto-reflexão: os investigadores e a comunidade de saúde pública precisam ouvir melhor as comunidades que servem. Finalmente, temos de investir em melhores sistemas de informação de dados de saúde pública.
- Aproveitar as novas tecnologias
As novas tecnologias estão a revolucionar a nossa capacidade de prevenir, diagnosticar e tratar muitas doenças. A edição do genoma, a biologia sintética e as tecnologias digitais de saúde, como a inteligência artificial, podem resolver muitos problemas, mas também levantar novas questões e desafios para a monitorização e regulação. Sem uma compreensão mais profunda das implicações éticas e sociais das novas tecnologias, que incluem a capacidade de criar novos organismos, as pessoas a quem se destinam ajudar podem ser prejudicadas.
O que está a fazer a OMS?
Em 2019, a OMS criou novos comités consultivos para a edição do genoma humano e a saúde digital, reunindo os principais especialistas mundiais para analisar os testes realizados e fornecer orientações. A organização também está a trabalhar com os países para que estes possam planear, adoptar e beneficiar de novas ferramentas que forneçam soluções clínicas e de saúde pública, bem como regular melhor o seu desenvolvimento e uso.
- Proteger os medicamentos que nos protegem
A resistência antimicrobiana ameaça enviar a medicina moderna para a era pré-antibiótica, quando até mesmo as cirurgias de rotina eram perigosas. O aumento da resistência antimicrobiana decorre de uma miríade de factores que se uniram para criar uma poção aterradora, dos quais se incluem a prescrição e uso não regulado de antibióticos, falta de acesso a medicamentos de qualidade e a preços acessíveis, falta de água limpa, saneamento, higiene e prevenção e controlo de infecções.
O que está a fazer a OMS?
A OMS está a trabalhar com as autoridades nacionais e internacionais nos sectores ambiental, agrícola e animal para reduzir a ameaça da resistência antimicrobiana, abordando as suas causas, ao mesmo tempo que defende a investigação e desenvolvimento de novos antibióticos.
- Manter os cuidados de saúde higienizados
Cerca de um em cada quatro estabelecimentos de saúde a nível global carece de serviços básicos de água. Os serviços de água, saneamento e higiene são essenciais para um sistema de saúde funcional. A falta destes serviços básicos nas instalações de saúde leva a cuidados de má qualidade e a uma maior probabilidade de infecção para os doentes e profissionais de saúde. Tudo isto está a acontecer num cenário em que milhares de milhões de pessoas em todo o mundo vivem em comunidades sem água potável para beber ou serviços de saneamento adequados - ambos são os principais factores que levam à doença.
O que está a fazer a OMS?
Na actualidade, a OMS e os seus parceiros estão a trabalhar com 35 países com PIB per capita reduzido e/ou médio para melhorar as condições de água, saneamento e higiene das suas instituições de saúde. O objectivo global é que todos os países tenham incluído estes serviços nos seus planos, orçamentos e esforços de implementação até 2023, e espera-se que, até 2030, todas as instalações de cuidados de saúde a nível global tenham os serviços básicos água, saneamento e higiene nas suas instituições de saúde.
Consulte todos os desafios aqui.
GCI/MA e PR